Turismo na Grécia cresce em meio à crise, mas só para estrangeiros
4 de setembro de 2013Andreas Andreadis é um homem de negócios confiante, que não esconde o que pensa. Enquanto os gregos iam às ruas protestar contra as medidas de austeridade, ele, na condição de presidente da Federação das Empresas de Turismo da Grécia, agradecia publicamente à chanceler federal alemã, Angela Merkel, pela pressão feita sobre Atenas. Nos últimos anos, suas críticas foram quase sempre para os próprios políticos gregos.
Durante o verão europeu, no entanto, Andreadis pôde relaxar um pouco mais. Isso porque o país nunca recebeu tantos turistas como agora – graças, sobretudo, aos estrangeiros. "Havíamos estabelecido para este ano uma meta audaciosa de 17 milhões de visitantes no país. Tudo indica que atingimos este resultado, e pode ser ainda que o tenhamos superado", comemora.
Segundo seus cálculos, isso significa um crescimento de mais de 10% em comparação com o ano passado – isso sem contar os viajantes de cruzeiros. E ele ressalta ainda que, de acordo com o banco central grego, os gastos dos visitantes aumentaram 18% no período.
Pela primeira vez desde o início da crise financeira na Europa as reservas de turistas alemães, por exemplo, voltaram a crescer. Segundo levantamentos do setor, a procura neste ano aumentou 15% com relação a 2012, quando houve uma grande retração.
Paralelamente os gregos se esforçam para atrair novos mercados. E parecem ter alcançado os primeiros resultados positivos: o número de turistas russos está perto de bater a casa de 1 milhão, o volume de reservas a partir da Ucrânia dobrou do ano passado para cá e, pela primeira vez, a Grécia deve receber mais de 800 mil visitantes da Turquia.
Gregos ficam em casa
Já os gregos, porém, não estão em condições de bancar uma temporada de férias no próprio país. Para evitar gastos, 60% dos moradores do país evitaram viajar neste verão ou optaram apenas por visitar amigos e parentes, por alguns poucos dias, em suas cidades de origem.
A retração do turismo interno também é um problema, explica Andreadis. De 2008 para cá, o faturamento no setor praticamente caiu pela metade e encontra-se, atualmente, em 1,5 bilhão de euros por ano. Já entre os turistas estrangeiros os ganhos chegam a 11,5 bilhões de euros.
"Do ponto de vista econômico, é muito importante que o número de visitantes estrangeiros cresça. Nossa balança comercial depende disso", afirma Andreadis, proprietário de um hotel de luxo na península grega de Calcídica.
Se a tendência positiva no setor permanecer, o turismo poderá ser um importante instrumento para voltar a alavancar a economia grega, que já vive seu sexto ano seguido em crise. Atualmente, o fluxo do exterior responde por quase um quinto do PIB do país e compõe a terceira coluna mais importante da economia da Grécia, juntamente com o setor marítimo e a agricultura.
Ainda não se pode afirmar que o turismo será um motor de crescimento que vai tirar a Grécia da crise. O primeiro-ministro grego, Antonio Samaras, porém, mostra-se confiante. "Precisamos segurar até o verão [de julho a setembro]. A partir de setembro nossa economia deve dar um grande salto", garantiu no final do ano passado.
O analista econômico e diretor do site grego especializado em finanças capital.gr, Thanassis Mavridis, observa a situação com cautela: "Nossa economia precisa de uma história de sucesso, de uma fonte de esperança. Este boom turístico é uma mensagem certa no momento certo. Mas com certeza não é motivo para soltar fogos".
Instabilidade no Egito pode ajudar
Apesar dos ganhos registrados no setor turístico, diz ele, a Grécia permanece aquém de sua capacidade de lucro e não aproveita todo seu potencial no ramo. O governo precisa criar condições adequadas para que o turismo possa movimentar a economia grega, opina Mavridis.
Todos concordam que a temporada turística deveria ser prolongada, mas ninguém faz nada para que isso se concretize. O especialista ressalta ainda que o setor de imóveis para temporada oferece um grande potencial, que não é de todo aproveitado.
"Por conta da insegurança legal para os proprietários de imóveis, muitos investidores temem que a compra de imóveis no país. Já Espanha e Turquia estão bem à frente da Grécia, e têm muitos imóveis vendidos para estrangeiros", diz o analista.
De qualquer maneira, a temporada turística na Grécia neste ano vai durar mais do que o de costume, preveem especialistas. Isso porque, com os tumultos no Egito e em outros países próximos – que costumam ter um bom apelo turístico durante os meses de primavera europeia – espera-se que os visitantes troquem o destino inicial pela Grécia.
Andreas Andreadis também confia nesta hipótese. No entanto, ele avalia que os riscos oferecidos no caso de uma grande crise no Oriente Médio são maiores do que a possibilidade de efeitos positivos em curto prazo. "Um ataque à Síria iria prejudicar bastante a economia grega, especialmente nosso setor de cruzeiros marítimos. Os problemas dos nossos vizinhos nos trazem maus agouros", pondera.