Alemanha
12 de junho de 2008Pitorescas estações ferroviárias são marcos de uma época que não vivenciamos. Além de cartão-postal de pequenas e grandes cidades, seus prédios – construídos durante o século 19 e no começo do século 20 – simbolizaram a ascensão da arquitetura burguesa.
Pequenos ou pomposos, lá trabalhavam vendedores de bilhetes, carregadores de malas, funcionários dos correios ou administradores da estação. O mundo mudou, e a venda de bilhetes em máquinas ou através da internet fez das antigas estações um fardo para a companhia ferroviária alemã Deutsche Bahn (DB).
Estações ferroviárias de cidades maiores transformam-se cada vez mais em shopping centers. O intenso afluxo de passageiros justifica o alto aluguel pago pelos lojistas. Sem a mesma sorte, centenas de terminais obsoletos em pequenas estações espalhadas por toda a Alemanha já foram vendidos ou ainda esperam por um novo dono.
Redução de portfólio
Atualmente, a Deutsche Bahn administra 5,4 mil estações ferroviárias em toda a Alemanha. Três mil destas possuem prédios de terminais de passageiros, sendo a DB ainda proprietária de 1,6 mil, afirmou André Zeug, chefe da DB Station & Service AG, empresa responsável pela administração dos edifícios das estações da companhia ferroviária alemã. A empresa quer reduzir para 600 seu portfólio de edifícios, informou Zeug na revista da Deutsche Bahn, mobil.
Muitos dos prédios estão vazios há muito tempo e ameaçam deteriorar. Por este motivo, a DB pretende vendê-los a prefeituras ou à iniciativa privada. "Podemos e queremos gerenciar somente os prédios que são administrativamente necessários", acresceu o administrador de estações.
Este foi o caso, por exemplo, da sede da estação ferroviária de Schladen. O edifício de 168 anos de idade foi restaurado e transformado em residência por um funcionário da própria Deutsche Bahn. Como o acesso às plataformas e aos trilhos continua a pertencer à empresa, estações como esta ainda funcionam como terminal de passageiros.
Pacotes à venda
Há anos que a Deutsche Bahn vem se desfazendo de prédios obsoletos de terminais, que em muitos casos já foram desativados. Em 2000, a DB vendeu 170 edifícios a prefeituras e municípios. No ano seguinte, desfez-se de 500 prédios e, no início deste ano, outros 490 foram comprados por um mesmo consórcio, formado pelo investidor imobiliário londrino Patron Capital e pelo hamburguês Procom Invest.
Segundo uma porta-voz da Deutsche Bahn, a venda de estações para este mesmo grupo é porque a empresa está satisfeita com a atuação do consórcio. Dos terminais vendidos em 2001, muitos foram reformados e transformados em restaurantes ou lojas.
Patron Capital e Procom Invest se comprometeram, nos próximos cinco anos, a investir 15 milhões de euros nos 490 terminais adquiridos. O futuro das estações ainda é incerto. "Ainda estamos analisando. Algumas serão vendidas, outras reativadas", afirmou uma porta-voz da Procom de Hamburgo.
Uma biblioteca, um museu e um centro turístico
Nem todos estão contentes, no entanto, com a venda das centenas de prédios de terminais de passageiro à iniciativa privada. É o caso, por exemplo, das prefeituras de Kellmünz e Vöhringen, no município de Neu-Ulm, na Baviera.
Segundo o jornal Ausgsburger Allgemeine, as prefeituras das cidades bávaras teriam mostrado interesse pelas estações, mas a Deutsche Bahn não reagiu às solicitações.
Embora uma porta-voz da DB tenha afirmado que foram vendidas à iniciativa privada somente estações pelas quais municípios e prefeituras não teriam mostrado interesse, comentou o jornal, os prédios dos terminais ferroviários de Kellmünz e Vöhringen foram parar nas mãos do consórcio londrino-hamburguês – para desgosto dos prefeitos bávaros.
No estado de Brandemburgo, segundo o diário berlinense Tagesspiegel, a maioria das prefeituras não reagiu ao anúncio de venda dos prédios das estações ferroviárias. Entre as exceções, o jornal mencionou as cidades de Luckenwalde, Ludwigsfelde e Neuruppin, que montaram, respectivamente, uma biblioteca, um museu e um centro turístico.
Trem para todos
Prédios de estações ferroviárias podem ser um problema para prefeituras alemãs. Em entrevista ao Tagesspiegel, o secretário de Infra-estrutura de Brandemburgo, Reinhold Dellmann, afirmou que os municípios não têm verbas para mantê-los. Para Dellmann, em nada adianta oferecê-los a prefeituras sem dinheiro. Como muitos dos terminais têm importância urbanística, porém, o secretário adiantou que um financiamento estatal seria "em princípio" possível.
Como os edifícios dos terminais ferroviários se tornaram obsoletos, plataformas e uma máquina para a venda de bilhetes bastam para o funcionamento de uma estação. Nem mesmo assentos e coberturas pertencem à oferta padrão, afirmou o Tagesspiegel.
Criticando a venda dos edifícios, a Bahn für Alle (Trem para Todos), uma iniciativa contra a privatização da Deutsche Bahn, comentou através de seu porta-voz que "um transporte ferroviário atraente requer uma estação ferroviária com área de espera, informação e serviço. Um tímido abrigo contra chuva e uma máquina de venda de bilhetes muda espantam os clientes".