Os sons da Europa
16 de agosto de 2003À idéia original do festival (25/07—23/08) — divulgar a influência cultural trazida à Europa por imigrantes dos quatro cantos do mundo — foi acrescido um outro elemento. Desta vez, sob o lema Sounds of the City, os organizadores querem abordar o papel das grandes cidades como caldeirões culturais de um continente em vias de globalização.
Não se trata de um fenômeno novo. Há anos, bandas como a Asian Dub Foundation, que mistura drum'n'bass com música indiana em inglês com sotaque, chegam ao topo das paradas britânicas. Também com um pé na Europa e outro na África, o argelino Khaled estourou em 1996 nas rádios da Europa cantando em francês e em árabe o hit Aicha — atualmente de volta às paradas européias em versão pop do grupo dinamarquês Outlandish. Na Alemanha, foi a turca Sertab Erener, vencedora do festival Eurovision de 2003, quem conquistou os fãs de música pop, misturando ritmos turcos e dance music.
Música global vs. identidade local
Mas o festival quer mostrar um pouco mais as raízes desta cena: evidenciar o processo de formação de uma identidade local que se esconde por trás dessa nova geração de músicos de grandes centros urbanos globais. Em algum lugar entre a cena local e as grandes gravadoras, os convidados são artistas em certa medida renomados em seu país de origem, mas que ainda não alcançaram o sucesso europeu.
Eles vêm de cidades como Istambul, Marselha, Toulouse, Berlim, Barcelona, Madri, Budapeste e Londres, muitas vezes filhos de imigrantes que incorporam o som de suas origens à música urbana européia.
O show de abertura foi do alemão Patrice, filho de um congolês emigrado e representante alemão dos chamados migrating sounds (algo como sons migratórios). Também já subiram ao palco os espanhóis do Ojos de Brujo, de Barcelona, que mistura rumba, flamenco e batidas eletrônicas.
Na sexta-feira (15/08), foi a vez dos Fabulous Trobadors e do Massilia Sound System, ambos da cidade portuária francesa de Marselha, que mostraram sua combinação de dancehall/reggae e influências norte-africanas, com textos em occitano, idioma regional típico do sul da França.
Mas tanto no interior como no terraço da Casa das Culturas do Mundo, com vista para o parque Tiergarten, ainda há o que se ver e ouvir. No próximo final de semana, encerram a festa dois grupos húngaros: o Anima Sound System e sua miscelânea de sons do Leste Europeu com influências asiáticas e um toque internacional das batidas eletrônicas, e o Dubcity Fanatikz, que combina jazz, música tradicional húngara e vocais femininos. Na mesma noite, toca o Transglobal Underground, um projeto londrino que reúne artistas de estilos diversos e que já catapultou a carreira de cantores como Natacha Atlas, uma das grandes vozes da então chamada World Music — rótulo que o grupo prefere ignorar e que parece mesmo antiquado diante da proposta do popdeurope.