Teff: o grão etíope que começa a chamar a atenção do mundo
25 de fevereiro de 2015A cada seis dias, um avião da Ethiopian Airlines parte de Addis Abeba para Washington, carregado com uma remessa de três mil injeras frescas. A massa em forma de panqueca, acinzentada e esponjosa, é um elemento básico da culinária etíope há séculos e é feita a base de teff, um cereal que vem ganhando fama mundial como saudável.
“Estamos planejando distribuir a comida tradicional etíope por todo mundo no futuro”, revela Hailu Tassema, criador da Mama Fresh, empresa que envia o carregamento de injera para os Estados Unidos e é a primeira a produzir alimentos à base de teff em larga escala.
Na fábrica, a farinha de teff misturada com água é fermentada por quatro dias em barris. Depois, a mistura é levada a outro setor, onde uma mulher coleta quantidade equivalente a um pequeno jarro e despeja a mistura sobre uma superfície de argila aquecida. Em um minuto, a injera está pronta.
Cálcio, ferro, proteínas e aminoácidos
As pequenas sementes de teff são ricas em cálcio, ferro, proteínas e aminoácidos, além de serem naturalmente livres de glúten. Os etíopes têm o costume de triturar os grãos e transformá-los em farinha para fazer injera desde bem antes da existência do Estado da Etiópia, mas não tinham consciência da riqueza nutricional do alimento.
No entanto, a demanda global crescente por alimentos saudáveis, impulsionada por imigrantes etíopes em cidades americanas e europeias, colocou o teff em destaque. O grão pode ser usado para produzir qualquer alimento à base de farinha – como pães, massas, tortilhas e biscoitos.
A empresa Mama Fresh tem consumidores também na Europa: envia injera para a Suécia três vezes por semana, para a Noruega duas vezes por semana e para a Alemanha três vezes por mês. A demanda, de acordo com Tessema, cresce 10% mensalmente.
“Predominantemente são os europeus que estão comprando pães de teff. Aqueles que não podem comer trigo ou optam por consumir outros grãos estão usando pão de teff para substituí-los”, afirma Sophie Kebede, proprietária da Tobia Teff, empresa britânica especializada em grãos.
“Quando começamos, em 2007, ninguém sabia sobre o que eu falava quando eu mencionava teff, se era um pudim de Natal ou uma banana split. Mas eu estou muito feliz de dizer que nós avançamos. Não é um nome tão popular, mas muitas pessoas sabem o que teff significa”, diz Kebede.
Proteção do governo
Kebede negocia o teff com fazendeiros de países ao sul do Mediterrâneo, porque o Ministério do Comércio da Etiópia restringe estrategicamente as exportações por questão de segurança alimentar.
Aparentemente o governo teria razões para proceder cautelosamente. A ascensão global do teff segue a mesma tendência da semente de quinoa, também reconhecidamente saudável. O aumento do consumo em países mais ricos fez com que o cultivo da quinoa se tornasse mais caro em algumas áreas.
“O governo tem que cobrir o consumo diário do país para depois exportar, o que eu considero positivo”, ressalta Kebede. “Mas, ao mesmo tempo, é muito melhor para nós, se conseguirmos negociar teff com um produtor etíope, porque quem seria melhor do que um produtor etíope quando se trata de teff.”
É consenso entre os envolvidos na indústria do teff de que a barreira vai ser suspensa eventualmente. Mesmo assim, supõe-se que será necessária coordenação para se saber quando e como o governo vai adotar a medida.
“Obviamente você corre o risco de aumentar o preço do teff no mercado interno e definitivamente ninguém quer isso”, afirma o americano Matthew Daves, da Renew Strategies, empresa que investe na Mama Fresh. “Eu acho que o governo vai ser bastante cuidadoso com a maneira que ele vai controlar a exploração do produto, dando licenças para um número limitado de empresas e exportadores.”
Ele percebeu que muito teff está saindo do país de forma ilegal, passando pelas fronteiras de Djibuti e da Somália para o Ocidente. “Se isso acontecer, é preciso controlar e coletar impostos para todos ficarem satisfeitos”.
Modo de produção antigo
Apesar de todos os elogios sobe as propriedades nutritivas do teff, a semente tem um ponto fraco. Devido à produção do teff ter sido previamente limitada à Etiópia, não foi foco da pesquisa agrícola internacional. Os agricultores etíopes também não têm acesso a técnicas e métodos de produção disponíveis para outras culturas.
As restrições mantêm a produção baixa e incapaz de acompanhar o crescimento populacional na Etiópia. O fenômeno acaba fazendo com que o preço do grão fique muito alto para algumas famílias. A Agência de Transformação Agrícola da Etiópia trabalha para o aumento da produção de teff a fim de atender, pelo menos, a demanda doméstica. Depois de a meta ser atingida, a expectativa é de que a exportação do grão seja um processo natural.
“A oportunidade que se apresenta para o país é bastante significativa, e o benefício a longo prazo compensa bastante os riscos”, explica Davis. Segundo ele, a indústria teria que buscar um foco comercial e se profissionalizar para exportar efetivamente, adotando medidas para não enfraquecer o mercado local.
Durante a safra do teff, os produtores continuam usando gado para a colheita, além de garfos de cinco pontas para o joeiramento. Mesmo com as dificuldades, quem está à frente da expansão global do teff, como Hailu Tessema e sua empresa, Mama Fresh, parecem satisfeitos.
“Eu estou muito feliz que a Etiópia seja a introdutória do teff. Assim como o café, o nosso grão está se tornando importante no mundo todo”, afirma.