1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

"Putin está por trás do ataque", diz Navalny

1 de outubro de 2020

Em primeira entrevista após receber alta, oposicionista russo acusa líder do Kremlin de ordenar envenenamento. Ele também promete retornar após recuperação. "Não darei a Putin o presente de não voltar à Rússia."

https://p.dw.com/p/3jI5v
Berlin Charite Alexei Navalny Instagram Post
Alexei Navalny ficou internado por 32 dias no Hospital Charité, em Berlim.Foto: Alexey Navalny/Instagram

O oposicionista russo Alexei Navalny que se recupera na Alemanha depois de ter sido envenenado na Rússia, acusou o presidente russo Vladimir Putin de estar por trás do atentado à sua vida, segundo uma entrevista divulgada nesta quinta-feira (01/10).

"Não vejo outra explicação sobre como o crime foi cometido", disse Navalny, um dos mais ativos críticos do líder russo, à revista alemã Der Spiegel, em sua primeira entrevista desde o incidente. Em sua opinião, "Putin está por trás" do plano para envenená-lo.

Em 20 de agosto, Navalny passou mal a bordo de um avião que voava sobre a Sibéria. Ele chegou a ficar hospitalizado por dois dias na Rússia antes de ser transportado em coma induzido para a Alemanha. O ativista de 44 anos ficou internado por 32 dias no Hospital Charité, em Berlim. Ele saiu do coma no início de setembro.

Testes de laboratório  realizados na Alemanha  comprovaram "de modo inequívoco" que Navalny foi envenenado com um agente neurotóxico do tipo Novichok, da era soviética. Mais tarde, laboratórios independentes da França e da Suécia  confirmaram o envenenamento com a substância, a mesma usada no ataque contra o ex-espião russo Serguei Skripal e sua filha em Salisbury, no Reino Unido, em 2018.

O governo da Rússia rejeita as acusações feitas pelos aliados de Navalny de que ele teria sido envenenado em um hotel na cidade siberiana de Tomsk. Segundo os ativistas, análises realizadas por um laboratório militar alemão em uma garrafa de água coletada no hotel encontraram rastros do Novichok.

Seus apoiadores afirmaram em várias ocasiões que um ataque desse tipo poderia somente ter sido ordenado por alguém no alto escalão do governo russo.

Na entrevista, Navalny contou alguns detalhes do que sentiu ao ingerir a substância e de sua recuperação em Berlim. "Você não sente nenhuma dor, mas sabe que está morrendo", disse, sobre o momento em que começou a sentir o efeito do Novichok em seu corpo. Ele disse que se recupera bem.

Segundo a Spiegel, Navalny estava alerta e fez brincadeiras durante a entrevista, apesar dos tremores nas mãos que lhe dificultavam o ato de beber de uma garrafa. "O mais importante para mim é ter de volta minhas faculdades mentais. Quem sabe, ao longo da entrevista, chegaremos à conclusão contrária", afirmou bem humorado.

Por hora, Navalny deve permanecer em Berlim, acompanhado de sua esposa e seu filho, enquanto continua seu longo processo de recuperação. "Faço caminhadas no parque pela manhã, e depois, exercícios com meu médico. À noite, saio para mais uma caminhada", revelou.

O russo confirmou à Spiegel que planeja voltar à Rússia logo que estiver recuperado. "Não retornar significaria que Putin terá conseguido seu objetivo. Meu trabalho é continuar sendo a pessoa que não tem medo", disse. "E não tenho medo."

"Não darei a Putin o presente de não voltar à Rússia,", afirmou. Ele disse que sua missão é "ficar saudável logo que for possível para poder retornar". "Não quero ser um líder da oposição no exílio."

Os médicos alemães acreditam que ele poderá se recuperar totalmente, mas não afastaram a possibilidade de sequelas em longo prazo causadas pelo agente químico.

A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, qualificou o envenenamento de Navalny como uma tentativa de assassinato e, assim como outros líderes mundiais, exige que a Rússia faça uma investigação completa do caso.

Moscou, por sua vez, insiste que as autoridades alemãs compartilhem as informações médicas ou comparem os dados com médicos russos. A Alemanha, porém, assegura que os russos têm suas próprias amostras, uma vez que Navalny esteve sob seus os cuidados durante 48 horas.

Kremlin acusa Navalny de "colaborar com a CIA"

Nesta quinta-feira, o Kremlin disse que as acusações de Navalny contra o presidente russo são "absolutamente infundadas e inaceitáveis". "Consideramos ofensivas algumas dessas declarações", disse o porta-voz do governo Dmirty Peskov, sobre a entrevista.

Ele alegou ter informações de que Navalny trabalha atualmente com "especialistas da [agência de inteligência americana] CIA" que o fornecem informações e lhe passam instruções.

"Há informações de que esses instrutores estão trabalhando com ele atualmente", disse o porta-voz. "Essas instruções que o paciente está recebendo são óbvias. Observamos essa linha de comportamento mais de uma vez."

O porta-voz da Duma, a câmara baixa do Parlamento russo, Vyacheslav Volodin, chamou Navalny de "sem vergonha" e "desonesto" e também o acusou de "trabalhar com serviços de segurança do Ocidente". "Putin salvou sua vida", afirmou, em comunicado. "Todos, desde os pilotos e médicos até o presidente tentaram verdadeiramente salvá-lo. Somente uma pessoa desonesta pode fazer tais declarações."

RC/afp/ap/dpa