Não foi nenhum duelo. Não chegou nem mesmo a ser uma disputa acalorada. O chamado "duelo televisivo” que foi promovido pelas grandes redes alemãs, o quinto no total, foi o mais fraco desde a estreia do formato em 2002. Isso diz muito tanto da política alemã quanto da televisão do país.
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Angela Merkel contra – ou melhor, com – Martin Schulz. o debate televisivo com dois oponentes políticos – que são parceiros de coalizão no atual governo – e quatro jornalistas acabou sendo uma conversa sem público. E não foi só nos estúdios de TV em Adlershof, nas cercanias de Berlim.
A situação social da Alemanha, onde há tensão apesar da economia em crescimento, mal foram citadas. Ficaram de fora a situação difícil de muitas famílias e os desafios – e oportunidades – da digitalização e da globalização para a geração de empregos e o sistema educacional.
Em vez disso, falou-se muito e longamente sobre a entrada e integração de refugiados (uma discussão que mira o passado, 2015). Certamente que os políticos devem discutir a raiva que existe aqui e acolá, mas de novo o populismo atingiu o trabalho político cotidiano.
Apesar disso, alguns aspectos das relações internacionais foram dignos de nota. Em primeiro lugar, as políticas em relação à Turquia. Tanto a chefe da União Democrata-Cristã (CDU) quanto o chefe do Partido Social-Democrata (SPD) anunciaram uma mudança de curso: chega de negociações em relação a uma união aduaneira, chega de discussões sobre um ingresso da Turquia na União Europeia.
O SPD manteve a possibilidade de entrada em aberto por muito tempo, enquanto a CDU queria de alguma forma evitá-la. Agora, diante do autocrata de Ancara, que toma alemães como reféns, a política alemã para a Turquia está mudando significativamente.
Em segundo lugar, a escalada em curso com a Coreia do Norte, que pode levar a uma guerra ampla. Aqui Merkel pôde evocar com confiança sua experiência e falar de futuros telefonemas com Moscou, Pequim, Tóquio, Seul e Washington.
Terceiro: Merkel e Schulz acham ruim que a Copa de 2022 seja disputada no Catar. Dito de uma maneira tão cristalina que não é comum se ouvir. Será preciso lembrar-se disso quando os políticos viajarem para lá acompanhados de empresários.
Democracia e oposição
Se os 97 minutos deste debate mostraram algo, foi que a Alemanha não precisa mais de uma grande coalizão entre SPD e CDU. Por favor, chega. Esses dois partidos têm convivido na mesma casa por muito tempo. Eles já não se aguentam mais. Isso também ficou evidente nesta noite: ambos conhecem cada detalhe e defeito do outro. A democracia requer governos fortes, é certo. Mas também requer uma oposição forte. E um duelo sem oposição não leva ninguém a parte alguma. Isso ficou evidente mais uma vez.
Na Alemanha, desde 2005, um grande debate televisivo envolvendo os principais candidatos acontece apenas uma vez. Isso é bom, pois o sistema alemão é uma democracia parlamentar, não um sistema presidencial (Trump acabou chegando ao poder graças a numerosos debates televisivos). O sistema alemão se baseia no voto para partidos, e não em chefes de governo.
E das democracias parlamentares fazem parte o trabalho em torno do programa de governo e as negociações com a oposição. Mas, sob os olhares de milhões de telespectadores, houve pouco disso na noite deste domingo.