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Primeiro ano do governo Scholz foi marcado por crises

8 de dezembro de 2022

O primeiro ano da coalizão de governo entre social-democratas, verdes e liberais foi marcado pela guerra na Ucrânia e escalada de preço da energia. Como Scholz enfrentou seus desafios e o que esperar do resto do mandato?

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Olaf Scholz e os ministros Robert Habeck e Christian Lindner
Olaf Scholz e os ministros Robert Habeck e Christian LindnerFoto: Clemens Bilan/EPA-EFE

Em seu podcast mais recente, o chefe de governo da Alemanha, Olaf Scholz, fez um balanço sóbrio do que seu governo fez em seu primeiro ano no cargo: apoiar a Ucrânia de forma humanitária, financeira e com armas. E ainda assegurar o fornecimento de energia e impulsionar a expansão das energias renováveis. Além disso, aliviar a carga financeira dos cidadãos provocada pela forte escalada dos preços, aumentar o salário mínimo e impor melhores benefícios sociais.

As formulações do chanceler federal alemão foram "nós providenciamos − vamos tornar possível − vamos cuidar − vamos lançar as bases". As mensagens por trás: Temos a situação sob controle − apesar de crises existenciais que nenhum outro governo enfrentou antes. Se Olaf Scholz tivesse que dar uma nota à "coalizão do semáforo", como a aliança entre SPD (cuja bandeira tem a cor vermelha), verdes e liberais (partido representado pela cor amarela) é chamada, ela certamente não seria ruim.

Eleitores insatisfeitos

Muitos cidadãos, porém, veem as coisas de maneira um pouco diferente. Há vários meses, a coalizão de governo não tem mais o apoio da maioria nas pesquisas de opinião. Ao mesmo tempo, a insatisfação com o governo aumentou. Apenas uma minoria é de opinião que o governo alemão está fazendo um bom trabalho.

O julgamento da cientista política Ursula Münch não é tão severo. "Dou ao governo a nota 'satisfatório'", diz à DW a diretora da Academia de Educação Política em Tutzing. As tarefas, diz ela, foram amplas e difíceis. Segundo ela, em vez de simplesmente ir cumprindo o acordo de coalizão firmado entre os partidos, o governo reagiu com flexibilidade e se afastou de "muitos dogmas políticos".

Ursula Münch
Ursula Münch Foto: Eventpress Stauffenberg/ Eventpress/picture alliance

A aliança tripartidária tomou posse em 8 de dezembro de 2021 como uma "coalizão progressista". Ela prometeu aplicar toda sua energia na modernização do país, tornando a Alemanha mais neutra ao clima, mais digitalizada e mais eficiente. Os passos necessários para isso haviam sido fixados ponto por ponto no acordo de coalizão.

Apenas dois meses e meio depois, o mundo era outro. A Rússia invadiu a Ucrânia e forçou o mundo a uma "virada", como o chefe de governo disse no Bundestag. A consequência imediata foi o anúncio por Scholz de 100 bilhões de euros para as Forças Armadas alemãs e apoio à Ucrânia.

Ruptura com dogmas

A ruptura com a doutrina estatal alemã de não fornecer armas para áreas em crise atingiu em cheio o Partido Social Democrata (SPD), de Scholz, e o Partido Verde. Eles tiveram que abandonar suas convicções fundamentalmente pacifistas. Os verdes tiveram visivelmente mais sucesso, e agora estão entre os defensores mais enfáticos da entrega de armas à Ucrânia. O SPD e Scholz, por outro lado, foram durante muito tempo acusados de serem demasiado hesitantes.

A cientista política Ursula Münch não vê as coisas dessa maneira. "Foi correto procurar um equilíbrio entre o apoio à Ucrânia e as preocupações sobre uma expansão da guerra". O que é desagradável, diz ela, é que tanto os parceiros europeus da Alemanha quanto os Estados Unidos ainda estão incertos quanto à "estratégia que o chanceler federal afinal está realmente seguindo".

Crise energética

A reação russa ao apoio alemão à Ucrânia não demorou. A fim de colocar Berlim sob pressão, pouco a pouco foi diminuído o abastecimento de gás à Alemanha, país altamente dependente do gás russo. Os preços da energia explodiram, provocando a maior inflação das últimas décadas.

As graves consequências disso para o Estado, a economia e os cidadãos têm determinado as ações do governo desde então. Foram lançados três pacotes com um volume total de cerca de 100 bilhões de euros. Além disso, foi criada uma ajuda no valor de 200 bilhões de euros para frear os preços de gás, calor e eletricidade e disponibilizados fundos para as empresas afetadas pelas sanções contra a Rússia ou pela guerra, e para o acolhimento de cerca de um milhão de refugiados de guerra da Ucrânia que chegaram à Alemanha.

