Opinião: Parabéns ao povo da Tunísia!
Entre os indicados para o Prêmio Nobel da Paz constavam tanto a chefe de governo alemã, Angela Merkel, quanto o papa Francisco e o ativista saudita encarcerado Raif Badawi. Em vez deles, mais uma vez o comitê Nobel surpreendeu, escolhendo um candidato com que praticamente ninguém contava: a distinção este ano cabe ao Quarteto para o Diálogo Nacional da Tunísia.
Trata-se de um reconhecimento pelos méritos do grupo em desenvolver uma democracia no país após a Revolução dos Jasmins da Tunísia – o único levante da assim chamada Primavera Árabe que não fracassou, desembocando no caos, guerra e mais opressão.
Por mais inesperada que seja, improvisada essa premiação não é. Pois quem está sendo reconhecido, de fato, não são apenas os ativistas dos direitos humanos, advogados, empregadores e sindicalistas que se reuniram nesse quarteto, contribuindo de forma exemplar para que, até agora, a Tunísia permaneça livre de guerras civis, distúrbios mais graves ou novas ditaduras – diferente de outros países árabes. O Nobel da Paz de 2015 também é um incentivo para todos aqueles que, mesmo se expondo a riscos pessoais, se engajam na democracia, na sociedade civil, no diálogo e na transformação pacífica da região.
Esses homenageados indiretos incluem tanto cidadãos de outras nações árabes e islâmicas, quanto – não menos importante – a sociedade tunisiana. De fato, até o momento, os habitantes do pequeno país do Magreb não deram chance a nenhum tipo de força extremista e totalitária – apesar dos repetidos atos terroristas e outras ameaças à segurança, e de uma situação econômica extremamente negativa.
Em vez disso, os tunisianos se dispuseram a um difícil diálogo, em que integram forças seculares e islâmicas. Desse modo, evitaram desdobramentos lamentáveis e dramáticos como na Síria, Líbia ou Egito. Esse é o único caminho possível, e também por isso: parabéns ao povo da Tunísia!
Por mais distintas que sejam as condições conjunturais nos países da região, a Tunísia permanece um exemplo e um modelo. E justamente por esse motivo, também está exposta a perigos. Nem jihadistas fanáticos nem ditadores seculares têm interesse em um exemplo bem sucedido da árdua síntese de democracia, islã, sociedade civil e estabilidade: isso poderia colocar em perigo o domínio desses déspotas.
A Tunísia também é frágil, contudo. Ela tem diversos problemas não resolvidos, é o país árabe de onde mais saem combatentes para a milícia terrorista do "Estado Islâmico". Por isso, o Prêmio Nobel da Paz também é um sinal para todo o mundo.
Sim, é importante manter o olhar sobre a Síria, o Iraque e outros focos de crise na região. E, da mesma forma, é importante se praticar uma gestão de crise ativa e conceder asilo aos refugiados.
Mas tão indispensável quanto isso é não deixar que se formem novos focos de crise e apoiar iniciativas pela paz e a democracia no mundo árabe. A Tunísia merece esse apoio. E a comunidade mundial deve estar disposta a arcar com os custos.