Turquia tenta conter crise monetária
13 de agosto de 2018A Turquia anunciou nesta segunda-feira (13/08) uma série de medidas para conter a forte desvalorização de sua moeda, incluindo a injeção de 6 bilhões de dólares no sistema financeiro do país para garantir a liquidez dos bancos e parar a queda da lira frente ao dólar.
O Banco Central da Turquia (TCMB) informou que proporcionaria toda a liquidez necessária aos bancos e prometeu adotar "todas as medidas necessárias" para assegurar a estabilidade financeira. Em comunicado, informou ainda que reduziu os limites de reservas de divisas permitidas aos bancos turcos para assim retirar liras do mercado, dar liquidez ao sistema e estabilizar o valor da moeda.
Mas o impacto do anúncio foi perdido algumas horas depois, quando o presidente Recep Tayyip Erdogan lançou vários ataques verbais ao governo dos Estados Unidos, provocando uma nova desvalorização da lira.
O sobe e desce da lira turca teve efeitos na cotação do real. Investidores têm mantido cautela diante da situação turca. O dólar comercial subiu 1% em relação à moeda brasileira, que estava sendo cotada a 3,922 na venda no início da tarde desta segunda-feira.
Na opinião dos analistas, parte da desvalorização da moeda turca se deve às tensões diplomáticas com os Estados Unidos. A lira turca já perdeu mais de 40% de seu valor em 2018 na comparação com o dólar e o euro. Na sexta-feira (10/08), sofreu nova queda acentuada, o que provocou uma onda de turbulência nos mercados.
No início desta segunda-feira, a moeda da Turquia estava sendo cotada acima de 7 liras por dólar, mas o anúncio do Banco Central acabou ajudando a reduzir parte das perdas, e o valor da cotação baixou por algumas horas. No entanto, o discurso de Erdogan acabou fazendo a moeda sofrer nova desvalorização e levar o dólar a ser cotado mais uma vez acima de 7 liras.
Erdogan disse que os EUA querem "esfaquear pelas costas" a Turquia por meio de medidas econômicas, apesar de ambos serem aliados. "Por um lado, somos aliados estratégicos, por outro disparam em nossos pés. Por uma parte, quando todos deixaram o Afeganistão, nós seguimos, estamos na Somália com a Otan... E depois tem que enfrentar que te apunhala pelas costas", queixou-se o presidente.
Erdogan também criticou o aumento de taxas tarifárias sobre o aço e alumínio turcos, medida anunciada no Twitter pelo presidente americano, Donald Trump, na sexta-feira passada.
"Existe uma Organização Mundial do Comércio. Não se pode ir dormir e quando se acorda existe a notícia de que há novas tarifas ao aço", disse o líder turco.
Não são apenas questões econômicas que vêm provocando turbulências entre Ancara e Washington.
A desvalorização da lira acelerou nas últimas duas semanas ao mesmo tempo em que aumentava a crise diplomática relacionada com o início do julgamento e de uma nova detenção na Turquia de um pastor evangélico americano.
As autoridades turcas acusaram o pastor Andrew Brunson de espionagem e de atuar em conluio com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), classificado como "organização terrorista" pelo governo Erdogan, e ainda com o religioso Fethullah Gülen.
Exilado nos EUA desde 1999, o oposicionista Gülen é apontado por Erdogan como o mentor da tentativa frustrada de golpe de Estado de julho de 2016 na Turquia.
Brunson, que rejeita as acusações, corre o risco de receber pena de até 35 anos de prisão. Preso em outubro de 2016, seu julgamento já transcorre desde o segundo trimestre do ano corrente. Devido a "problemas de saúde", ele foi colocado em prisão domiciliar no dia 26 de julho, por decisão de um tribunal turco.
Em reposta ao caso, os Estados Unidos anunciaram sanções contra os ministros do Interior e da Justiça da Turquia, Suleyman Soylu e Abdulhamit Gul, que foram acusados de ter desempenhado um papel ativo na prisão do pastor.
JPS/afp/rt/efe
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