Putin apóia posição pacifista alemã
24 de janeiro de 2003Em conversa pelo telefone com o chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, o presidente russo, Vladimir Putin, confirmou a necessidade de mais tempo para a Comissão de Inspeção de Armas das Nações Unidas cumprir a sua missão no Iraque. Putin concordou também com a exigência alemã para que sejam esgotadas todas as possibilidades políticas para aplicação da resolução 1441 da ONU, que determinou um desarmamento do Iraque depois da Guerra do Golfo, por causa da ocupação do Kuwait em 1990.
Berlim aumenta os seus esforços por uma solução pacífica do conflito, na medida em que se aproxima a apresentação do relatório do chefe dos inspetores, Hans Blix, ao Conselho de Segurança em Nova York, na segunda-feira (27). O documento é importante para uma decisão de Washington sobre a guerra planejada. Berlim exige que a decisão passe pelo Conselho e, como membro não permanente, votaria contra uma resolução que legitimasse uma guerra. Como membros permanentes do grêmio máximo da ONU, Rússia, França e China têm poder de veto e os três já se pronunciaram contra um ataque militar no Iraque sem um mandato claro das Nações Unidas.
Ao mesmo tempo que tratava de assegurar o apoio da Rússia, o chefe de governo alemão tentava minimizar a crítica dura do secretário da Defesa americana, Donald Rumsfeld, à posição teuto-francesa contra uma guerra. "Não se deve valorizar tanto uma palavra", disse Schröder. Rumsfeld havia dito que França e Alemanha são um problema na questão do Iraque, que os dois países seriam a "velha Europa" e os EUA contariam com o apoio da maioria dos europeus.
Aliados árabes
O ministro alemão do Exterior, Joschka Fischer, enquanto isso, conversou em Istambul, nesta sexta-feira (24), com o primeiro-ministro turco, Abdullah Gül. Ele foi à Turquia se informar sobre a posição dos vizinhos do Iraque sobre o conflito para relatar à União Européia, em Bruxelas, na segunda-feira (27). Da Turquia, Fischer segue viagem para a Jordânia e Egito. Ele quer saber como a região encara a ameaça atual e quais as conseqüências de um possível ataque militar contra o Iraque.
Como a Alemanha, a Turquia também se opõe a uma guerra no Iraque e resiste em ceder as suas bases militares para os EUA no caso de uma intervenção militar. A Turquia é vizinha direta do Iraque e seria especialmente atingida. Ancara encontra-se numa situação difícil, dada a sua posição de grande importância estratégica para os EUA, como ficou evidente na Guerra do Golfo. Os americanos usaram bases turcas para bombardear o Iraque durante o conflito e também depois, em nome da proteção de curdos na zona de exclusão de vôos iraquianos no Iraque.
Agora, depois de muito relutar, o aliado turco permitiu que um comando avançado americano inspecionasse as suas bases. Mas Ancara ainda não quis aprovar uma ampliação dessas bases militares nem o estacionamento de soldados americanos. O Parlamento turco é que terá de decidir sobre o pedido de Washington, pois a ruína do Iraque teria conseqüências diretas para a Turquia e a maioria dos turcos rejeita uma guerra contra o país vizinho. Ancara não vê contradição nisso pelo fato de ser aliado na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), dominada pelos EUA.
Apelo turco-árabe ao Iraque
Daí a intensa política externa de Ancara nas últimas semanas. A visita do chefe da diplomacia alemã aconteceu no mesmo dia do encontro dos seus colegas de países árabes vizinhos do Iraque e o Egito, convocado pelo turco Yasar Yakis. Depois de horas de discussão, eles aprovaram uma declaração conjunta, resumida assim por Yakis:
"Apelamos ao Iraque para prosseguir a sua cooperação com os inspetores da ONU e a Comissão Internacional de Energia Atômica e para que seja mais ativo do que foi até agora na entrega de informações e material sobre armas de destruição em massa, em total consonância com a resolução 1441 da ONU".
Fischer elogiou a iniciativa turca como "excelente" e destacou que os governos alemão e turco têm as mesmas preocupações com os riscos de uma guerra para toda a região em volta do Iraque. Por isso Berlim e Ancara querem cooperar mais nessa questão. Uma saída pacífica para o conflito seria a prioridade máxima do seu governo, segundo o chanceler turco.