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Segundo turno

4 de outubro de 2010

Com a importância dos votos de Marina, temas como sustentabilidade e meio ambiente deverão ter mais espaço no debate entre Dilma e Serra, avaliam especialistas alemães que acompanharam as eleições no Brasil.

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Foto: AP/DW-Montage

A interpretação mais comum em jornais de todo o mundo é que o governo Lula saiu derrotado do primeiro turno das eleições presidenciais brasileiras por não ter conseguido eleger sua sucessora.

Afinal, Dilma Rousseff foi apresentada pela imprensa internacional como a candidata do presidente, a qual ganharia a eleição já no primeiro turno, como lembra Peter Fischer-Bollin, diretor da Fundação Konrad Adenauer no Rio de Janeiro.

"Se ela ganhar no segundo turno, ninguém vai se lembrar desse detalhe, como ninguém se lembra mais que Lula precisou dos dois turnos nas duas vezes em que se tornou presidente. E isso não foi nenhum impedimento para que ele viesse a ser o presidente mais popular da história", argumenta.

Já para Yesko Quiroga Stöllger, representante no Brasil da Fundação Friedrich Ebert, a definição na primeira rodada teria sido "sorte demais para Dilma".

Para ele, os eleitores brasileiros votaram com uma certa coerência. "Se comparamos com os resultados das eleições presidenciais de 2006, vemos que Dilma recebeu mais ou menos a mesma percentagem de votos de Lula naquele ano. E ela até ganhou em mais estados do que ele há quatro anos", avalia Stöllger.

Briga mais dura

A suavidade da campanha presidencial de José Serra deve ficar para trás. E a briga contra Dilma Rousseff pela vitória em 31 de outubro promete ser boa. Fischer-Bollin não arrisca apontar um favorito para o segundo turno.

"Acho que o mais interessante nessa campanha do segundo turno será a reação do Serra. Será interessante ver como ele vai se adaptar à essa nova situação, se ele vai parecer mais agressivo, se ele vai fazer referência à política do Fernando Henrique Cardoso ou se ele vai continuar se apresentando como o melhor sucessor de Lula", disse Fischer-Bollin à Deutsche Welle.

O representante da Friedrich Ebert no Brasil disse acreditar no favoritismo de Dilma. "Na verdade, acho que os três candidatos podem ficar satisfeitos. Serra superou a votação indicada pelas pesquisas prévias, que diziam que ele teria 28%, e ele acabou com 33%. Mas Dilma deve ter a maioria no segundo turno, já que ela teve 47% no primeiro, o que não é pouco."

Stöllger, que acompanhou pela primeira vez uma eleição presidencial brasileira, disse ter achado agressivo o tom das campanhas, mas que nos debates predominou um clima mais calmo.

Efeito Marina

Marina recebeu 19,6 milhões de votos, mais do que a diferença entre Dilma e Serra, que foi de aproximadamente 14,5 milhões. Os dois concorrentes flertam agora com os eleitores da candidata do Partido Verde. Stöllger chama a atenção para o fato de duas mulheres terem conquistado mais de dois terços dos votos dos brasileiros. "Não me lembro de um caso como esse em outro país democrático grande como o Brasil."

Marina ainda não declarou seu apoio, mas ela deverá ter peso no segundo turno. "Depois de Marina, os temas sustentabilidade, desenvolvimento respeitando os aspectos ambientais e postura ética pensando no desenvolvimento social subiram na prioridade política do eleitorado brasileiro. Dilma e Serra, com certeza, vão falar mais sobre isso nessas próximas quatro semanas", avalia o diretor da Konrad Adenauer.

Ambos terão que se mostrar merecedores desses votos conquistados por Marina no primeiro turno. E a comunidade internacional deverá acompanhar atenta: "Na Alemanha, quando se fala em Brasil, é impossível não associar o país ao seu potencial ambiental", diz Fischer-Bollin.

Brasil lá fora

Os representantes das duas fundações alemãs no Brasil acreditam que o cargo de presidente desse país com crescente destaque internacional representa um papel importante na tribuna global.

"Mas claro que, tanto para Dilma como para Serra, será dificil preencher esse vazio que Lula vai deixar. Porque ele é no mundo todo, na Alemanha também, reconhecido não só como um líder do Brasil, mas de todos os países emergentes", afirma Fischer-Bollin.

Para o alemão, no entanto, é muito cedo para se prever o papel que Dilma ou Serra desenvolveriam no cenário internacional. Como exemplo, cita o histórico da chanceler federal Angela Merkel: "Quando ela assumiu, nunguém esperava que ela fosse ter um papel tão importante em nível internacional. E hoje, governando há quase seis anos, ela é muito elogiada por sua atuação. Mas ninguém previa isso no começo".

Diante de aberrações políticas, como o palhaço campeão de votos Tiririca, Stöllger relativiza: "Isso não é exclusividade do Brasil. Países como os Estados Unidos e a Itália já elegeram candidatos com características exóticas e que não deram tão certo na vida política".

Autora: Nádia Pontes
Revisão: Alexandre Schossler