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50 anos: "A Guiné-Bissau padece da falta de governança"

Iancuba Dansó (Bissau)
22 de setembro de 2023

Os ideais da luta de libertação nacional e de Amílcar Cabral parecem estar distantes da realidade atual, lamentam analistas entrevistados pela DW em Bissau. Como melhorar a situação no país?

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Mercado de Bandim, em Bissau
Foto: DW/B. Darame

A Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) expressa a sua preocupação de que o significado da independência não se tenha traduzido em melhorias concretas para o povo guineense.

"A independência significa criar condições para o bem-estar das populações", assinala Bubacar Turé, vice-presidente da LGDH. Ou seja, a população deve ter acesso a água potável, a energia elétrica e a educação, e o país devia ter um sistema de saúde "em condições de atender às necessidades dos utentes. Além disso, seria preciso que o Estado de Direito e a democracia estivessem consolidados na Guiné-Bissau".

50 anos depois da proclamação da independência, "nenhum desses objetivos foi alcançado", lamenta Bubacar Turé.

Bubacar Turé, vice-presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos
Bubacar Turé: "A independência significa criar condições para o bem-estar das populações"Foto: privat

População mais interventiva

A falta de governança adequada é apontada como uma das principais causas dos problemas do país. Nelvina Barreto, antiga ministra da Agricultura, enfatiza a importância de uma gestão pública eficaz e pede uma sociedade mais ativa na fiscalização dos atos governativos.

"Este país está a padecer da falta de governança. Claramente, temos problemas na gestão da coisa pública, e este assunto deve merecer mais cuidado, não só por parte daqueles que se propõem governar, mas também, e principalmente, por parte da sociedade", comenta.

A sociedade guineense deve pressionar os políticos, sublinha Nelvina Barreto. "É necessário acompanhar de perto e fiscalizar minuciosamente os atos governativos, sendo mais exigente e atuante, além de ter a capacidade de propor alternativas àqueles que estão no poder."

Nelvina Barreto, ex-ministra da Agricultura
Nelvina Barreto: "É necessário fiscalizar minuciosamente os atos governativos"Foto: DW/B. Darame

O futuro da Guiné-Bissau

Mas como se perspetiva a Guiné-Bissau daqui a 50 anos? Será possível impulsionar o país?

Em termos financeiros, o economista Abdulai Djaló acredita que a Guiné-Bissau pode melhorar bastante ao longo das próximas cinco décadas, especialmente se desenvolver indústrias que contribuam para o crescimento das receitas estatais.

"Há vinte anos, tínhamos um grande problema de pagamento dos salários na Guiné-Bissau [aos funcionários públicos], e hoje já se paga regularmente", refere Abdulai Djaló. "Daqui a cinquenta anos, temos uma luz no fundo do túnel, que é algo positivo, porque não vale a pena só depender dos impostos que são cobrados e arrecadados, sem ter indústrias que vão conseguir arrecadar mais receitas para o Estado." 

Do ponto de vista político e social, Nelvina Barreto defende um modelo de "governação partilhada" e uma revisão dos indicadores de saúde e educação, para promover o desenvolvimento do país.

A Guiné-Bissau celebra o 50º aniversário da sua independência em 24 de setembro.

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