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A influência das igrejas nas eleições gerais em Angola

9 de agosto de 2012

Padre angolano fala sobre a aliança existente entre igrejas e partidos políticos durante esta campanha eleitoral em Angola. Raul Tati é claro ao dizer que a igreja não cumpre seu papel na sociedade: O de apenas orientar.

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Foto: KHALED DESOUKI/AFP/Getty Images

Sabe-se que os sobas, autoridades tradicionais em Angola, e igrejas têm grande poder de influência sobre as populações e comunidades nas quais atuam.

A DW África levanta a questão do papel que estas instâncias podem ter sobre os eleitores angolanos que vão às urnas no dia 31 de agosto para escolher os seus representantes legais para um novo governo.

Em entrevista, o padre angolano Raul Tati assume que a igreja deveria ter um papel isento, apenas de orientador na sociedade, mas que pela experiência que tem, a realidade é outra.

DW África: Durante esta campanha eleitoral em Angola verificou-se um esforço por parte dos partidos para garantir o apoio de igrejas e dos sobas, as autoridades tradicionais neste país?

Raul Tati (RT): A igreja tem um papel importantíssimo como o resguardo moral da sociedade. Na prática, porém, o que estamos a notar é que a igreja praticamente não cumpre com o seu papel. A igreja deveria ser apenas parceira do Estado, mas temos notada a igreja aliada a partidos políticos. Por exemplo, com o partido que está no poder, o MPLA (Movimento pela Libertação de Angola).

DW África: De que forma se nota esta parceria de igrejas com o partido no poder?

RT: Não digo parceria. Trata-se de uma aliança. Essas alianças são muito sutis. Mas é possível notar em pronunciamentos dos líderes religiosos que eles são extremante tendenciosos, favorecendo nesta campanha eleitoral o partido que está no poder. E há igrejas onde os pastores já deram orientação aos seus fiéis para votarem no partido no poder.

DW África: Num momento em que se verifica a desvinculação de membros do partido no poder, como é que o apelo da igreja é recebido pela população?

RT: Há expectativa, por parte da população, de que as pessoas ligadas a igreja sejam imparciais. Que enviem aos atores políticos mensagens de tolerância, de respeito. Mas esta não é a mensagem que está a ser repassada. O papel da igreja não corresponde, neste momento, ao papel que deveria exercer na sociedade.

Kirche Angola
"O nome disso é corrupção", resume o Padre ao comentar compra de voto em 2008Foto: picture-alliance/ZB

DW África: Na sua opinião, por que falta posicionamento isento da igreja, nestes casos?

RT: Eu suspeito que haja qualquer compromisso moral, para não dizer compromisso material, das igrejas com o MPLA. Porque o Estado angolano está extremamente partidarizado. Os órgãos de segurança, da polícia, o exército, inclusive os tribunais estão partidarizados. Portanto é preciso ser auto-responsável para assumir grandes casos nesses órgãos.

DW África: Atualmente é possível ver, em vários países do mundo, um certo afastamento das populações em geral dos órgãos religiosos. Quer dizer que as igrejas tentam fazer o possível para se manterem?

RT: Não, em África a religião ainda tem um papel muito importante na sociedade. Não estamos falando de uma sociedade Ocidental onde o secularismo tomou conta da vida das pessoas.

DW África: Quer dizer que um partido político que consiga o apoio de uma igreja ou de uma autoridade tradicional, como um soba, tem mais chances de conseguir o apoio dos eleitores que estão ligados a estas instituições?

RT: O voto deveria ser consciente e livre e não coagido por uma religião ou por uma seita religiosa.

DW África: Na sua opinião, ter apoio de uma igreja ou de um grupo religioso seria uma mais valia para o partido em questão?

RT: Para o partido no poder em Angola já é uma mais valia. Isso é indiscutível. Nas eleições de 2008, durante a campanha eleitoral, foram distribuídos carros e meios financeiros aos pastores de diferentes igrejas que estão sediadas, por exemplo em Cabinda. Isso tudo é para comprar o voto. O nome disso é corrupção.

Autora: Carla Fernandes
Edição: Bettina Riffel / António Rocha

Entrevista com padre Raul Tati para a internet - MP3-Mono

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