União da Eurásia
20 de dezembro de 2011A Rússia organiza no momento uma nova aliança com antigas repúblicas soviéticas. O projeto de integração leva o nome de "União da Eurásia" e deverá funcionar nos moldes da União Europeia. Os países fundadores são, além da própria Rússia, Belarus e o Cazaquistão, cujos chefes de Estado e governo reuniram-se nesta segunda-feira (19/12) em Moscou.
A União da Eurásia é a menina dos olhos do premiê russo e candidato à presidente Vladimir Putin. Sua proposta, segundo um artigo publicado pelo próprio em outubro último no jornal Isvestya, não é restaurar ou imitar o que foi a União Soviética. Trata-se, de acordo com ele, do "modelo de uma nova união, forte e supranacional, que poderá se tornar um polo no mundo moderno, desempenhando o papel de 'ligação' efetiva entre a Europa e a dinâmica região asiática do Pacífico". Aos interessados em aderir ao grupo, a Rússia promete vantagens econômicas, como gás natural mais barato, por exemplo.
Nova velha integração
As sugestões de Putin não são novas. Depois da derrocada da União Soviética aconteceram algumas tentativas de manutenção das ligações entre as antigas repúblicas soviéticas. O exemplo mais conhecido foi a fundação da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), em dezembro de 1991. Observadores veem a união hoje como fracassada, embora ela ainda sirva como plataforma para os encontros entre chefes de Estado e governo, como o que ocorreu em Moscou.
Vozes críticas apontam que a CEI não levou a nenhum progresso em termos de integração, exceto o acordo de livre comércio, assinado por oito países em outubro de 2011. A CEI se mostrou também ineficiente para resolver conflitos políticos, segundo grande parte dos especialistas, como por exemplo a guerra entre a Geórgia e a Rússia, em 2008, que não pôde ser evitada pela organização. Depois do conflito, a Geórgia deixou a CEI.
A ideia de uma zona econômica comum entre Rússia, Belarus, Ucrânia e Cazaquistão também já existiu em 2003, embora mais no papel que na realidade. Agora a ideia está sendo ressuscitada, só que sem a Ucrânia, que por sua vez anseia por uma adesão à União Europeia.
Europa como exemplo?
No dia 1° de janeiro de 2012, entra em vigor a nova versão de uma zona econômica comum entre a Rússia, Belarus e o Cazaquistão. Os três países já haviam assinado uma união alfandegária em 2007, que começou a vigorar há poucos meses. A meta final é uma União da Eurásia, que, segundo o premiê russo Putin, poderá se tornar realidade até 2015. O modelo a ser seguido por tal união é a UE. As semelhanças já começam pelo nome: União Europeia e União da Eurásia. Como órgão supranacional de controle, a "Comissão Econômica da Eurásia" deverá agir de forma parecida com a Comissão da UE em Bruxelas, iniciando seus trabalhos em janeiro de 2012.
Boris Gryzlov, atual presidente do Parlamento russo, anseia até mesmo por um "Parlamento eurasiano". A introdução de uma moeda comum é outro assunto em pauta, embora especialmente importante seja o princípio da igualdade entre os países-membros nesta nova aliança, salientam políticos russos. Só não se sabe se isso será possível.
Abraços russos
Na Rússia de Putin, eleições parlamentares acabaram de ser fraudadas. Dez mil pessoas foram às ruas protestar. Em Belarus, Alexander Lukashenko é considerado "o útlimo ditador da Europa", sendo confrontado com sanções cada vez mais fortes por parte da UE. E o presidente do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev, que governa o país há mais de 20 anos, continua sendo uma personalidade cultuada pela população. No início de dezembro, o governante, aos 71 anos de idade, foi declarado "herói do povo".
A união desses países não irá se transformar em uma UE do Leste, acredita Gerhard Simon, da Universidade de Colônia. Segundo o especialsita em Leste Europeu, não se pode falar de um equilíbrio como o que existe na UE. "Para mim, é inimaginável que a classe política russa esteja em condições de dar ao Quirguistão o direito de tomar decisões político-econômicas, que envolvam a Rússia", diz Simon.
O especialista tampouco acredita que a União da Eurásia esteja sendo formada somente com prognósticos econômicos. "Por trás disso está a meta de uma integração maior, em termos de política de segurança, militar e política", afirma o especialista, que diz não ter quaisquer dúvidas de que a Rússia irá assumir o comando da união.
O povo diz sim, mas…
Simon acha ainda difícil estimar se esta nova união de países irá ser bem-sucedida. Outros especialistas acreditam que seja possível. Alexander Rahr, do Centro Berthold Beitz, ligado à Sociedade Alemã de Política Externa (DGAP), não exclui a possibilidade de que uma nova união político-cultural e econômica surja no Leste Europeu.
Eberhard Schneider, do Centro Russo-Europeu em Bruxelas, acredita nas chances de sucesso de uma união, semelhante à UE, sem circulação livre de pessoas, mercadorias, finanças e prestação de serviços. Esta união, contudo, contará apenas com alguns Estados pertencentes à antiga União Soviética, salienta Schneider.
Uma cooperação mais estreita com as antigas repúblicas soviéticas parece contar também com o apoio da maioria da população russa. Segundo uma enquete realizada pelo Instituto de Pesquisa de Opinião WZIOM, 43% dos russos acreditam que uma zona econômica comum iria trazer mais benefícios que prejuízos. Um terço destas pessoas, contudo, defendem a ideia de parcerias, sem a criação de uma união.
Mas os russos estão evidentemente mal informados a respeito dos planos de integração do governo do país: apenas 53% dos consultados pelo Instituto de Pesquisa de Opinião Lewada sabiam que a Rússia, Belarus e o Cazaquistão irão unir suas economias a partir de 1° de janeiro de 2012, enquanto 45% dos questionados não tinham conhecimento algum da questão.
Autor: Roman Goncharenko (sv)
Revisão: Carlos Albuquerque