Verdes: coesos, acima (ou apesar) de tudo
2 de outubro de 2004Como esperado, a estrela da Convenção Nacional dos Verdes foi aquele que, fora da Alemanha, já praticamente se transformou na cara do partido: o ministro do Exterior Joschka Fischer. "Quando ele fala, o ginásio fica cheio e todo mundo em silêncio. Tampouco vale para o superverde a regra que limita a duração dos discursos", observa o semanário Der Spiegel.
Política interna domina debates
Como se os temas relacionados à política internacional não fossem mais dignos de debate – por já estarem bem aos cuidados do próprio Fischer – a convenção do partido se voltou basicamente para assuntos de ordem interna. As divergências com a oposição democrata-cristã, detalhes da reforma tributária e arestas a serem aparadas em relação às mudanças no sistema de saúde são alguns dos assuntos que preenchem a pauta do partido, reunido neste fim de semana (02-03/10) em Kiel, no norte alemão.
A máxima do ministro foi reafirmar mais uma vez o que seus correligionários certamente já sabem: que a Alemanha "infelizmente não tem mais verbas suficientes para garantir o tipo de Estado do bem-estar social que os Verdes desejariam". Em relação aos social-democratas – parceiros de coalizão, que vêm enfrentando derrotas consecutivas nas urnas em eleições regionais – não sobrou tempo (e nem diposição) para críticas dignas de nota.
Críticas a Putin e a abrigos para refugiados
A única farpa em relação à política externa foi direcionada à Rússia, especialmente ao presidente Vladimir Putin. O presidente eleito do partido, Reinhard Bütikofer, salientou a distância dos Verdes da postura de Berlim em relação a Moscou. O próprio Fischer, titular da pasta das Relações Exteriores do país, contrabalançou afirmando que questões relacionadas aos direitos humanos e uma solução para os conflitos no Cáucaso são temas que vêm sendo discutidos intensamente entre os dois governos.
Já a aspiração da Alemanha de obter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, ao lado do Brasil, Japão e Índia, não fez parte dos debates no primeiro dia da Convenção verde. Dos propósitos polêmicos do ministro alemão do Interior, Otto Schily (SPD), de construir abrigos para refugiados fora das fronteiras da UE, os Verdes se distanciaram explicitamente.
Alas divergentes de mãos dadas
Com a reeleição por maioria absoluta do presidente Bütikofer (em nome da ala dos realos) e a volta à presidência do partido da veterana Claudia Roth (que já ocupou o cargo no passado e representa os agrupamentos à esqueda dentro da facção), os Verdes reafirmaram aquilo que acreditam ter sido, nos últimos anos, o grande trunfo do partido: a coesão. Uma postura lembrada várias vezes após os resultados positivos em vários pleitos regionais, nos quais a facção registrou um crescimento sensível.
Um sinal de que os Verdes, no decorrer dos últimos anos, se tornaram o que a mídia alemã chama de "um partido completamente normal". Deixando nos confins da memória as divergências nada suaves que já provocaram lágrimas em convenções anteriores e até mesmo um ataque pessoal que chegou a deixar ferido o ministro Joschka Fischer.