União Européia critica remoção de manifestantes em Minsk
24 de março de 2006
Os chefes de Estado e de governo da União Européia decidiram nesta sexta-feira (24/03) impor sanções contra Belarus, em reação à remoção, nesta madrugada, em Minsk, dos participantes do protesto contra o resultado das eleições do último domingo naquele país.
A ministra das Relações Exteriores da Áustria, Ursula Plassnik, disse em nome dos 25 representantes dos países-membros reunidos no encontro de cúpula em Bruxelas, que serão impostas novas sanções ao presidente bielo-russo, Alexander Lukashenko.
"A UE decidiu adotar medidas restritivas contra os responsáveis políticos e administrativos pelas violações, incluindo o presidente", disse Plassnik. A ministra apelou ainda às autoridades bielo-russas que "se abstenham de ações adicionais" contra os manifestantes que contestam as eleições de domingo passado e pediu a "libertação imediata" de todos os detidos.
Ela apelou ainda aos "parceiros internacionais e, em particular, aos outros países vizinhos da Belarus, para que sigam a mesma abordagem". Recusando citar diretamente a Rússia, que tem defendido a posição de Lukashenko, a ministra austríaca afirmou que o seu apelo é "suficientemente explícito". Também a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, apóia o movimento pacífico da oposição em Minsk.
"É a última ditadura da Europa. Devemos tomar uma posição firme", disse o primeiro-ministro sueco, Goeran Persson.
O ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walther Steinmeier, criticou a remoção dos manifestantes em Minsk. "Exigimos que o governo de Belarus libere os políticos de oposição". A mesma exigência foi feita pelo governo norte-americano e pela União Européia. Steinmeier sugeriu ainda que o líder da oposição Alexander Milinkovitch e outros políticos de seu partido sejam convidados a participar do próximo encontro dos ministros da União Européia, no dia 10 de abril.
Sanções ainda não foram definidas
Segundo um porta-voz da UE, os líderes europeus tomaram a "decisão política" de impor novas sanções, ficando para mais tarde a decisão de que sanções, em concreto, vão ser aplicadas. Na segunda-feira, os ministros do Exterior da UE decidiram adiar a eventual imposição de sanções suplementares ao regime de Minsk até que pudessem analisar o relatório da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
Logo depois das eleições que resultaram na reeleição de Lukashenko com 83% dos votos, a missão de observadores da OSCE considerou que o processo eleitoral desrespeitou "as normas internacionais exigidas para eleições livres e justas".
As sanções européias em vigor contra Belarus proíbem a entrada na UE de seis altas lideranças do regime, suspeitas de envolvimento no desaparecimento de oposicionistas e de um jornalista, bem como de fraudes no referendo de outubro de 2004, que deu a Lukashenko, no poder desde 1994, o direito de se apresentar indefinidamente à sua própria sucessão.
Prisão dos manifestantes
Em uma ação-relâmpago, a polícia de Belarus removeu os participantes da manifestação contra o resultado das últimas eleições no país. Na madrugada desta sexta-feira, cem homens de uma unidade especial da polícia entraram em ação na Praça Outubro, em Minsk, contra os mais de 2000 manifestantes. Não houve uso de força, mas cerca de 280 pessoas foram levadas para um centro de detenção.
O líder da oposição bielo-russa, Alexander Milinkovitch, disse aos jornalistas que "o governo de Lukashenko só conhece a linguagem da violência". Milinkovitch anunciou que a oposição vai se ater às manifestações planejadas para este sábado.
Outro político da oposição, Alexander Konsulin, disse que "o governo bielo-russo perdeu a cabeça" e teria ordenado a ação policial durante a madrugada para "evitar testemunhas".
Acusações de Moscou contra a OSCE
O ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, acusou a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) de instigar os protestos contra a eleição presidencial em Belarus, agindo como uma verdadeira "incendiária em Belarus". "Infelizmente tivemos que acompanhar como a comissão de observação da OSCE criticou o processo eleitoral mesmo antes do dia previsto para a eleição", disse Lavrov.
Após a vitória, Lukashenko recebeu os parabéns de Putin. A Rússia e Belarus fazem parte da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), fundada para facilitar e fortalecer a cooperação política, econômica e militar.