Oposição venezuelana acusa polícia de roubar manifestantes
7 de junho de 2017Líderes da oposição venezuelana acusaram nesta terça-feira (06/06) forças de segurança do país de realizar roubar manifestantes que participam dos protestos contra o governo do presidente Nicolás Maduro. A polícia e a Guarda Nacional já vinham sendo fortemente criticadas pelo uso de gás lacrimogêneo e balas de borracha contra a população.
Dois vídeos divulgados em redes sociais nesta segunda-feira mostram policiais e soldados supostamente roubando alguns manifestantes, aumentando a revolta de muitos que denunciam o uso abusivo da força pelas autoridades durante os dois meses de protestos no país. Policiais teriam roubado itens pessoais de manifestantes e jornalistas, incluindo câmeras e sapatos.
Legisladores da oposição registraram uma queixa na Promotoria Pública da Venezuela contra a polícia e a Guarda Nacional. "[O ministro do Interior] Néstor Reverol lhes dá uma licença para roubar" acusou o parlamentar Juan Matheus, afirmado que a reclamação da oposição inclui acusações de tratamento cruel e desumano aos manifestantes.
Um dos vídeos traz imagens de policiais cercando uma mulher que aparentemente sofre os efeitos do gás lacrimogêneo, enquanto um policial parece remover um relógio de seu pulso. Outra filmagem mostra soldados removendo o capacete e uma bolsa de um manifestante antes de partirem em motocicletas.
Na sessão do Congresso desta terça-feira, que não contou com a presença dos governistas, os parlamentares da oposição denunciaram 16 ataques contra jornalistas apenas no início da semana, chegando a cerca de 300 durante os dois meses de protestos.
O jornalista Francisco Zambrano – que escreve para o portal de internet Runrun, de oposição ao governo – contou que foi impedido pelos policias de deixar um local onde havia uma nuvem de gás lacrimogêneo, afirmando que eles revistaram seus bolsos, esvaziaram sua bolsa e roubaram seu telefone celular.
"Células terroristas"
O governo afirma estar combatendo "células terroristas" que tentam derrubar Maduro, comparando os eventos atuais à tentativa de golpe em 2002, quando o então líder Hugo Chávez foi removido brevemente do pode. Segundo as autoridades, os manifestantes rotineiramente interrompem o trânsito e danificam bens públicos ao erguerem barricadas de destroços em chamas.
Ao ser questionado sobre um episódio em que uma câmera de televisão foi arremessada de uma rodovia por policiais, o ministro da Informação, Ernesto Villegas, disse que a Guarda Nacional está sendo injustamente responsabilizada por atos individuais, lembrando que os policiais também foram vítimas de agressões.
O ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino López, ordenou à Guarda Nacional que evite o uso excessivo da força ao tentar conter as manifestações. Ele disse que não quer ver mais nem um membro da corporação "cometendo atrocidades nas ruas".
Os dois meses de protestos já deixaram 65 mortos e milhares de feridos. O governo prepara para o fim de julho novas eleições para uma Assembleia Constituinte, que poderá resultar em mudanças profundas na Constituição do país.
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