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Polônia quer escudo antimísseis

Dennis Stute (gh)19 de novembro de 2005

Parte do sistema norte-americano de defesa antimísseis pode ser estacionado na Polônia. Projeto irrita governo russo e tem utilidade estratégica questionável para a União Européia.

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Míssil antiaéreo a caminho de seu alvoFoto: dpa

A Polônia planeja instalar um escudo antimísseis na fronteira leste da União Européia. O projeto está previsto no programa do atual governo nacionalista-conservador e seria uma contribuição ao sistema de defesa estratégica dos Estados Unidos.

Segundo informações divulgadas esta semana, o Pentágono já estaria travando, desde 2002, negociações secretas com o governo polonês para a instalação de tais bases militares no país. Outros países do Leste Europeu também teriam sido contatados, mas a Polônia seria o candidato mais provável.

Medo difuso da Rússia

Kazimierz Marcinkiewicz Ministerpräsident Regierungsbildung in Polen
Kazimierz: medo difuso da Rússia ou submissão aos EUA?Foto: AP

Segundo Maria Wagrowska, do Centro para Relações Internacionais de Varsóvia, o interesse polonês no escudo antimísseis tem dois motivos: primeiro, o país quer mostrar que é um aliado fiel dos EUA; segundo, a Polônia não está ameaçada, mas tem um medo difuso, sobretudo, da Rússia.

"Nos anos em que lutou pelo ingresso na Otan, a Polônia percebeu que tudo depende dos EUA na aliança militar", diz Wagrowska. A Rússia só aceitou a filiação sob a condição de que a infra-estrutura da Otan não se estenda ao território polonês. "Agora possivelmente uma parte da estrutura de defesa do Ocidente será estacionada nas fronteiras da ex-União Soviética", prevê.

A Rússia rejeita veementemente os planos do escudo antimísseis, defendidos pelos EUA. "Isso tem mais a ver com o orgulho ferido de uma ex-potência do que com o peso estratégico do sistema", avalia Dieter Ruloff, do Centro de Estudos Internacionais, de Zurique.

Segundo Ruloff, destruir mísseis balísticos no espaço ainda é uma questão de sorte. "Não há como oferecer uma proteção total contra esse tipo de armamento", diz. Os EUA mencionam países como a Coréia do Norte ou o Irã, potenciais detentores de armas atômicas, para justificar seu mais caro projeto armamentista, com custos de nove bilhões de dólares por ano. "A questão é se isso pode desestabilizar o esquema de intimidação usado até agora", diz Ruloff.

Possíveis intervenções

A atual situação estratégica difere muito dos tempos da Guerra Fria, ressalta Oliver Thränert, da Fundação Ciência e Política, de Berlim. "Não podemos mais agir na base do 'quem dispara primeiro é o segundo a morrer'. A principal função do sistema de defesa é manter as possibilidades de intervenção", explica.

"Vamos supor que, em 2020, o Irã disponha de armas nucleares capazes de atingir Berlim e decide ocupar o sul do Iraque. Daí ficaria difícil para os europeus apoiarem uma intervenção, como ocorreu na Guerra do Golfo, em 1991. O argumento de que um ataque nuclear à Europa seria improvável dificilmente convenceria a população a apoiar tal intervenção", argumenta.

Segundo Thränert, esse dilema também não será resolvido pelo escudo antimísseis. Além disso, diante dos enormes custos envolvidos e da pouca probabilidade de um ataque nuclear à Europa, a aquisição desse sistema não tem prioridade, diz.

Pressionado por ministros e ex-generais, que temem desde represálias russas até ataques terroristas ao escudo, o primeiro ministro polonês, Kazimirez Marcinkiewicz, pisou no freio. "Não tomamos nenhuma decisão. O governo ainda precisa analisar a questão", disse.