ONG em Bruxelas tenta limitar poder do mercado financeiro
7 de junho de 2012De um pequeno escritório em Bruxelas, bem em frente ao Parlamento Europeu, os seis funcionários da organização independente Finance Watch mantêm um olhar bem crítico frente aos protagonistas do mercado financeiro. Eles refletem principalmente a respeito de medidas que obriguem os envolvidos nesses mercados – bancos, seguradoras, fundos de hedge – a voltar a cumprir suas funções originais, para as quais foram, de fato, criados.
Thierry Philipponat, secretário-geral da Finance Watch, observa de maneira habilidosa e sucinta: "Precisamos de bancos que tragam dinheiro à economia. Não precisamos de bancos que apostem em tudo o que se movimenta", diz ele.
Para atingir suas metas, a Finance Watch faz ela própria seu lobby, sugerindo como o mercado financeiro poderia ser mais bem controlado, pois bancos e seguradoras influenciam há décadas a política, tendo conseguido fazer com que seus negócios fossem cada vez menos regulados. O objetivo da Finance Watch, que iniciou suas atividades em Bruxelas em junho do ano passado, é ir contra esta tendência.
Equilíbrio de influências
Sven Giegold, deputado verde no Parlamento Europeu, onde é membro da comissão para questões econômicas e monetárias, é um dos fundadores da Finance Watch. Como vários de seus colegas parlamentares, ele estava cansado de ouvir apenas argumentos de um lado, toda vez que a comissão tratava de regular mais o mercado financeiro. A prática do lobby, em si, não é essencialmente condenável, diz Giegold à DW, mas ela precisa ser equilibrada entre os lados envolvidos. "A unilateralidade do lobby é que é o problema de fato", completa o deputado.
A ideia que está por trás da Finance Watch é criar uma organização independente, que não esteja ligada nem a instiuições financeiras, nem a partidos políticos. Na condição de Organização Não Governamental (ONG), ela sobrevive graças a doações. E é talvez, assinala Giegold, a primeira ONG "fundada por membros de diversos partidos no interior de um Parlamento", completa.
O jornalista e especialista em finanças Werner Rügemer elogia a ideia de que haja uma representação de interesses, independente e privada, no âmbito das políticas econômica e financeira. "O mais importante hoje é se tornar independente da indústria financeira e de sua influência sobre a política, especialmente em Bruxelas", diz Rügemer à DW.
Limitar a onipotência dos "global players"
Ele enxerga o trabalho da Finance Watch principalmente como um contraponto ao poder das instituições de crédito. A mera existência da organização, diz Rügemer, ajuda a limitar tanto o lobby da indústria financeira, quanto o próprio leque de ações da mesma.
Sven Giegold pode confirmar esta observação através da própria experiência com parlamentar. A Finance Watch apresentou uma proposta própria de regulação das agências de rating, na tentativa de "enfraquecer sistematicamente, na legislação que regulamenta o mercado financeiro, o poder das agências de rating". Além disso, a ONG sugeriu mecanismos de modificação das estruturas das bolsas de valores e apresentou um modelo de evitar a especulação com alimentos.
Moinhos europeus moem devagar
Pode-se dizer que a Finance Watch já é um sucesso, diz Werner Rügemer com uma ponta de ironia, ao salientar que a mera existência de uma ONG como essa já é um fato digno de nota.
Sven Giegold já sente os resultados disso em seu trabalho cotidiano. O deputado verde diz ter percebido "mudanças no clima em muitas de nossas audiências" depois da fundação da Finance Watch.
Agora, diz ele, são defendidas posições que não eram ouvidas anteriormente. Fora do Parlamento Europeu, quase ninguém até agora tomou conhecimento a respeito do trabalho da Finance Watch, pois em Bruxelas tudo corre muito devagar. Até que o Parlamento Europeu aprove uma lei, transcorrem em média dois anos.
De Bruxelas para as ruas da Europa
Werner Rügemer gostaria que fossem criadas mais organizações como a Finance Watch, que reunissem consultores financeiros independentes em todos os Parlamentos – não somente nas instâncias da UE em Bruxelas, mas em todos os 27 países-membros do bloco. O trabalho da ONG, de acordo com Rügemer, deveria dispor de uma base mais ampla e ser acompanhado e apoiado também por pessoas alheias aos Parlamentos, defende Rügemer. Segundo ele, as sugestões da Finance Watch só vão ser mais eficazes quando os governos dos países-membros encontrarem-se sob pressão.
O deputado Sven Giegold mantém uma posição mais cautelosa, embora ele também saiba que a discussão sobre a desregulação do mercado financeiro não possa ser levada a cabo somente no Parlamento. Afinal, este é um projeto que diz respeito à sociedade como um todo. E o sucesso da Finance Watch, assinala Giegold, "vai depender de como a opinião pública irá apoiar essa ideia", conclui.
Autor: Dirk Kaufmann (sv)
Revisão: Carlos Albuquerque