Provocador e populista: Ahmadinedjad há um ano no poder
3 de agosto de 2006Sem jamais perder uma oportunidade de provocar o Ocidente, o presidente iraniano Mahmud Ahmadinedjad está completando um ano no poder. Dominando a linguagem do povo como nenhum outro, ele consegue muitas vezes atrair o apoio da maioria dos iranianos para suas polêmicas declarações.
Com 61% dos votos no segundo turno, Ahmadinedjad ganhou as eleições presidenciais de junho de 2005 – uma diferença tão grande do então favorito, o moderado Hashemi Rafsanjani, que não faltaram acusações de fraude eleitoral.
Em 3 de agosto de 2005, Ahmadinedjad tornou-se o sexto presidente da República Islâmica do Irã, e tais acusações se calaram. Em contrapartida, ele mantém desde então seu país e o mundo em estado de tensão. Um comentário do especialista da Deutsche Welle em Oriente Médio, Peter Philipp.
Populismo, propaganda antiocidental e presunção provocadora
A estratégia é simples: ele se apresenta como um homem do povo e as pessoas acreditam. Sua origem é realmente simples, como também seu estilo de vida. Além disso, o presidente iraniano tem fama de incorruptível, ao contrário da maioria dos políticos importantes do seu país.
Com declarações populistas, uma virulenta retórica antiisraelense e antinorte-americana, e uma atitude provocadora no tocante à questão nuclear, o atual presidente iraniano conseguiu, em apenas um ano, envolver seu país em mais problemas políticos externos do que todos os seus antecessores juntos.
Ahmadinedjad intensifica cada vez mais seus ataques ao Ocidente de forma geral, e em especial aos Estados Unidos. Às acusações norte-americanas de desrespeito aos direitos humanos no Irã, ele responde: seu povo tem cultura e civilização, é livre e revolucionário.
Benfeitor dos iranianos pobres
Fraude eleitoral ou não, a vitória de Mahmud Ahmadinedjad se deveu, por um lado, ao desencanto político iraniano, e por outro à insatisfação das classes menos privilegiadas, a quem a república islâmica pouco trouxe.
O engenheiro Ahmadinedjad, que dois anos antes havia se tornado prefeito de Teerã, prometeu-lhes ajuda. E de fato, ele garantiu financiamento imobiliário aos mais pobres, oferecendo-lhes também assistência de saúde.
Porém logo ficou claro que ele não seria um presidente pouco problemático. Ahmadinedjad nomeou como ministros seus antigos camaradas da Guarda Revolucionária, mais tarde tendo que demitir alguns por incompetência. E começou a chamar cada vez mais a atenção, também na área da política externa.
Com Ahmadinedjad não se brinca
Após um discurso nas Nações Unidas – onde pregou a justiça como principal mandamento da organização, acrescentando, numa clara alusão aos Estados Unidos, que "potências maiores e mais ricas não deveriam ter mais direitos"–, Ahmadinedjad declarou, de volta ao seu país, que os delegados da ONU estariam fascinados pela sua retórica.
Seus conterrâneos começaram então a fazer piadas sobre o novo presidente, mas logo ficou claro que com Ahmadinedjad não se brinca. Rejeitando de forma resoluta qualquer tipo de concessão, ele exacerbou sua atitude na crise nuclear. De forma provocadora, festejou o enriquecimento do urânio pelo Irã, anunciando que seu país não se privará do direito de seguir o caminho iniciado.
Israel deve mudar de endereço
Com suas acusações a Israel, Ahmadinedjad abriu uma segunda frente de ataque. Citando seu antecessor, o aiatolá Khomeini, afirmou que o país deveria sumir do mapa, e se o Holocausto realmente aconteceu, os verdadeiros culpados deveriam arcar com a responsabilidade, em vez de transferi-la ao oprimido povo palestino.
Em uma declaração na televisão, Ahmadinedjad anunciou a europeus e ocidentais: "Se vocês cometeram crimes, então é ponderável que cedam parte de seus territórios, na Europa, Estados Unidos, Canadá ou Alasca, para que os judeus construam aí seu próprio Estado. Eu lhes asseguro que o povo iraniano não tem nada contra".
Sob a condição, é claro, de que o genocídio de seis milhões de judeus em campos de concentração nazistas de fato tenha acontecido, fato que Ahmadinedjad sempre põe em questão, pelo menos indiretamente.
Reconhecimento no mundo árabe
Tais declarações provocaram uma onda internacional de indignação. Ahmadinedjad se viu confirmado em suas posições, e os seus ataques se acirraram ainda mais.
Depois de chamar os Estados Unidos de Gengis Khan, ele compara agora Israel a Hitler. O mundo árabe reconhece em Ahmadinedjad, entretanto, uma pessoa íntegra e capaz de enfrentar Israel e os Estados Unidos.
No Ocidente, a crise em torno da questão nuclear iraniana e suas declarações anti-semitas e antiocidentais, que já haviam iniciado com seus antecessores, provocam repulsa e aborrecimentos.
Um ano após sua posse, Mahmud Ahmadinedjad não somente conseguiu mobilizar as massas, mas também isolar politicamente seu país. A explicação racional para tal fato é somente uma: Ahmadinedjad quer restaurar a antiga atmosfera política do início da república islâmica, pois apenas em isolamento auto-imposto uma teocracia consegue sobreviver a longo prazo.