Os países que dão exemplo no combate à covid-19 nas Américas
25 de maio de 2020Com cerca de 2,3 milhões de casos confirmados, as Américas registram atualmente o maior número de infecções pelo coronavírus Sars-Cov-2 entre os continentes do mundo. No entanto, os dados de três países chamam atenção em nível regional e, em parte, global. De acordo com seus respectivos ministérios da Saúde, na Costa Rica foram registrados 930 casos de covid-19 e 10 mortes; o Uruguai tem 22 mortes e um total de 769 casos; e as autoridades do Paraguai registram 862 infecções e 11 mortes.
Algo que os três países têm em comum é que seus governos agiram rapidamente, diz Carin Zissis, da organização Sociedade Americana/Conselho das Américas (AS/COA). A Costa Rica, por exemplo, foi o primeiro país da América Central em que foi registrado um caso de covid-19 e, apesar de sua forte dependência do setor de turismo, em poucos dias, o país fechou suas fronteiras e restringiu as viagens.
O Uruguai declarou emergência de saúde e fechou as escolas no mesmo dia em que os primeiros casos foram confirmados. "Dos três países, é também o país com a maior taxa de testagem", afirmou Zissis à DW. O Paraguai, por sua vez, aplicou medidas de quarentena após a confirmação do segundo caso de contágio.
No entanto, como não são os únicos países latino-americanos que reagiram rapidamente à pandemia, Zissis também destaca fatores locais, como o fato de os três países terem populações relativamente pequenas. "Na América Latina, vimos que grandes áreas metropolitanas, como São Paulo e Cidade do México, são os epicentros."
Brasil, uma ameaça regional
Guillermo Sequera, diretor-geral de Vigilância Sanitária do Paraguai, faz uma avaliação positiva da fase de suspensão gradual das medidas de confinamento. Em entrevista à DW, ele citou o autor Roa Bastos, que descreveu o Paraguai como uma "ilha cercada por terra" e explica que é um país "com movimento e conectividade relativamente baixos com as grandes cidades do mundo. A conectividade global do território define a velocidade com que a epidemia é instalada."
No entanto, a resposta bem-sucedida do governo paraguaio ao coronavírus pode ser afetada pela gestão de crises na região. Na opinião de Guillermo Sequera, "o problema agora é o Brasil. Acreditamos que a Argentina está adotando medidas de defesa interna que acabam ajudando a região e nosso país. O que acontece no Brasil definirá o ritmo da epidemia regional e de todas as medidas não farmacológicas que estão sendo implementadas."
Na última segunda-feira (18/05), o presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez, anunciou que, por serem os "focos mais vulneráveis", fronteiras e escolas serão os últimos a abrir. "Ainda não podemos abrir a fronteira enquanto houver disseminação significativa do vírus em nossos países irmãos e vizinhos", afirmou.
Luis Roberto Escoto, representante da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) no Paraguai, ressaltou que, nesse sentido, também é preocupante o número de cidadãos paraguaios que deseja retornar ao país. "Os esforços estão concentrados em organizar essas entradas de maneira mais fluida, ordenada, social e controlada do ponto de vista sanitário. A cooperação internacional também está apoiando o país a enfrentar esse grande desafio", disse o funcionário da Opas à DW.
Seu colega Giovanni Escalante Guzmán, representante da Opas no Uruguai, disse concordar que, em nível regional, o "principal desafio é a implementação de controle sanitário adequado e medidas preventivas frente à entrada de casos não diagnosticados na ampla fronteira que o país tem com o Brasil, principalmente em cidades binacionais como Rivera-Santana do Livramento e Chuí."
Uruguai, uma história de sucesso
Segundo o especialista, "o país mostra uma evolução epidemiológica que indica que a pandemia de covid-19 está contida". Enquanto a taxa de mortalidade nos EUA é de 6%, no Uruguai, ela permaneceu estável em torno de 2,7%.
Entre os principais fatores que contribuíram para conter a propagação do vírus no país sul-americano, Giovanni Escalante mencionou "o nível sustentado de investimento público em saúde há mais de 15 anos" e destacou que "o Uruguai tem uma vantagem comparativa sobre outros países por sua solidez institucional, uma tradição democrática e cívica com uma importante credibilidade relativa em seus líderes, uma forte presença do Estado em áreas como saúde, seguridade social, sistema educacional e capacidade reguladora do setor privado."
Escalante também destacou a "civilidade da população que acatou e cumpriu as medidas restritivas sem a necessidade de torná-las obrigatórias." Também no caso da Costa Rica, o sólido sistema de saúde foi um fator-chave na luta contra a pandemia. Com 79,6 anos, a Costa Rica registra a maior expectativa de vida na América Latina, aponta Evelyn Gaiser, representante da Fundação Konrad Adenauer no país centro-americano. O Fundo da Seguridade Social da Costa Rica (CCSS) possui hospitais em todo o país e mais de 50 mil funcionários, o que equivale a um empregado para cada 100 habitantes.
Na opinião da especialista, a resposta costa-riquenha também se destaca por sua "agilidade e espírito de inovação". Em estreita cooperação com instituições privadas, o governo apostou em especialistas na área de tecnologia médica. As soluções inovadoras variam desde o desenvolvimento de equipamentos de proteção usando impressoras 3D até a implantação de um hospital especializado em covid-19 em apenas 11 dias, disse Gaiser à DW.
As medidas de contenção do coronavírus relativas aos portadores, no entanto, foram fortemente criticadas. Depois de detectar 50 casos de coronavírus em funcionários de transportadoras estrangeiras desde 5 de maio, a Costa Rica decidiu restringir a entrada de motoristas do exterior, o que gerou desconforto no setor privado e nos governos da América Central, que exigiram que a medida fosse suspensa.
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