Professores de origem estrangeira lidam com preconceitos e estereótipos
23 de março de 2014Saraya Gomis é professora numa escola de periferia em Berlim. Ela prefere não contar sua idade, assim como a procedência de seus pais, porque, em sua opinião, isso apenas fortalece potenciais preconceitos e estereótipos. "Basta dizer que sou uma mulher negra", diz.
Sendo a única professora negra de sua escola, ela é vista como um tipo exótico. Enquanto o número de estudantes oriundos de famílias estrangeiras aumenta com regularidade, especialistas apontam que a proporção de professores pertencentes a famílias vindas de outros países varia entre 1% e 5%.
"Meus alunos gostam da diversidade", conta Saraya. Uma estudante negra chegou até a dizer que não sabia que pessoas afrodescendentes também podiam ser professores. "Quero mostrar a eles que podem atingir quaisquer objetivos, não importa de onde venham", diz a professora. Seus alunos deixaram de vê-la como uma pessoa exótica já há muito tempo, conta.
"Vocês negros são mais divertidos"
Com alguns pais, no entanto, isso não acontece. "Na minha primeira reunião de pais e mestres, muitos compareceram porque queriam ver a professora negra", lembra Saraya. Claro que isso pode ser interpretado positivamente, como um sinal de interesse. "Alguns até me tocaram para provar que não são racistas", conta. Dessa forma, diz a professora, ações supostamente positivas se transformam rapidamente em discriminação.
Na sala dos professores, ela experimentou formas mais ou menos disfarçadas de racismo. "Nenhum dos meus colegas é um racista convicto", conta. As ações e declarações são bem mais sutis. "Ouvi comentários como 'nós, brancos, somos mais intelectuais, e vocês, negros, são mais divertidos'."
Discriminação é comum
Saraya não é um caso isolado. A cientista Aysun Kul, da Universidade de Bremen, pesquisa sobre as experiências de professores em treinamento, tanto de origem migratória quanto nativa. "Uma das entrevistadas, de origem turca, disse que um colega perguntou se era permitido a ela se casar com um alemão", diz. "Pode até parecer uma pergunta inocente, mas é questionável se seria apropriada para um primeiro contato."
Em um primeiro estudo em âmbito nacional sobre o tema "diversidade na sala dos professores", os cientistas Viola B. Georgi, Lisanne Ackermann e Nurten Karakas pesquisaram por quatro anos a discriminação a professores de origem estrangeira. Depois de analisar mais de 200 questionários e conduzir 60 entrevistas, eles constataram que mais de 22% dos educadores sofreram discriminação e racismo nas escolas.
"A discriminação acontece em níveis diferentes", aponta Georgi, que é diretor do Centro Hildesheim para Integração na Educação. Os professores são alvos de comentários sobre seus sotaques ou de alusões a suas religiões, por exemplo.
Funções limitadas
No entanto, o quadro geral não é conclusivo. A maioria dos entrevistados afirmou que experimentaram aceitação, reconhecimento e apreciação. "Os professores de origem migratória são valorizados, entre outras coisas, por estabelecer conexões, por exemplo ao traduzir conversas para os pais", conta Georgi. Muitos assumem com satisfação esse papel, o que pode, porém, ser problemático.
"Ninguém quer ficar reduzido a essa função", diz Georgi. Ela enfatiza que os professores de origem migratória são responsáveis por todos os alunos. A pesquisa de Aysun Kul confirma o problema. "Depende como esses professores veem a si mesmos, e se a sua origem desempenha ou não algum papel para eles." Alguns apenas querem ser professores, sem que a procedência esteja em primeiro plano.
Os professores entrevistados lidam de maneira totalmente diferente com a discriminação, diz Karakas, também do Centro Hildesheim para Integração na Educação. Segundo ela, alguns profissionais querem enfrentar o problema de frente. Já outros preferem o silêncio e optam por se explicar.
Os especialistas concordam que deveria haver mais professores de origem estrangeira nas escolas. A diversidade entre os alunos também deve se refletir no corpo docente. Apenas assim as diferenças de idioma, religião e cultural poderão ser vistas como algo normal pelos alunos.