Conflito
19 de agosto de 2008O secretário-geral da Otan, Jaap de Hoop Scheffer, anunciou nesta terça-feira (19/08), após o encontro dos ministros do Exterior dos países da aliança militar em Bruxelas, a suspensão do encontro do Conselho Otan-Rússia. Segundo ele, o encontro será suspenso, "não importa em que esfera", enquanto a Rússia não tiver retirado suas tropas da Geórgia. Ao mesmo tempo, De Hoop Scheffer disse que a aliança militar não pretende abandonar totalmente o Conselho.
O governo russo reagiu com veemência à decisão da Otan. Segundo o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, a aliança militar conduz uma "política anti-russa" ao apoiar o "comportamento agressivo" por parte da Geórgia.
Reação de Moscou
Lavrov insinou que a Otan trata a Rússia "como uma criança que tem que ser disciplinada" e lamentou a decisão anunciada em Bruxelas por De Hoop Scheffer. "Mas também ouvimos as palavras do secretário-geral de que a porta para o diálogo deve continuar aberta", acrescentou Lavrov.
Segundo o ministro britânico do Exterior, David Milliband, a Otan pretende se posicionar de forma coesa perante a Rússia. "Há de se apoiar bastante a Geórgia, pois é importante defender a soberania e a independência desse país", observou Milliband.
O ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, por sua vez, defende uma continuidade do diálogo com a Rússia – país fornecedor de petróleo e gás para o abastecimento de vários países europeus. "Iremos nos entender a respeito do papel da Otan, que vejo como limitado na região. Iremos, com certeza, falar sobre as relações da Otan com a Rússia", disse o ministro.
A história se repete?
As ex-repúblicas soviéticas do Báltico, a Polônia e a República Tcheca pressionam a Otan em prol de medidas mais drásticas contra Moscou. Os governos desses países defendem que tanto a Geórgia quanto a Ucrânia deveriam passar, o mais cedo possível, a fazer parte da Otan.
Nos bastidores da aliança, os comentários eram de que, para tchecos e eslovacos, não deixa de ser um choque grande, nas vésperas dos 40 anos da Primavera de Praga (quando tropas do Pacto de Varsóvia derrubaram o movimento reformista na antiga Tchecoslováquia) ver tropas russas estacionadas na Geórgia.
Trégua e estabilidade
Para os países que defendem uma conduta mais moderada perante Moscou, as boas relações da Otan com o governo russo podem forçar o país a respeitar o acordo de trégua e retirar, como anunciado, as tropas da Geórgia.
"O que importa agora é, a partir do estado fragilíssimo atual, fazer com que a trégua na Geórgia se torne perene. Para isso, é necessário estabilizar a região, o que não será possível sem as duas partes envolvidas no conflito. Por isso pedimos, agora, à Rússia, que deixe pelo menos a região central da Geórgia", afirmou o ministro alemão Steinmeier.
Isso mostra que a inviolabilidade da soberania georgiana mencionada pela Otan não diz respeito às regiões da Abkázia e da Ossétia do Sul, onde as tropas russas irão evidentemente permanecer estacionadas.
Sem Guerra Fria
O ministro francês do Exterior, Bernard Kouchner, acentuou que "não estamos em tempos de Guerra Fria" e lembrou que o conflito na Geórgia deverá ser solucionado com base nas instituições políticas do mundo globalizado.
O embaixador da Rússia na Otan, Dimitri Rogosin, acusou por sua vez a Otan de ter feito também uso da violência na época de conflito nos Bálcãs. Segundo ele, Moscou irá redefinir as relações da Rússia com a Otan.
Observadores da OSCE
A Organização para Segurança e Cooperação Econômica (OSCE) aprovou nesta terça-feira, em Viena, o envio imediato de 20 observadores militares não armados às proximidades da Ossétia do Sul. Até agora, a OSCE mantinha nove observadores na região, que fazem parte de uma missão de 200 pessoas na Geórgia.
O ministro finlandês do Exterior e presidente da OSCE, Alexander Stubb, afirmou em Bruxelas que Moscou tinha, na última segunda-feira (17/08), dado sinal verde ao envio de até 30 observadores militares da OSCE "às regiões próximas à Ossétia do Sul".