Nova presidente
31 de dezembro de 2010O Brasil que Dilma Rousseff assume em primeiro de janeiro de 2011 acumula feitos impecáveis: uma economia que cresce a 7% ao ano, que tem o maior Produto Interno Bruto (PIB) em 25 anos, que conseguiu tirar 28 milhões de brasileiros da pobreza e colocar outros vários milhões na universidade.
A primeira presidente eleita da história nacional, ex-ministra da Casa Civil, gestora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e herdeira do governo Lula tem sob sua administração uma das economias que mais desperta atenção nos mercados internacionais.
Mas outra profunda conhecedora do Brasil, Marina Silva, vê um enorme desafio à frente do novo governo. "É o de integrar as conquistas já alcançadas na agenda econômica e social, mas ao mesmo tempo corrigir o rumo e os erros praticados ao longo de décadas e séculos, que sempre usou os recursos naturais de uma forma predatória e não-sustentável."
A senadora prefere não apostar se Dilma Rousseff irá priorizar a transição para uma economia de baixo carbono e estender a preocupação ambiental para áreas vitais como educação, saúde e energia. Mas enxerga uma nova mentalidade dos brasileiros.
"A sociedade deu o seu recado. Considerando as circunstâncias da minha candidatura, do projeto que representamos, de termos pouquíssimo tempo de televisão – um minuto e vinte segundos contra sete minutos do Serra e dez minutos da Dilma – de termos pouca estrutura econômica e, ainda assim conseguimos quase 20 milhões de votos... Esse é um sinal muito forte das pessoas dizendo que essa é uma agenda importante para o Brasil."
As expectativas
É o governo de Dilma que assume a missão de regular a exploração da maior reserva de petróleo brasileira, o Pré Sal. Diante do inevitável, a ex-ministra de Meio Ambiente e ex-candidata às eleições presidenciais afirma: "Os recursos do Pré Sal não podem ser utilizados na perspectiva do petróleo pelo petróleo. Tem que ser usada uma boa parte para investir em tecnologia, conhecimento e inovação para superar o uso dessa matriz energética baseada em combustível fóssil".
Um dos homens mais importantes do setor industrial no país, Paulo Skaf, concorda que o investimento em energia é fundamental para o Brasil continuar trilhando o caminho do desenvolvimento. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), representa o setor que gera 42% do PIB do Brasil, e já chefiou diversas delegações de empresários no exterior, a convite do presidente Lula.
"O país ficou mais de 30 anos sem investir em infraestrutura. Temos grande deficiência nos portos, estradas, aeroportos e geração de energia. Dilma já estava participando do governo, foi ministra de Minas e Energia, chefe da Casa Civil, acompanhou o PAC, por isso tem bastante consciência destas prioridades", disse Skaf.
O governo de Dilma terá ainda que lidar com outra expectativa do setor, que são reformas na área tributária e trabalhista, não implantadas pelo presidente Lula. "Sofremos com a grande burocracia, uma carga tributária muito elevada, leis trabalhistas que são muito pesadas e que não beneficiam, muitas vezes, o trabalhador. Os gastos da empresa são muito altos e quem recebe ganha pouco, porque há muitos encargos pelo caminho", lamenta Skaf.
Apesar do crescimento econômico, a indústria brasileira vê uma tarefa urgente para o governo Dilma. "A nossa moeda está sobrevalorizada e isso acaba tirando a competitividade dos nossos produtos. Com o dólar barato, você acaba estimulando a importação, mas não porque a indústria não é competitiva, ou não trabalha direito, ou não tem qualidade. Mas por causa dessa guerra cambial. Por mais inovadora e competitiva que a indústria seja, tudo é insuficiente para enfrentar essa situação", alerta Skaf.
O olhar para o exterior
Susanne Gratius, pesquisadora da Fride, Fundação para Relações Internacionais e Diálogo Exterior, com base em Madri, aposta que o governo de Dilma será focado nos problemas internos, na questão da desigualdade social e problemas do gênero. "Ela vai insistir nas políticas sociais de Lula, e não vai prestar tanta atenção aos temas internacionais como foi com Lula, que foi o presidente que mais viajou na história do Brasil", ressalta.
Os temas mais controversos da recente agenda internacional, como as relações com Irã, devem perder importância, analisa Gratius. "Aqui na Europa, Dilma é vista como a herdeira de Lula, que conseguiu a maioria no Congresso, que voltou com alguns nomes antigos, como Antonio Palocci, manteve outros. Percebe-se essa grande continuidade, mas sem aquele grande carisma marcante de Lula", finaliza.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer