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Traficantes usam costa africana como rota de drogas para Europa

2 de março de 2012

Países como o Senegal, a Libéria e a Guiné-Bissau transformaram-se em pontos cruciais para o tráfico da cocaína. Criminosos transportam a mercadoria para a Europa passando pela África Ocidental.

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Foto: AP

Os países do oeste africano estão se tornando rotas cada vez mais significativas para os cartéis que controlam o tráfico de drogas na América do Sul, pois este é o caminho mais curto e mais barato para transportar a produto para a Europa. A afirmação é de Juri Fedotov, diretor do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Combate à Criminalidade (Unodc). Ele estima que os cartéis chegam a lucrar em torno de 680 milhões de euros por ano com o negócio.

Segundo Aisser al-Hafedh, encarregado da África Ocidental do Unodc, o volume da cocaína apreendida na região caiu mais de 50% entre 2006 e 2009 – de 47 toneladas para 21 toneladas. Isso não significa, contudo, que o contrabando diminuiu, mas sim, que as redes criminosas teriam mudado suas estratégias. E, para Al-Hafedh, as autoridades dos países envolvidos precisam se adequar a elas.

Os criminosos desenvolveram, por exemplo, um sistema de transporte bastante profissional. A droga chega de avião, navio ou mesmo de submarino em uma das ilhas da costa, como Cabo Verde, e são transportadas de lá em unidades menores. As condições de segurança instáveis e a fraca fiscalização das fronteiras dos países do oeste africano como Serra Leoa, Senegal ou Libéria facilitam o contrabando.

Perigo rondando

Outro exemplo é Guiné-Bissau. Por causa de suas muitas ilhas ao longo da costa e da crise política local, o país acabou se tornando nos últimos anos um ponto importante do tráfico de drogas para a Europa.

Na Guiné-Bissau muitos lucram com o tráfico
Na Guiné-Bissau muitos lucram com o tráficoFoto: AP

Além disso, instâncias federais como a marinha, a alfândega e os militares não são exatamente confiáveis neste sentido, pois, segundo a ativista Priska Hauser-Schrerer, eles mesmos faturam com o comércio da droga no país.

"O tráfico desestabiliza enormemente a situação porque é algo muito perigoso. Não se pode cruzar o caminho de um traficante sem temer pela sua própria vida", avalia Hauser-Scherer, que trabalha para a organização antidroga IOGT, na Guiné-Bissau.

Situação parecida vive o Senegal. Na província de Casamance, ao sul do país, desde a década de 1980 impera uma guerra entre combatentes independentes e soldados senegaleses. "O tráfico de drogas nesta região aumentou principalmente por causa da crise econômica e das péssimas condições de segurança", explica Fatoumata Sy Gueye, diretora de programas da Fundação Konrad Adenauer em Dacar.

"Em outras regiões do Senegal o tráfico de drogas está ganhando mais peso, pois para muitas pessoas ele é a única maneira de ganhar dinheiro", disse Gueye.

Emprego para traficantes

Apesar de o Senegal ser um dos países mais avançados do oeste africano, ele ainda tem grandes problemas econômicos. O preço dos alimentos é alto e quase metade da população está desempregada.

A cocaína chega até de submarino nas ilhas da costa oeste, como Cabo Verde
A cocaína chega até de submarino nas ilhas da costa oeste, como Cabo VerdeFoto: Polícia Judiciária de Cabo Verde

Fatouma Sy Gueye acredita que principalmente os mais jovens precisam urgentemente de trabalhos formais, para voltarem a ter melhores perspectivas de vida. O Senegal precisaria encontrar alternativas para buscar financiamentos e para se manter no dia a dia.

Com o crescimento do contrabando do oeste da África para a Europa, mais drogas ficam nos países africanos para serem revendidas ou mesmo consumidas. Segundo o Unodc, os traficantes da África que cooperam com os sul-americanos recebem o pagamento também em drogas – isso acontece em uma significativa parte da região.

O Unodc levantou ainda em seu mais recente relatório que, em 2009, 21 toneladas de cocaína chegaram à Europa depois de passarem pelo oeste africano. Outras 13 toneladas teriam ficado nos países para serem consumidas.

Autora: Claudia Zeisel (msb)
Revisão: Carlos Albuquerque