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Ponto para o Catar na crise no Golfo

6 de julho de 2017

Após encontro no Cairo, aliança anti-Catar liderada pela Arábia Saudita mostra-se bastante cautelosa quanto a novas sanções contra o emirado. Jogo de interesses envolvendo EUA e Turquia, entre outros, favorece Doha.

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Ministros do Exterior dos países da coalizão anti-Catar no Cairo
Ministros do Exterior dos países da coalizão anti-Catar se encontraram no CairoFoto: Getty Images/AFP/K. Elfiqi

No Cairo, o tom foi reservado: a "resposta negativa" do Catar foi lamentável, declararam os representantes de Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos e Egito, que há cerca de um mês se aliaram contra o pequeno emirado na região do Golfo Pérsico. O Catar mostrou "uma falta de compreensão" da gravidade da situação, disse o ministro do Exterior egípcio, Sameh Choukri, explicando que, portanto, o boicote imposto ao país permanece em vigor.

No entanto, os ministros do Exterior dos quatro países dispensaram novas sanções. Talvez estivessem esperando que o Catar cedesse diante da pressão do bloqueio. Mas essa expectativa já havia sido frustrada pelo ministro do Exterior catariano, Mohammed ben Abderrahmane al-Thani, antes do encontro da coalizão no Cairo.

Leia mais: Por que o pequeno Catar incomoda tanto?

Thani afirmou que uma coisa não se deve esperar de seu país: que ele desista de sua soberania para que o bloqueio imposto pelos Estados vizinhos seja suspenso. Esse boicote é "uma agressão clara e um insulto a todos os tratados, instituições e acordos legais internacionais", afirmou.

O ministro do Exterior catariano disse ainda que as sanções contra o seu país têm principalmente um objetivo: "Elas foram iniciadas para criar uma hostilidade no Ocidente em relação ao Catar."

Ao mesmo tempo, tons conciliadores partiram do próprio Catar. "Não há crise que não se possa resolver", escreveu o jornal publicado em Doha Al Watan, agradecendo ainda ao Kuwait por seus esforços de mediação.

Esse tom conciliador, no entanto, ainda não chegou aos jornais sauditas. "O que os líderes do Catar têm feito para acolher, apoiar e financiar grupos e organizações extremistas e terroristas, dentro e fora do país, nos obriga a acreditar que mercenários e terroristas são mais importantes para o Estado do que o honroso povo catariano", publicou o jornal Al Riyadh.

Catar e seus aliados

Apesar de tal retórica, a coligação se esquivou de endurecer ainda mais seu curso anti-Catar. De qualquer forma, teria sido difícil impor sanções ainda mais rígidas contra o país, já que o pequeno emirado é um parceiro importante dos EUA. Na base área americana Al Udeid, a sudoeste de Doha, estão estacionados 10 mil soldados americanos.

Recentemente, os Emirados Árabes Unidos ofereceram uma base em seu território para os EUA – provavelmente também com a ideia de cortar os laços entre Doha e Washington. No entanto, considera-se improvável que os Estados Unidos aceitem essa proposta. O fato de os EUA terem, na Península Arábica, aliados concorrentes – de um lado o Catar, do outro, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos – fortalece a posição americana.

Os parceiros da coalizão anti-Catar deveriam também estar cientes de que a sua própria aliança é bastante frágil. Apenas em outubro passado, a Arábia Saudita suspendeu temporariamente as exportações de petróleo para o Egito, porque Cairo havia votado duas vezes junto à Rússia no Conselho de Segurança da ONU a favor do regime do presidente sírio, Bashar al-Assad.

Já há algum tempo, os egípcios vêm se esforçando para estabelecer novamente uma boa relação com Moscou, que, por sua vez, voltou a se estabelecer como um influente ator na região, por meio do conflito na Síria e da interação com o Irã.

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Os pontos fracos da coalizão

Isso não impede, no entanto, o presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, de manter um bom, se não amigável relacionamento com o presidente americano, Donald Trump. Pouco antes do início do encontro no Cairo, os dois conversaram pelo telefone.

"Os dois presidentes estão completamente de acordo sobre como lidar com as crises atuais, principalmente tendo em vista acordos que contribuam para a segurança e a estabilidade na região", resumiu posteriormente o presidente egípcio a sua conversa com o colega de pasta americano. Isso pode indicar um entendimento – mas não que Trump apoiaria explicitamente um posicionamento rígido frente ao Catar.

Riad não está nada contente com a estreita cooperação entre Egito e Teerã, arqui-inimigo dos sauditas. Do outro lado, também não agradam aos egípcios as relações entre a Arábia Saudita e a Etiópia. Devido ao uso do rio Nilo, pequenas tensões surgem regularmente entre Addis Abeba e o Cairo.

As crescentes tensões com o Catar podem prejudicar sobretudo a relação dos países da coalizão com a Turquia. Entre outros pontos, Ancara compartilha com Doha certa proximidade com a Irmandade Muçulmana, vista pela Arábia Saudita e seus aliados como uma organização terrorista.

Os interesses da Turquia

Ao mesmo tempo, a relação da Turquia com o Catar também tem motivação econômica. Ancara está tentando convencer empresários catarianos a fazer novos investimentos na Turquia. E empresas turcas se esforçam para conseguir encomendas do Catar. Além disso, o pequeno emirado estar sendo cortejado como comprador de armas turcas.

A Turquia tem conduzido um jogo arriscado com sua política, já que tem apostado muito numa carta só. Tendo em vista os pronunciamentos moderados vindos do Cairo, parece que Ancara fez a coisa certa. O Catar ganhou um aliado próximo e, aparentemente, confiável.

O emirado, por sua vez, declarou não querer se tornar um "segundo Bahrein" – em alusão ao curso de política interna e externa do pequeno reino, que, do ponto de vista catariano, é demasiadamente subordinado à Arábia Saudita. Mais uma vez, o Catar fez valer essa pretensão para si mesmo.

Kersten Knipp
Kersten Knipp Jornalista especializado em assuntos políticos, com foco em Oriente Médio.