Quem é Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu
18 de janeiro de 2022Roberta Metsola sempre deixou claro que, para ela, a União Europeia não é uma complexa instituição burocrática mas uma verdadeira paixão. Não é um bloco abalado por crises, mas sim um lugar para fomentar os valores europeus e o entusiasmo por um projeto que emergiu das cinzas da Segunda Guerra Mundial.
Agora, a política conservadora de Malta precisa provar que pode transformar suas palavras em ação. Nesta terça-feira (18/01), Roberta Metsola foi eleita presidente do Parlamento Europeu – no mesmo dia em que completou 43 anos.
Embora a eleição de Metsola possa ser um presente de aniversário bem-vindo para a legisladora maltesa, não foi uma surpresa. Em um acordo comum, os três maiores grupos parlamentares europeus – o conservador Partido Popular Europeu (PPE), a Aliança dos Socialistas e Democratas e o liberal Renovar a Europa – decidiram que um representante conservador assumiria o cargo, que ficou vago com a morte do italiano David Sassoli.
Metsola, cujo Partit Nazzjonalista (Partido Nacionalista de Malta) faz parte do grupo de centro-direita PPE, pareceu ser a escolha óbvia, pois tem respeito suprapartidário e é conhecida como "construtora de pontes".
"Estamos todos acostumados a divisões e crises. E a ascensão e popularidade de Roberta provam que ainda é possível fazer política por consenso", disse David Casa, correligionário de Metsola e membro do Parlamento Europeu.
A política maltesa é apenas a terceira mulher à frente do Parlamento Europeu, seguindo os passos das suas antecessoras francesas Simone Veil e Nicole Fontaine.
O Parlamento Europeu é o órgão legislativo da UE, representando os 450 milhões de cidadãos do bloco. É eleito diretamente pelos eleitores da UE a cada cinco anos.
Determinada e ousada
Dois vídeos de campanha divulgados pelo grupo PPE nas redes sociais antes das eleições mostram como Metsola quer ser percebida: como uma pessoa que se inspira em mulheres fortes e quer inspirar outras. Uma mãe de quatro filhos que concilia família e carreira. Uma guerreira que não desiste quando acredita em algo.
Mas ela também conhece o fracasso. Metsola só conseguiu ser eleita para o Parlamento Europeu em 2013, depois de perder duas eleições. Desde então, teve uma ascensão rápida. Em 2020, se tornou uma das primeiras vice-presidentes do Parlamento Europeu. Como membro da Comissão de Liberdades Cívicas, Justiça e Assuntos Internos, defendeu o direito de refúgio na UE.
Desde o assassinato da jornalista Daphne Caruana Galizia, sua compatriota, Metsola vem pedindo ao governo maltês que garanta a liberdade de imprensa e combata a corrupção.
O eurodeputado maltês David Casa, que chama Metsola de uma suas amigas mais próximas, disse à DW que a conhece desde os tempos de estudante em Malta. Ele diz que, naquela época, a determinação e ambição dela fizeram com que se destacasse.
Tanto Metsola quanto Casa fizeram campanha pela adesão de Malta à União Europeia em 2004. Metsola disse repetidamente que foi esse objetivo que despertou seu ativismo político e a fez passar menos tempo na biblioteca estudando direito.
Muitos legisladores da UE torceram por ela nesta terça-feira. O colega parlamentar conservador Stelios Kympouropoulos, da Grécia, a descreve como "ousada o suficiente para ser o rosto de um parlamento extrovertido e forte".
Como o Parlamento Europeu muitas vezes luta para encontrar um terreno comum dentro das outras instituições da UE, o Conselho Europeu e a Comissão Europeia, a ousadia é certamente uma característica que pode ajudar na defesa dos interesses do Parlamento.
Postura antiaborto
Mas mesmo que Roberta Metsola seja uma candidata consensual, muitos – especialmente os grupos dos Verdes e da Esquerda – não estão particularmente felizes por ela ser uma figura de liderança.
Isso ocorre principalmente porque a política maltesa sempre votou contra as resoluções do Parlamento Europeu que pediam aos países da UE que legalizassem o aborto.
A posição não é totalmente surpreendente, já que Metsola é de Malta. A nação insular do Mediterrâneo, que é o menor membro da UE, tem uma das leis de aborto mais rígidas do mundo e também é o único país da UE a proibir o procedimento.
Para Manon Aubry, membro de esquerda francesa no Parlamento Europeu, isso não é desculpa. "Acho que é um sinal terrível para os direitos das mulheres em toda a Europa", disse ela à DW. "Por exemplo, para as mulheres na Polônia que lutam pelo direito de ter controle sobre seus próprios corpos há quase dois anos."
No entanto, Aubry também reconhece que Metsola faz parte da ala progressista do conservador PPE, a qual defende os direitos LGBTQ, por exemplo. Por isso, Aubry chama de "paradoxal" a postura antiaborto de Metsola.
A espanhola Sira Rego, colega de esquerda de Aubry que concorreu sem sucesso ao cargo presidencial de Roberta Metsola, disse que é importante que as mulheres tenham visibilidade. Mas promover a mudança real é ainda mais importante.
"Além de as mulheres ocuparem o espaço simbólico e político, é fundamental que políticas feministas sejam implementadas", disse Rego.
"Líder para todos os europeus"
Casa não vê razão para que a questão do aborto seja um problema durante a presidência de Metsola, que certamente não se resume a uma única questão.
É claro que, como uma política de Malta, Metsola tem que respeitar os valores expressos repetidamente pelo povo maltês, disse Casa, referindo-se a pesquisas que sugerem que a opinião pública permanece firmemente contra o aborto no país católico.
A própria Metsola disse ao jornal francês Le Figaro que não se reconhecia na "caricatura" que foi feita dela em alguns países. Ela acrescentou que estava lutando por políticas feministas e não tinha um problema pessoal com o aborto.
Embora Aubry preferisse um líder diferente para o Parlamento Europeu, ela disse que, independentemente disso, seu grupo parlamentar buscará maneiras de trabalhar em conjunto com Metsola.
Aubry disse à DW esperar que Metsola não represente apenas os interesses malteses – mas também os de todo o Parlamento Europeu. A maioria dos legisladores em Estrasburgo condenou repetidamente desenvolvimentos antiaborto na Europa.