Ainda há medo de ler jornais no Huambo
3 de maio de 2013
A província do Huambo, situada no centro-sul de Angola continua a ser considerada uma das piores infractoras da liberdade de expressão e de imprensa. Por exemplo, há cerca de três anos, não podiam ser lidos nem vendidos, nas ruas ou em qualquer local público da cidade do Huambo, jornais privados, por veicularem informações consideradas incómodas ao poder político.
Um indivíduo que fosse encontrado a ler um jornal privado, era imediatamente recolhido à prisão por agentes da Polícia Nacional ou pelos operativos dos serviços secretos, sob alegação de tentarem conspirar contra a segurança do Estado. Devido ao clima de intimidação e desconfiança que se vivia naquela província, os dirigentes do MPLA e do seu governo - e não só - optavam por ler os referidos jornais na calada da noite.
Ainda há medo de comprar e vender jornais
Um habitante do bairro Bela Vista, Domingos Gomes, conta que, em 2006, foi interpelado por indivíduos à paisana que lhe rasgaram um jornal que lia na rua. "Um dia estava a ler o 'Folha 8' e alguns indivíduos, vestidos à civil, interpelaram-me, rasgaram-me o jornal e chamaram-me à atenção para que não o voltasse a ler. Da próxima vez iria preso", recorda.
Januário Castilho, um dos poucos jornaleiros da cidade do Huambo, conta que, apesar de nunca ter sofrido nenhuma agressão física, facto é que, em algumas áreas, ainda é impossível vender jornais privados. "Os nossos clientes, quando passamos nestes sítios, especialmente em locais do governo, ainda têm receio de comprar", afirma, explicando que, outros, "têm medo, dizem que não podemos colocar um jornal que não tenha a cara do Presidente da República".
"Pessoas temem represálias", diz jornalista
Actualmente, apesar da província do Huambo ser considerada uma zona perigosa para o exercício da actividade jornalística, as autoridades tendem a demostrar uma certa abertura. O correspondente da Rádio Despertar, Alberto Malaquias, afirma isso mesmo, mas adianta que o quadro "passou de restrições institucionais para restrições psicológicas".
"As próprias pessoas temem represálias. Não consta que alguém tivesse sido apanhado e levado para a prisão por ter lido um jornal privado mas, depois do tempo em que este direito foi restringido, as pessoas agora sentem-se psicologicamente manietadas quando exercem este direito de estarem informadas".
"Há alguns anos atrás, era impensável haver jornais na rua, porque a própria segurança do Estado não o permitia, confiscava-os. Houve pessoas que foram parar às cadeias por causa da venda de jornais", conta o jornalista da Rádio Despertar. Alberto Malaquias considera que a mudança de comportamento das autoridades tem muito a ver com as dinâmicas e o amadurecimento das sociedades. "Toda essa dinâmica desemboca nessa necessidade de informação", conclui.
Angola é o pior colocado no Índice da Liberdade de Imprensa
De acordo com o Índice de Liberdade de Imprensa,divulgado esta sexta-feira (3.05) pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Angola é o país lusófono com a pior classificação, surgindo na posição 130, apesar de ter subido duas posições em relação à tabela do ano passado.
Brasil, Guiné-Bissau e Cabo Verde são países lusófonos que sofreram uma grande queda. O Brasil passou da 58ª posição em 2010 para o lugar 99 em 2011/2012, ocupando agora a 108ª posição. A Guiné-Bissau caiu drasticamente no Índice da Repórteres Sem Fronteiras, perdendo 17 posições, ocupando o 92º lugar. Mesmo tendo descido 16 posições no índice e ocupando a 25ª posição, Cabo Verde, juntamente com o Gana (30º), são os países africanos melhor colocados na tabela da RSF.
Moçambique ocupa a posição 73 e Timor-Leste também sofreu uma queda, perdendo quatro posições, ocupando o lugar 90. Já Portugal subiu cinco lugares na lista anual dos países com maior liberdade de imprensa, passando para a 28ª posição.