Debate
7 de maio de 2008O ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, afirma que só conhece através da mídia o documento da União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU), que sugere a criação de um Conselho Nacional de Segurança no país. As intenções dos partidos conservadores, segundo o ministro, são, contudo, claras: cercear o leque de ação do Ministério do Exterior, reduzindo a autonomia do mesmo.
"Sei que a tradição consciente de uma política externa civil é uma pedra no sapato de muita gente. O objetivo primordial dessas pessoas é mudar isso. Na minha opinião, sinceramente, não vejo essas modificações como um caminho rumo ao futuro, mas como um retrocesso", declarou Steinmeier em Berlim.
Mirando-se no exemplo norte-americano
Hoje, o Ministério das Relações Exteriores é responsável por questões de política de segurança. De acordo com o documento redigido pela bancada democrata-cristã, esses poderes seriam repassados a um grêmio ligado diretamente ao chefe de governo, cujas ações iriam se guiar, acredita Steinmeier, pelos modelos de pensamento clássicos da política de segurança.
Nos EUA, por exemplo, o Conselho Nacional de Segurança abortou, em 2003, toda e qualquer resistência à Guerra do Iraque, lembra o ministro alemão, para quem a proposta democrata-cristã é conseqüência do sonho de muitos estrategistas, interessados em importar elementos do sistema presidencialista dos EUA ou da França para o país.
Militarização
Nos bastidores do Partido Social Democrata (SPD), que compõe a coligação de governo com a CDU/CSU, as intenções dos democrata-cristãos com a sugestão seriam as de fortalecer ainda mais os poderes do chanceler federal (cargo atualmente ocupado pela democrata-cristã Angela Merkel). Políticos social-democratas vêem aí até mesmo o risco de uma "militarização da política externa".
O documento intitulado Esboço de uma Estratégia de Segurança para a Alemanha explicita o confronto entre os dois grandes partidos que formam a coalizão de governo no país. Os social-democratas rejeitam não somente a criação do Conselho, como também a atuação do Exército dentro do país e a construção de escudo antimísseis na Europa, tópicos também sugeridos no documento.
Debate atual
"Sabemos que, neste momento político, não temos chance de implementar nossa proposta, mas precisamos de uma discussão aberta sobre o tema, que coloque a questão da segurança como um todo e não apenas sob determinados aspectos. Com o debate atual, isso já está acontecendo", diz Andreas Schickenhoff, um dos autores do documento apresentado pelos democrata-cristãos.
A mesma posição é defendida pelo ministro alemão do Interior, Wolfgang Schäuble, que alerta para a necessidade de "novas estruturas", a fim de que se possa reagir a tempo "às mudanças e ameaças globais".
Segundo Schickenhoff, a intenção da CDU é apenas atrelar questões de segurança interna e externa, para que o governo possa garantir uma reação rápida e adequada em caso de necessidade. Premissas das quais políticos de outros partidos duvidam.