Aerogeradores com termelétrica ao fundo
A expansão da energia eólica é lenta na AlemanhaFoto: Rupert Oberhäuser/dpa/picture alliance

Se somarmos todas as dívidas que a coalizão teve que contrair em seu primeiro ano de mandato, chegaremos a cerca de 500 bilhões de euros. Para isso, o chanceler federal Scholz chegou a cunhar a expressão "doppel-wumms" (energia total dupla), baseado no termo "wumms" (com toda energia) com o qual ele anunciou, então como ministro das Finanças, os pacotes de ajuda para atenuar as medidas contra a pandemia em 2020. O sempre sóbrio Scholz, que não é fã de emocionalismos, usa formulações tão teatrais e monstruosidades verbais para expressar a gravidade da situação.

Aprovação de parte das prioridades

Os altos gastos provocaram o adiamento de vários projetos acertados no acordo de coalizão. Mas os três partidos no governo conseguiram, mesmo assim, a aprovação de parte de suas prioridades, constata a cientista política Münch.

Especialmente os social-democratas,  com a ampla reforma no sistema de bem-estar social do país (introdução do Bürgergeld, que garante uma renda básica) e o salário mínimo. "Os verdes podem continuar argumentando que defendem o fim da energia nuclear − mas isso só cai bem entre os próprios apoiadores, não com a maioria da população".

Os liberais, que entraram no governo com o objetivo de sanear as finanças públicas, enfrentam mais dificuldades: "Devido à crise, estamos muito longe de um orçamento sólido, e a concretização dos projetos de infraestrutura vai precisar de anos", disse.

Quando Scholz fez valer sua autoridade

Na opinião de Münch, entretanto, o governo alemão deveria ter "jogado mais de suas antigas crenças ao mar", tendo em vista os enormes desafios da atualidade. "Na minha opinião, o governo perdeu-se muitas vezes em disputas sobre princípios". No caso da extensão da vida operacional das usinas nucleares, eles foram tão longe que o chefe de governo teve de fazer valer sua autoridade.

No entanto, as disputas eram algo que o governo queria evitar a todo custo. Embora o SPD, os verdes e o FDP fossem três parceiros com convicções políticas bastante diversas, eles prometeram colocar suas diferenças de lado em prol do objetivo comum. E, acima de tudo, não falar mal um do outro − especialmente não em público.

Robert Habeck e Olaf Scholz
Ministro Habeck à frente de Scholz no índice de simpatia Foto: Michael Kappeler/picture alliance/dpa

Isto sempre deixou de funcionar quando uma das partes sentia estar ficando para trás. Quando, no verão europeu, os verdes estavam à frente do SPD nas pesquisas de opinião e os índices de simpatia pelo ministro da Economia, o verde Robert Habeck, estavam muito à frente dos do social-democrata Scholz, o SPD zombou: "O princípio Habeck funciona assim: performances dignas de cinema, implementação questionável e, no final, quem paga é o cidadão".

Os verdes contrapuseram que o "mau desempenho do chanceler federal e a péssima pontuação nas pesquisas" não seriam sarados por um "comportamento desleal e 'olho gordo' na coalizão".

Uma virada também do ponto de vista econômico

Foi o momento em que os preços da energia explodiram e ficou clara a necessidade de uma ajuda financeira maciça do Estado. Para Münch, entretanto, impor um teto no preço do gás e da eletricidade não é uma boa solução. "Os custos de energia são subsidiados de forma cara e dispendiosa, mas ao mesmo tempo se faz muito pouco para aumentar o fornecimento da energia ecológica disponível".

Em qualquer caso, disse, a coalizão deve pensar em algo para o futuro, em vez de gastar mais e mais dinheiro. "As crises e os medos da inflação entre a população não serão gerenciados no futuro apenas com transferências dispendiosas".

2023 pode ser ainda mais difícil

O ministro alemão das Finanças e líder do Partido Liberal Democrata (FDP), Christian Lindner, quer um orçamento mais sólido no próximo ano e o cumprimento do freio da dívida. Isso pode funcionar? A escassez de energia permanecerá. Quando osreservatórios de gás estiverem esvaziadas na primavera europeia, devem ser encontradas maneiras de enchê-los novamente até o final do outono. É uma tarefa hercúlea sem o gás da Rússia.

É previsível que a inflação permaneça alta e a economia está diante de uma recessão. Em seu segundo ano de mandato, o governo alemão possivelmente será desafiado muito mais do que no primeiro. Para o chanceler federal, isto significa manter sua coalizão unida e no caminho certo. Não é uma tarefa fácil. Olaf Scholz provavelmente enfrentará isso como sempre fez em sua carreira política de décadas: inabalável, implacável e às vezes um pouco teimoso.