Vilarejo alemão vira símbolo da crise migratória
4 de novembro de 2015Segunda à noite, pouco depois das 20h. Cerca de 50 refugiados chegam de ônibus ao vilarejo de Sumte, no estado alemão da Baixa Saxônia. Outros 500 são esperados nos próximos dias. Eles devem se tornar em breve 750 – total mais do que sete vezes maior que a população local.
A razão para a multiplicação súbita de habitantes é que Sumte possui 20 edifícios de escritórios vazios, que puderam ser alugados no último instante pelo governo da Baixa Saxônia. A cantina do abrigo recém-criado pode acomodar até mil pessoas. Esse é o número de migrantes que a Secretaria do Interior do estado inicialmente queria transferir para o lugar.
Os habitantes da cidade souberam dos planos no início de outubro. O prefeito Christian Fabel custou a acreditar na notícia. "Mil refugiados! Isso é dez por habitante", disse à rádio Norddeutscher Rundfunk. "O clima local não é muito positivo. Nós não sabemos o que vamos ter que enfrentar".
Os moradores da cidade só ficaram sabendo de mais detalhes durante uma reunião convocada pela Secretaria do Interior, uma semana depois. No encontro, Fabel comunicou os temores dos residentes: relatou o medo deles com questões como segurança; possibilidades reduzidas de mercados na área para os refugiados fazerem compras; e duvidou se, por exemplo, a rede de telefonia móvel local pode dar vazão a tantas pessoas.
O jornal local Schweriner Volkszeitung relata que muitos moradores também expressaram abertamente sua desaprovação. Um cidadão citou preocupações sobre a influência sobre o turismo local – uma das poucas fontes de renda daquela região de infraestrutura fraca, localizada dentro de uma reserva natural na fronteira com o estado de Mecklenburgo-Pomerânia Ocidental.
As autoridades não conseguiram dissipar todas as preocupações dos moradores. A polícia não vai, como era pedido, patrulhar o lugar dia e noite. Agora, a entidade beneficente ASB vai organizar um serviço 24 horas de vigia do abrigo.
Duro teste
Desde então, Sumte é destino de jornalistas alemães e estrangeiros, que fazem reportagem a respeito do grande dilema que tomou conta da região. "Queremos ter uma convivência razoável", diz o comerciante Dirk Hammer, resumindo o clima do povoado. Mas ele também manifesta preocupação com o grande volume de pessoas. A Secretaria do Interior concordou, pelo menos, em reduzir o limite de ocupação, dos originais mil para 750 pessoas.
Meios de comunicação americanos, britânicos, espanhóis e russos pintam a cidade como um espelho do que está acontecendo na Alemanha. A aldeia virou o símbolo da dura prova pela qual a boa vontade dos alemães vem passando. Extremistas de direita também estão opinando em Sumte, criticando o que ocorre na cidade como "terrorismo de asilo".
Mas o revendedor de bicicletas Dirk Hammer, entrevistado nas últimas semanas por jornais de todo o mundo, não se deixa instrumentalizar pelos neonazistas. "Temos de nos diferenciar claramente dessas pessoas", disse ele ao New York Times. Pois a maioria, ao que parece, quer ajudar. Mesmo eles estando conscientes de que, a partir de agora, muita coisa deve mudar em Sumte.
O diretor do albergue de refugiados, Jens Meier, se mostra impressionado com a vontade de ajudar do povo local. "Muitos trabalharam muito duro mesmo", disse ele a uma rádio alemã. Em apenas duas semanas, a entidade assistencial ASB conseguiu transformar o prédio de escritórios vazio em um abrigo para imigrantes vindos da Síria.
Tudo foi conseguido também graças à ajuda de moradores locais. Ainda faltam divisórias entre as camas, e a linha telefônica para o campo de refugiados ainda não foi ativada. Mas as camas estão prontas, doações de roupa estão empilhadas em diversas estantes, e brinquedos estão à disposição na área infantil. Ao todo, 55 postos de trabalho foram criados, segundo a porta-voz da ASB, Annegret Droba. Alguns deles foram ocupados por cidadãos de Sumte.
Agora, só resta que os refugiados cheguem. Os intérpretes estão à disposição para mostrar as acomodações aos recém-chegados. Eles poderão ficar pelo menos durante um ano, que é o tempo que dura o contrato de aluguel do abrigo.