Turquia à espera do 'sim' da UE
15 de dezembro de 2004Basta que um país imponha veto, na reunião de cúpula de 17 de dezembro, e a decisão ficará bloqueada. Mas até agora nenhum chefe de governo anunciou claramente um 'não' ao início das negociações com a Turquia para seu ingresso na União Européia. Em muitos dos países-membros reina um certo desconforto nesta questão. As opiniões a este respeito divergem, independentemente de posições partidárias.
Chirac isolado
Praticamente nenhum outro chefe de Estado europeu está tão isolado quanto o presidente da França, Jacques Chirac. Seu pleito em favor da Turquia gerou muita resistência dentro do próprio país. Mesmo seu partido, a União por um Movimento Popular (UMP), rejeita o ingresso, alegando que a UE ficaria "totalmente desnaturalizada". Nem a Europa nem a Turquia estão preparadas para esse passo, afirmam os representantes do partido conservador.
Chirac teme agora que o plebiscito sobre a Constituição Européia, agendado para 2005, acabe se transformando numa disfarçada votação sobre a Turquia, conduzindo a um resultado negativo. Por isso o presidente francês veria com bons olhos que as negociações fossem adiadas o máximo possível.
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Reservas na Áustria e na Holanda
Os delegados turcos temem, por sua vez, que a hesitação do governo francês reforce as reservas existentes em outros países. Por exemplo, na Áustria, onde a posição crítica do chanceler federal Wolfgang Schüssel é conhecida. E ele tem influência, já que coordenou desde o início de novembro a política dos democratas-cristãos europeus para a Turquia.
Do primeiro-ministro da Holanda, Jan Peter Balkenende, que vai conduzir a conferência de cúpula em sua condição de atual presidente do Conselho da UE, espera-se um voto favorável. Mas ele encontra forte resistência dentro do próprio governo. O ministro do Interior, Johan Remkes, por exemplo, teme um prejuízo para a identidade européia através da Turquia.
Os baluartes Alemanha e Reino Unido
Um país em que a Turquia pode confiar é a Alemanha: o governo já tomou há muito posição favorável ao ingresso e não faz segredo disso. O chanceler federal Gerhard Schröder vê naquele país um parceiro estratégico capaz de contribuir para o fortalecimento do papel geopolítico da UE. Quem não dá sossego é a oposição, que defende uma "parceria estratégica" para a Turquia – uma proposta que conta com simpatia também em outros países que se opõem ao ingresso.
Com o Reino Unido, o primeiro-ministro Tayyip Erdogan também pode contar: o premiê Tony Blair sempre foi um dos mais ferrenhos defensores da participação da Turquia na UE. A Itália tampouco preocupa Erdogan, que mantém relações de amizade com o chefe de governo Silvio Berlusconi, padrinho de casamento de seu filho em 2003.
Aprovação apesar de controvérsias
O premiê turco pode manter-se despreocupado também com relação a Portugal, Espanha e Malta. Já no passado os países mediterrâneos se posicionaram favoravelmente a este respeito.
A aprovação é vista como certa – apesar de debates controversos – também na Dinamarca, Finlândia e Irlanda. A Suécia e a Bélgica apóiam igualmente a recomendação da Comissão Européia. Em Luxemburgo, o chefe de governo, Jean-Claude Juncker, fala, de maneira mais crítica, de negociações com "resultados em aberto". Ele não duvida, porém, da capacidade da UE de integrar um país islâmico como a Turquia.
Cipriotas hesitantes
Mesmo a Grécia, que se opôs durante muito tempo ao ingresso da Turquia, mudou de posição. A aproximação entre os dois países teve como resultado o apoio dos grandes partidos populares gregos à reivindicação da Turquia.
Mas quem se mantém hesitante ainda são os cipriotas gregos. Como a Turquia não reconhece a República do Chipre, o presidente Tassos Papadopoulos já ameaçou várias vezes vetar o início das negociações. O mais provável é que o país imponha condições para concordar.
Leste Europeu a favor
Do Leste Europeu, parece não soprar nenhum vento que ameace o início das negociações. O primeiro-ministro da Polônia, Marek Belka, já ressaltou o papel da Turquia como ponte para o Oriente Médio. A Hungria e a República Tcheca apóiam igualmente a inclusão do país no bloco. É tida ainda como certa a anuência da Eslováquia, Eslovênia e dos três países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia).