Petrobras quer vender combustíveis na Europa
10 de novembro de 2006A auto-suficiência brasileira no abastecimento de petróleo, alcançada em abril deste ano, aumentou a confiança da Petrobras em sua atuação no mercado internacional. "Estamos ampliando nossas atividades nos Estados Unidos e queremos entrar na distribuição de combustíveis na Europa", anunciou o diretor da área internacional da estatal, Nestor Cerveró, em entrevista à DW-WORLD.
Segundo o executivo, a idéia é tornar a empresa brasileira conhecida do consumidor europeu e aprofundar seu processo de internacionalização. "Todas as grandes companhias petrolíferas do mundo se tornaram conhecidas por sua presença nos postos de combustíveis", argumentou.
Cerveró disse que a Petrobras está sondando diversos países para entrar no mercado europeu. Além de derivados de petróleo, os postos da empresa poderiam oferecer também o etanol, que o Brasil tenta há anos vender à União Européia. "Existem conversações do governo brasileiro com a Alemanha e a Suécia, mas ainda não há venda de etanol em grande volume para a Europa", disse.
Atuação européia
Atualmente, a área de negócios internacionais da Petrobras atua em 23 países e quatro continentes. Na Europa, por enquanto, a companhia está presente através da Petrobras Netherlands B.V. (PNBV), subsidiária aberta em Amsterdã em 2001, e da representação comercial e financeira Petrobras Europe Limited (PEL), em Londres.
A PNBV apóia a Petrobras em operações de compra, venda, leasing, aluguel e afretamento de equipamentos de exploração e produção de óleo e gás dentro do programa Repetro. Ela opera também com o afretamento de plataformas de produção/exploração e navios petroleiros da estatal brasileira.
Parceria com Gazprom
No começo deste ano, a Petrobras fechou um acordo de cooperação com a Gazprom russa, maior empresa do mercado mundial de gás, que poderá se transformar numa porta de entrada no continente europeu. "Os russos demonstram interesse na construção de gasodutos no Brasil. O memorando de cooperação inclui também um convite à Petrobras para atuar na Rússia", disse Cerveró.
O diretor do departamento internacional da Gazprom, Stanislav Zygankov, declarou na época à agência de notícias RIA-Novosti que a estatal russa pretende participar da construção do gasoduto que interligará Venezuela, Brasil, Bolívia e Argentina. Em contrapartida, a Gazprom poderia aproveitar a experiência brasileira na extração de petróleo de águas profundas.
Segundo Cerveró, os contatos entre as duas empresas continuam, mas ainda não foram aprovados projetos concretos. Entre as áreas de interesses comuns, a Petrobras vê a projeção, a construção e a operação de sistemas de controle integrado de gasodutos de longa distância e a estocagem subterrânea de gás natural, áreas em que a Gazprom tem vasta experiência.
Cerveró descartou a possibilidade de que a companhia russa possa se transformar numa concorrente da Petrobras na América Latina. "Será uma parceria, como a que já temos com a estatal Corporação Nacional de Petróleo da China", disse.
Prioridade para América Latina e EUA
De acordo com estimativas da própria Petrobras, em 2011, cerca de 1 milhão dos 2,8 milhões de barris de petróleo que a empresa produzirá por dia serão comercializados fora do Brasil, gerando (a preços atuais) um faturamento diário de 60 milhões de dólares. Hoje, a estatal produz aproximadamente 270 mil barris/dia fora do país.
Apesar do acordo com a Gazprom e dos planos para distribuir combustíveis na Europa, a Petrobras não esconde que prioriza a América Latina e os EUA em seus investimentos internacionais. Dos US$ 12,1 bilhões que a estatal planeja investir fora do Brasil até 2011, US$ 2,8 bilhões destinam-se ao Cone Sul e US$ 2,74 bilhões aos EUA.
Até 2015, ela pretende ser a provedora de energia líder na América Latina. A empresa aposta no processo de integração energética regional a partir do gás da Bolívia que, segundo Cerveró, apesar dos recentes atritos com o governo de Evo Morales, "ainda é a melhor opção para o Brasil neste setor".
O primeiro passo para vender mais derivados de petróleo no exterior foi a compra, por US$ 360 milhões, em setembro passado, de 50% da refinaria de Pasadena (Texas, EUA), pertencente à Astra Oil Company, subsidiária do grupo belga Compagnie Nationale a Portefeuille. A intenção da Petrobras é dobrar até 2010 a capacidade atual da refinaria (de 100 mil barris por dia) e adaptá-la para transformar óleo pesado da Bacia de Campos em derivados de alta qualidade adequados às normas ambientais dos EUA.