Papa autoriza mulheres a assumir novas funções na Igreja
11 de janeiro de 2021O papa Francisco modificou o Código de Direito Canônico e autorizou nesta segunda-feira (11/01) a abertura dos ministérios do Leitorado e do Acolitado a mulheres leigas, o que significa que elas poderão fazer leituras, ajudar no altar durante as missas e distribuir a comunhão. Entretanto, elas ainda estão proibidas de se tornarem sacerdotisas.
No motu proprio (documento pontifício), o papa autorizou a revisão de um documento de São Paulo 6º de 1972, que só permitia aos homens receber os dois ministérios. O leitor é o encarregado da leitura da "palavra de Deus" nas cerimônias eclesiásticas, enquanto o acólito auxilia o diácono e o sacerdote no altar e também pode distribuir a comunhão, entre outras funções.
Dessa forma, o papa oficializou algo que já acontecia na prática em muitas partes do mundo. Embora as mulheres já desempenhem esses ministérios em lugares onde faltam padres ou sacerdotes, a institucionalização dessa prática foi aprovada no Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, em outubro de 2019.
"Por esses motivos, me pareceu oportuno estabelecer que podem ser leitores ou acólitos não apenas homens, mas também mulheres, as quais, através do discernimento dos pastores e depois de uma preparação adequada, a Igreja reconhece a firme vontade de servir fielmente a Deus e à comunidade cristã", escreveu Francisco em carta ao prefeito da Congregação da Fé, o espanhol Luis Ladaria.
A partir de agora, o primeiro parágrafo do cânone 230 do Código de Direito Canônico passará a ter uma nova redação, sem a especificação "do sexo masculino". "Os leigos que tenham a idade e as aptidões determinadas por decreto da Conferência Episcopal, podem ser empregados de forma permanente, através do rito litúrgico estabelecido, nos ministérios dos leitores e acólitos", afirma o novo texto.
Proibição do acesso ao sacerdócio
Em nota, o Vaticano explicou que esta possibilidade não é novidade em muitas comunidades ao redor do mundo, mas passa a partir de agora a ser uma prática autorizada pelos bispos.
"Até hoje, porém, tudo isso se fazia sem um verdadeiro mandato institucional, a despeito do que foi estabelecido por São Paulo 6º, que em 1972, embora abolindo as chamadas 'ordens menores', decidiu manter o acesso restrito a esses ministérios para os homens só porque qualquer acesso à ordem sagrada os considerava preparatórios", apontou o Vaticano.
O papa, entretanto, especificou que "com relação aos ministérios ordenados, a Igreja de forma alguma tem o poder de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres".
"Armadilha dupla"
Embora o pontífice tenha estabelecido uma comissão para estudar qual era o papel das chamadas diaconisas, ou se elas já existiam nos primeiros anos do cristianismo, a questão da ordenação sacerdotal das mulheres acabou descartada.
Defensores da ampliação do papel das diaconisas afirmam que a formalização de suas funções na Igreja dará mais voz às mulheres dentro da instituição, além de ajudar a lidar com a falta de padres em várias partes do mundo.
Críticos, por sua vez, dizem que isso abriria um precedente perigoso em direção a uma ordenação das mulheres como sacerdotisas no futuro.
Lucetta Scaraffia, ex-editora da revista para mulheres do Vaticano, considera as mudanças anunciadas nesta segunda-feira uma "armadilha dupla" para as mulheres na Igreja. Ela diz que, enquanto é uma mera formalização de uma prática já existente, a decisão também deixa claro que o diaconato é um ministério reservado para homens. "Isso fecha as portas para as mulheres", avalia.
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