Pela Grécia e pelo euro
25 de março de 2010Antes mesmo do início da reunião dos chefes de Estado e governo dos países-membros da União Europeia (UE), nesta quinta-feira (25/03) em Bruxelas, um modelo misto de ajuda financeira à Grécia já se anunciava, com recursos dos países da zona do euro e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Após uma série de conversas bilaterais, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, apresentaram ao Conselho da UE a proposta de um "pacote de ajuda combinado". Dela consta a exigência de Merkel de que a Grécia só requeira essa ajuda quando não mais puder se refinanciar nos mercados de capitais. Agora, cabe ao presidente do Conselho, Herman Van Rompuy, apresentar a proposta aos 16 países da zona do euro.
Crise sem precedentes
A discussão dentro da UE sobre a ajuda financeira à endividada Grécia já dura semanas. No início, a maioria dos países recusava a participação do FMI na ajuda à economia europeia.
No entanto, as dívidas acumuladas durante a crise por países da zona do euro, como Grécia, Espanha e Portugal, provocaram uma tensão até então não registrada na união monetária, desde sua criação há 11 anos. Em Bruxelas, o que estava em jogo era a própria estabilidade do euro. Analisando o caso da Grécia, pode-se ter ideia de como a situação chegou a tal ponto.
Desde que o novo ministro grego das Finanças, George Papaconstatinou, revelou em outubro do ano passado o montante das dívidas de seu país, ficou clara a ameaça de falência estatal que paira sobre a Grécia.
Pecados do passado
Devido às imensas dívidas e estatísticas forjadas, Atenas perdeu a confiança dos mercados financeiros. O país deve mais de 300 bilhões de dólares a bancos estrangeiros, o que equivale a 115% de seu Produto Interno Bruto (PIB). Em 2009, o déficit orçamentário da Grécia correspondeu a quase 12,5% de seu PIB. O Pacto de Estabilidade do Euro prevê um máximo de 3%.
Para o professor de macroeconomia da Universidade de Leipzig, o grego Spiros Paraskevopoulos, as raízes desses problemas estão nos pecados do passado.
Segundo ele, "a política de crescimento e desenvolvimento dos últimos 30 anos se baseou no consumo. O problema é que quando esse consumo é financiado através de empréstimos, tais dívidas têm de ser ressarcidas". Mas não se realizou nenhum investimento para que essas dívidas pudessem ser pagas. "E agora o circo está montado: a Grécia viveu acima de suas possibilidades, tanto o Estado quanto os cidadãos", explicou o especialista em economia.
União monetária
Também na década de 1980 e 1990, a Grécia foi confrontada com dificuldades para amortização de dívidas. Na época, os governos socialistas procuraram solucionar o problema através da desvalorização da dracma, antiga moeda grega.
Com a entrada da Grécia na união monetária europeia, essa política passou a pertencer ao passado, afirmou o especialista em economia Babis Papadimitriou. "As elites políticas e os governos da Grécia dos últimos anos não compreenderam o significado de pertencer à união monetária", explicou Papadimitriou, acrescendo que, quando se divide a mesma moeda com outros países, uma redução dos déficits é algo óbvio. "Mas os governantes ignoraram esse princípio. E as reformas necessárias não foram implementadas", concluiu.
Euro sob risco
No momento, todavia, salvar a Grécia significa mais do que ajudar um país-membro do bloco europeu. Em sua edição de sábado, o diário holandês de Volkskrant comentou que "a bancarrota de um país levaria a um déficit bilionário em bancos na Europa – com todas as consequências para sua estabilidade, conseguida com muito esforço".
Além disso, afirmou o diário holandês, os mercados financeiros poderiam se voltar contra os países-membros enfraquecidos da zona do euro, principalmente, Portugal e Espanha. "Se isso acontecer, até mesmo a existência do euro está em risco", comentou o jornal.
Autor: Stamatis Assimenios / Carlos Albuquerque
Revisão: Augusto Valente