Protesto pacífico termina em massacre em Dallas
8 de julho de 2016Um protesto pacífico contra a recente morte de dois homens negros pelas forças de segurança americanas terminou na noite desta quinta-feira (08/07) em tragédia, quando um franco-atirador abriu fogo durante a manifestação, matando cinco policiais e deixando outros sete feridos em Dallas.
A polícia descreveu o ataque como uma emboscada cuidadosamente planejada e executada contra as forças de segurança. Três pessoas foram detidas, e o atirador – identificado como Micah Johnson, de 25 anos – foi morto por um explosivo controlado à distância pela polícia, após cerca de uma hora entrincheirado num estacionamento.
Antes de ser atingido, o atirador teria dito que queria vingar a morte dos dois homens negros e assassinar policiais brancos. Ele também teria dito que havia espalhado bombas pela cidade. O ataque foi um dos piores contra policiais na história dos Estados Unidos – o incidente mais mortal para as forças de segurança desde o 11 de Setembro.
O chefe da polícia de Dallas, David Brown, dissera anteriormente que havia vários atiradores, alguns em posições altas, e que eles usaram rifles de alta precisão para atirar contra as forças de segurança, no que aparentava ser um ataque coordenado. "Eles estavam trabalhando juntos, armados com fuzis, triangulando em posições elevadas em diferentes pontos da área onde a manifestação ocorria", disse Brown.
Johnson era um veterano das Forças Armadas americanas e esteve no Afeganistão entre novembro de 2013 e julho de 2014. Negro, ele teria dito que queria matar pessoas brancas, especialmente policiais, e estaria revoltado com as recentes mortes de dois negros por agentes da polícia.
A polícia local comunicou que encontrou na residência do atirador material que pode ser usado para fabricação de bombas, coletes à prova de balas, fuzis, munições e textos com instruções de táticas de combate. As autoridades de Dallas afirmaram também que o atirador não tinha ficha criminal. A Casa Branca afirmou que investigadores descartam conexões com o terrorismo doméstico ou internacional.
O uso de força pela polícia contra a comunidade negra em cidades como Ferguson, Baltimore e Nova York gerou uma série de protestos nos últimos dois anos – muitas vezes violentos – e deu origem ao movimento Black Lives Matter (vidas negras importam).
Vídeos geraram indignação
Dois vídeos que supostamente mostram a morte de homens negros por policiais nos EUA circularam na internet, gerando uma nova onda de protestos contra violência policial. Philando Castile foi morto em Minnesota e Alton Sterling em Louisiana.
Um deles foi postado pela namorada de Castile, de 32 anos, nesta quinta. O casal foi parado no trânsito pela polícia. "Ele estava tentando tirar a identidade e a carteira do bolso", conta a namorada Lavish Reynolds. "Ele informou o policial que tinha uma arma de fogo e que estava pegando a carteira, e o policial atirou no braço dele."
Segundo Reynolds, foram vários disparos. "Por favor, meu Deus, não me diga que ele está morto. Por favor, policial, não me diga que o senhor fez isso com ele", diz a mulher. O vídeo motivou manifestações nas ruas de Falcon Heights, no estado de Minnesota.
O incidente ocorreu horas depois de o Departamento de Justiça dos EUA anunciar a abertura de um inquérito para investigar dois policiais que teriam matado Sterling em Baton Rouge, capital do estado de Louisiana, na noite de terça. Centenas de pessoas se reuniram na cidade para protestar.
Obama: "Todos devem se preocupar"
Os EUA voltaram a viver jornadas de protesto em diversas cidades após as mortes dos dois homens em ações da polícia. Em Varsóvia, onde participa da cúpula da Otan, Obama disse que a violência policial contra negros deve preocupar todos os americanos.
"Quando ocorrem incidentes como estes, há pessoas que sentem que não devem tratá-los igual por causa da cor da pele. Esta não é uma questão branca, não é uma questão latina, é uma questão americana", declarou.
Segundo Obama, os dois episódios são "sintomáticos de um cenário maior de disparidades raciais que existem no sistema de justiça criminal". O presidente americano citou estatísticas que apontam para uma desproporção no número de detenções e condenações de negros em comparação com brancos no país.
Obama disse que é necessário dar um "sentido de urgência" para a questãoda reformas da polícia nos EUA por considerar que, até o momento, "a mudança foi lenta demais".
KG/efe/ap