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Merkel em Israel

19 de março de 2008

Em sua visita a Israel, a premiê alemã, Angela Merkel, deveria ter feito críticas à atuação israelense nos territórios palestinos, em vez de se restringir a efervescentes declarações de amizade, opina Peter Philipp.

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Há muitos anos, Yohanan Meroz, que viria a ser embaixador israelense em Bonn, explicou que as relações bilaterais eram "muito boas, mas nada normais". Naquela época, os políticos alemães se esforçavam para ouvir dos israelenses a palavra "normal". No fundo, esperavam poder passar para as questões em pauta e deixar o passado em paz. Hoje já não se faz mais nenhuma tentativa nesse sentido, já não se briga mais por causa de um adjetivo. O que se pratica agora é o que parecia impensável e impossível até aos mais otimistas – não apenas há seis décadas, na época da fundação de Israel, mas durante muitos anos depois –: amizade e vínculo profundos.

A visita da chanceler federal [Angela Merkel] a Israel deu novo realce a essa caracterização das relações bilaterais. E ao mesmo tempo ressaltou o que Meroz já dizia na época: "normal" isso não é. Com o pano de fundo do extermínio sistemático dos judeus pelo nazismo, normalidade também é impensável.

Peter Philipp
Peter Philipp
Por isso também é bom, naturalmente, que as relações bilaterais se desenvolvam e melhorem. Mas ainda se poderia perguntar se, neste caso, não se fez demais pelo bem. Mesmo a inusitada introdução de encontros regulares entre os gabinetes de ambos os países não consegue disfarçar o fato de que a relação da Alemanha com Israel não pode ser vista isoladamente: Se antigamente Bonn tentou se esconder por trás de uma política européia para o Oriente Médio, algo que mal existia, faz tempo que Berlim se tornou um importante agente da política internacional. Inclusive no Oriente Médio. Então daria para questionar se seria o caso de celebrar a ligação com Israel através de uma ausência de crítica tão evidente, em vez de pronunciar abertamente – "com toda amizade" – as verdades já há muito aceitas em todo em mundo e até em amplos círculos em Israel. Por exemplo, teria sido oportuno dizer algumas palavras francas contra a linha dura na Faixa de Gaza, bem como contra a ampliação das colônias israelenses na Cisjordânia. Será que essa crítica seria inoportuna ao visitar Israel para parabenizar o país por seus 60 anos de existência? Talvez. Se a chanceler federal não tivesse viajado com a metade do governo para consultas políticas. Intercâmbio de jovens, cooperação científica, cultural e econômica certamente são coisas importantes. Quanto à cooperação militar, atualmente deveria haver mais cautela. Aquilo de que Israel, os palestinos e o Oriente Médio mais precisam é de paz. Incentivos à política que promove a paz e críticas a tudo que vá contra isso. E disso já há o bastante na região. (sm) Peter Philipp é chefe da equipe de correspondentes da Deutsche Welle e especialista em Oriente Médio.