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WikiLeaks

29 de novembro de 2010

Wikileaks voltou a atacar. A plataforma divulgou centenas de milhares de documentos confidenciais da diplomacia estadunidense. Uma iniciativa apenas irresponsável, e que nada tem a ver com transparência, opina Marc Koch.

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Um vazamento – leak, em inglês – é um buraco num produto ou sistema, pelo qual algo escapa de forma indesejada: daí vem o nome WikiLeaks. Supostamente a serviço da transparência e da democracia, a plataforma de internet vem fazendo vazar documentos repetidamente. Desse modo, em casos isolados, revelaram-se graves infrações – como o ataque de um helicóptero norte-americano contra civis ou a tolerância das autoridades norte-americanas à tortura sistemática.

No entanto, na divulgação mais recente, o vazamento virou enchente. As consequências são avassaladoras, e a responsabilidade cabe exclusivamente ao WikiLeaks. Pois não há razão para tornar públicos mais de 250 mil relatórios de embaixadores dos EUA em todo o mundo dirigidos a seu governo em Washington. É estúpido e irresponsável divulgá-los, sob o pretexto de um grotesco fetiche de transparência.

Não só pelo fato de os documentos criarem tremendas confusões diplomáticas e exporem ao ridículo políticos ativos no mundo inteiro: isso logo será esquecido. Muito piores são as consequências para o trabalho de embaixadores e outros diplomatas.

Sempre fez parte do trabalho diplomático emitir avaliações sobre políticos e desdobramentos políticos e defender os interesses de seus governos. Para tal, eles necessitam de um contexto em que estejam protegidos, onde impere confiança e discrição.

O mais recente golpe do WikiLeaks destruiu a longo prazo essa proteção. A partir de agora, nenhum diplomata em todo o mundo poderá estar seguro de que suas conversas, notas ou relatórios confidenciais não serão, a qualquer momento, expostos à vista pública.

Naturalmente é correto jornalistas investigativos que trabalhem de forma responsável e limpa revelarem abusos, levarem a público escândalos políticos e mesmo infrações da lei. Eles recebem secretamente material mais ou menos confidencial, que podem verificar, estruturar e classificar.

A ação do WikiLeaks nada tem a ver com isso: ela substitui qualidade conscienciosa por quantidade sem sentido, ao disponibilizar a qualquer um centenas de milhares de documentos em estado cru. As consequências são previsíveis: citações serão retiradas do contexto e falsificadas ou reaparecerão em novas combinações para produzir manchetes. E o único que se beneficiará é o próprio WikiLeaks.

A divulgação não torna o mundo mais transparente, nem mais pacífico ou seguro. Tampouco veicula informações novas. Ela simplesmente serve para satisfazer a vaidade do fundador do WikiLeaks, Julian Assange. Fato este, aliás, que o porta-voz alemão da organização reconheceu há algumas semanas, agindo de forma consequente e abandonando o WikiLeaks.

Entretanto há um outro escândalo por trás desse. Se a operação do WikiLeaks serviu para alguma coisa, foi para mostrar que os Estados Unidos, ao que tudo indica, não estão em condições de garantir o sigilo na era digital – e isso também deverá ter consequências. No momento resta a constatação: um vazamento pode levar ao colapso total de um sistema, motivo pelo qual ele tem que ser fechado o mais rápido possível.

Autor: Marc Koch
Revisão: Simone Lopes