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Peaches: uma mulher e uma máquina

Rodrigo Rimon18 de julho de 2006

A cantora e performer canadense Peaches promete muita sujeira na pista: no terceiro álbum 'Impeach my Bush', ela redefine seu potencial político sem perder a vulgaridade que lhe serve de arma contra a opressão sexual.

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Capa do novo álbum 'Impeach My Bush'Foto: presse

A canadense Merrill Nisker acaba de lançar seu terceiro álbum. O que, na verdade, não seria notícia para uma coluna especializada em música alemã, não fosse o fato de Peaches, como é conhecida na cena musical, viver há intensos seis anos em Berlim.

Ela já foi professora em uma escola no Canadá antes de se mudar para a capital alemã e começar a fazer música. Não demorou para que fosse descoberta pelo selo berlinense Kitty-Yo, um dos alicerces da cena alternativa alemã. Ela queria, na verdade, era ser diretora de teatro – o que ninguém duvida ao assistir a um de seus shows, que são incríveis performances.

Hoje aos 39 anos, Peaches é uma absoluta self-made woman. Ela mesma compõe suas músicas e escreve as letras, embora muitas poderiam ser apenas diálogos de filmes pornôs. No palco, vale o lema "one woman, one machine": só ela e sua groovebox, em íntima proximidade ao público: afinal, nem toda cantora depila a perna e as axilas diante da platéia. Ser fã de Peaches tem lá suas vantagens...ou desvantagens!

Teaches of peaches Peaches CD-Cover
Na capa do primeiro álbum, só o essencial...

Seu álbum de estréia, The Teaches of Peaches (2000), em cuja capa vê-se apenas sua calcinha de látex rosa, foi uma revelação na cena alternativa berlinense e logo chamou a atenção de gente da altura de Madonna, por exemplo, que (reza a lenda) até faz ginástica ouvindo Peaches.

Suas primeiras composições eram radicalmente minimalistas: batidas eletrônicas simples servindo de suporte para uma guitarra rítmica com tom de protesto e versos rimados e repetidos à exaustão. Uma mistura explosiva de eletropunk, rock e um pouquinho de funk.

Vulgaridade como arma

Peaches fala invariavelmente de sexo. Mas todo mundo fala de sexo: rappers americanos falam de sexo, tablóides de direita falam de sexo, revistas pornográficas e apresentadores de tevê também. Mas ela não fala como eles. Ela vira o sexo de cabeça para baixo, inverte os papéis e questiona o tanto de autoridade que a sexualidade traz implícita.

Peaches spielen im London Astoria
Capacidade máxima no London Astoria em 2004Foto: picture-alliance/ dpa

Para o jornal Die Tageszeitung (Taz), Peaches "recapitula todos os clichês sexuais, sem desmascará-los, mas virando do avesso as relações entre os sexos. Suas performances ­­– com dildos e aparatos sexuais, biquinis indiscretos e muita pele nua, sangue artificial e suor de verdade – expõem a imagem dos voyeurs sem assustá-los.

Como uma tela de projeções, Peaches reflete fantasias tanto masculinas como femininas. Seu mérito foi reconciliar os gêneros em sua pessoa e encontrar o equilíbrio entre seus medos e vontades, entre arte e caricatura. Justamente uma bissexual veio cumprir a promessa do rock'n'roll".

Na capa do segundo álbum, Fatherfucker (2004), para o qual gravou um dueto com Iggy Pop ("Kick It"), Peaches aparece com uma sugestiva barba falsa. Em um outro videoclipe filmado em um banheiro masculino, Peaches vai ficando mais e mais peluda enquanto dança entre mictórios.

Neste disco, ela abusou das guitarras e do vocal gritado, soando às vezes como uma mistura de Gretchen e AC/DC. Até dançarinas a acompanharam na turnê, que acabou virando show de abertura de Marilyn Manson nos países de língua alemã.

Sex sells...nem sempre

Fatherfucker Peaches CD-Cover
O retorno da mulher barbada

Mas também sexo pode ser entediante, e Peaches sabe disso. Para o terceiro álbum, Impeach My Bush (2206), ela reformulou o potencial político que sua música sempre embutiu e definiu mais claramente sua mensagem. Embora do encontro de cúpula do G8 ela só guarde o G, aqui ela foi direto ao Ponto: "I´d rather f*** who I want than kill who I'm told to".

A música também amadureceu. Pela primeira vez, Peaches gravou com instrumentos tradicionais e ousou até trocar o ambiente cru que marcava suas produções anteriores por um estúdio em Los Angeles onde se trancou por dois meses e meio.

Quem veio para ajudar foi Mickey Petralia, produtor do Beck, e convidados ilustres como Josh Homme, do Queens of the Stone Age, e Samantha Maloney, ex-baterista do Hole. Até sua ídolo Joan Jett contribuiu com um dueto. Para a próxima turnê, ela promete se apresentar com uma banda.