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Venezuela vence longa batalha contra artista alemão

10 de fevereiro de 2020

Em um final inesperado, pedra de 35 toneladas retirada de comunidade indígena voltará a parque nacional venezuelano, após 22 anos exposta no Tiergarten em Berlim. Brasil é alvo de artista na busca por substituta.

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Pedra Kueka no Tiergarten, em Berlim
Venezuela arcou com custos do transporte da pedraFoto: DW/C. Neher

Após 22 anos, a pedra de 35 toneladas que desencadeou um impasse diplomático entre a Alemanha e a Venezuela finalmente foi retirada do parque Tiergarten, em Berlim, para retornar ao seu local de origem no Parque Nacional Canaima, localizado na fronteira venezuelana com o Brasil e a Guiana.

A notícia do retorno da pedra surpreendeu, ainda mais num momento em que a Alemanha reconheceu o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino do país sul-americano. Apesar do reconhecimento, a negociação diplomática com o regime de Nicolás Maduro aparentemente seguiu na surdina. Em meados de janeiro, um acordo foi alcançado.

A pedra foi retirada da exposição no Tiergarten, sem avisos e anúncios, na última segunda-feira de janeiro. O governo venezuelano comemorou a vitória nas redes sociais. Segundo a imprensa alemã, Caracas se comprometeu a pagar o transporte do objeto de volta a seu país de origem – quem arcaria com essa despesa era um dos principais pontos de discórdia.

Já contei a história da pedra conhecida como Kueka aqui. No fim da década de 1990, um artista alemão teve a "brilhante" ideia de criar a exposição permanente Global Stones no Tiergarten, em Berlim, para promover a paz mundial. Ao escolher a pedra para representar a América e o amor, ele acabou causando um conflito diplomático que se arrastou por anos e, com sua recusa em devolvê-la, revelou ter um lado pouco pacifista.

Em 1998, o artista teria encontrado a pedra ideal na Venezuela, dentro de um parque tombado pela Unesco como patrimônio da humanidade. Segundo ele, o próprio governo venezuelano da época teria o presenteado com o mineral, conhecido pelos indígenas locais como Kueka. A comunidade pemón, que vive na região, contestava essa afirmação e argumentava que a Kueka foi levada sem que eles fossem consultados.

Os pemóns também afirmam que a Kueka é uma pedra sagrada e possui um importante significado para a sua cultura. Segundo eles, a pedra era a avó da comunidade, e sua remoção teria causado diversos desastres naturais na região. Além disso, por estar dentro de um parque tombado pela Unesco, não deveria ter sido retirada do local.

O artista contestava a versão dos indígenas, alegando que o governo venezuelano e ativistas teriam criado o mito da Kueka para manipular os pemóns. Ele chegou a apresentar como prova o parecer de um suposto especialista alemão em cultura pemón.

Em 2012, a disputa pela pedra levou centenas de pessoas à frente da embaixada da Alemanha em Caracas para protestar em favor da devolução. O artista acabou cedendo um pouco e disse estar disposto a devolver a Kueka, porém, somente se recebesse outra pedra para substituí-la.

Essa reivindicação aparentemente foi deixada de lado no atual acordo. Tanto que o artista anunciou que agora pretende buscar uma pedra no Brasil para completar sua exposição. Detalhes de onde e como ele quer encontrar a substituta não foram divulgados.

Estou curiosa para saber como será essa busca e seus limites éticos. Outro ponto que me interessa: qual será a reação dos pemóns ao verem o que aconteceu com a Kueka nos 22 anos que ela passou em Berlim? Além de ter sido polida e trabalhada pelo artista, ela ficou exposta a intervenções – muitos, principalmente turistas, não resistiram à tentação de escrever "fulano de tal passou por aqui em". A pedra, retirada intacta da Venezuela, voltará cheia de marcas para casa.

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Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy. Siga-a no Twitter @clarissaneher

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