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Resgate dos bancos gregos custou bilhões ao contribuinte

Jannis Papadimitriou (ca)5 de dezembro de 2015

Recapitalização do sistema financeiro na Grécia foi bem-sucedida. No entanto, o resgate bancário organizado às pressas teve seus efeitos colaterais: cerca de 30 bilhões de euros dos cofres públicos foram perdidos.

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Foto: Getty Images/M. Bicanski

A recente frase proferida pelo ministro grego das Finanças, Euclid Tsakalotos, sobre o resgate dos bancos vai ficar nos anais da crise da dívida: "Nós somos vítimas de nosso próprio êxito", declarou o ministro em novembro. Com isso, ele quis dizer que, devido à grande demanda por suas ações, os bancos puderam acumular capital próprio mais rápido do que o planejado inicialmente e com menos ajuda estatal.

No entanto, o resgate bancário organizado às pressas teve um efeito colateral: para atrair rapidamente o maior número possível de investidores, os bancos gregos apostaram no chamado "split reverso" de ações – operação que consiste em reduzir o número de ações disponíveis, mas sem alterar o valor total do capital. Ou seja, os bancos agruparam diversos pequenos títulos em uma só ação, e a venderam a preço de banana. Assim, enquanto o fundo de resgate bancário financiado por impostos CNPF teve de reembolsar, na última recapitalização, há dois anos, 4,29 euros por ação do Banco da Grécia, os investidores privados tiveram que pagar somente 0,02 euros por ação.

Resumindo: cem novas ações pelo preço de uma. Assim, todos os títulos bancários de propriedade do CNPF perderam valor.

Bilhões em perdas para o Estado

"O Estado e os contribuintes perdem 30 bilhões de euros", reclamou indignado o semanário ateniense To Vima. De acordo com a publicação, o método e os danos podem ser comparados ao confisco dos depósitos bancários no Chipre em 2013. O semanário ressalva, no entanto, que no país insular os próprios clientes foram convocados a resgatar os bancos, enquanto na Grécia foram os contribuintes.

Costas Stoupas, economista e analista do portal de negócios Capital.gr, explicou os fatos em entrevista à DW: "Com cerca de 7 bilhões de euros, investidores privados puderam obter, nos últimos dias, aproximadamente dois terços do capital social de todos os bancos relevantes para o sistema. Tanto o Estado quanto diversos investidores privados disponibilizaram nas recapitalizações anteriores 37 bilhões, que agora foram praticamente perdidos."

Sem alternativa

Stoupas salienta que não haveria, no entanto, nenhuma alternativa para esse procedimento. Em outras palavras: a única chance seria a Grécia não ter se lançado na aventura de eleições sucessivas em 2015, ameaçando assim a confiança na recuperação do sistema bancário, esclareceu o economista.

O governo de esquerda-direita em Atenas vê as coisas de forma diferente: ele afirma que a recente recapitalização na Grécia seria uma consequência da instabilidade política e foi necessária somente porque aumentos de capital anteriores não haviam sido bem-sucedidos. Em outras palavras: a culpa é dos governos conservadores e socialistas anteriores.

Disputa política

Para os partidos de oposição, por outro lado, o resgate bancário é um escândalo devido ao desperdício de dinheiro público, sobretudo porque as instituições de crédito gregas supostamente teriam se tornado presas fáceis para especuladores estrangeiros.

Em conversa com a DW, o eurodeputado social-democrata Miltos Kyrkos expôs sua visão das coisas: "Depois que os bancos gregos foram recapitalizados com dinheiro do contribuinte em 2013, o Estado deteve de qualquer forma 80% dos títulos de participação em cada instituição de crédito. Agora nós injetamos neles novos bilhões provenientes de impostos e, mesmo assim, perdemos do dia para a noite o controle sobre o nosso sistema bancário. Como se isso não bastasse, os bancos foram vendidos para fundos de hedge (ou fundos de cobertura), ou seja, justamente para aqueles que os políticos de esquerda gostam de chamar de abutres do mercado."

Até mesmo a deputada liberal e ex-ministra do Exterior Dora Bakoyannis, defensora da economia de mercado, expressou críticas. Após a recente rodada de recapitalização, a participação estatal nos bancos gregos caiu de 25 bilhões de euros para 500 milhões, de modo que as instutuições de crédito desvalorizaram e completamente, criticou Bakoyannis em uma pergunta parlamentar.

Costas Stoupas afirma não concordar com tal retórica de patriotismo econômico. "Numa sociedade moderna e de conexão global, as empresas atuam internacionalmente, de qualquer forma. O decisivo não é a origem do capital, mas a questão se o investidor respeita o direito e a lei", explicou o analista.

Bolsa de Atenas no vermelho

Também não se deve esquecer que o controverso resgate dos bancos gregos afeta a já abalada Bolsa de Valores de Atenas. Somente a partir do dia 14 de dezembro poderão ser oferecidas à venda, possivelmente a preço de banana, as ações adquiridas na sequência da recapitalização.

Já agora o desenvolvimento das ações existentes é claramente negativo: em determinados dias, alguns títulos bancários chegaram a perder até 30% de seu valor. "É claro que isso era de se esperar", disse o analista Costas Stoupas. "Atualmente, alguns acionistas tentam se livrar de seus títulos a um preço razoável, antes que os novos colegas entrem no negócio com as ações que adquiriram a preço baixo. Por esse motivo, o índice bancário desliza para o vermelho, e acredito que ainda exista muito espaço para baixo."