Até quando estarão as ilhas Chagos nas mãos dos britânicos?
22 de novembro de 2019A Assembleia Geral da ONU aprovou de forma não vinculativa, em maio, o fim da administração britânica das ilhas Chagos no oceano Índico. O Reino Unido tinha assim seis meses para atribuir a soberania do território às ilhas Maurícias. Esse prazo termina esta sexta-feira (22.11) e nada faz prever a retirada britânica a curto-prazo.
Olivier Bancoult, natural de Chagos, está cansado da teimosia dos ingleses. "Estamos em cima do dia 22 de novembro. Até agora, o Governo britânico não mostrou boa vontade. Continuamos a pressionar e, ao mesmo tempo, organizámos uma manifestação nas Maurícias em frente ao Consulado Geral Britânico contra a falta de respeito britânico pela resolução da ONU", referiu o ativista em entrevista à DW.
Olivier Bancoult foi obrigado a sair das Chagos quando ainda era criança. Hoje é advogado e luta há anos para que os naturais e descententes possam regressar às ilhas. Atualmente vive nas Maurícias, que também chegaram a fazer parte do arquipélago de Chagos.
Interesses em Chagos
Os governantes britânicos permitiram a independência das Maurícias em 1968. E até 1973, os britânicos forçaram quase dois mil habitantes do arquipélago de Chagos a mudarem-se para as Ilhas Maurícias, Seychelles e Reino Unido. Os ingleses quiseram construir uma base militar na ilha principal, a ilha Diego Garcia.
Entretanto Londres alugou a base aos Estados Unidos até 2036. É uma espécie de ponto de paragem onde aviões de combate se abastecem e de onde partiram para guerras como a do Afeganistão ou Iraque.
"Nós éramos um povo que vivia em paz e harmonia até que o Governo britânico decidiu criar numa das maiores ilhas uma base militar americana e, desde então, muitos de nós fomos deslocados à força e obrigados a exilar-nos. Sofremos por estar longe do nosso local de nascimento", lamenta Olivier Bancoult.
Devolução
Antes da decisão da Assembleia Geral da ONU, em maio, também o Tribunal Internacional de Justiça, com sede em Haia, na Holanda, ditou em fevereiro que o arquipélago deveria ser entregue ao povo maurício, entendendo que o Reino Unido separou ilegalmente as ilhas e por isso deveria devolvê-las.
Ainda assim, o Governo britânico continua a teimar na soberania sobre o arquipélago de Chagos. O advogado inglês Philippe Sands, que dá assessoria às Maurícias no caso das ilhas Chagos, acredita que Londres está relutante em entregar as ilhas devido à atual situação mundial.
"A Grã-Bretanha tem um poder político muito limitado. Perdeu várias resoluções das Nações Unidas e acho que ainda vai demorar para entregar o arquipélago. No final, acabarão por aceitar a decisão da ONU. A questão não é se sim ou se não, mas quando", explica.
Os advogados Phillipe Sands e Olivier Bancoult esperam que as próximas eleições no Reino Unido, em dezembro, tragam mudanças. Isto porque o Partido Trabalhista prometeu reconhecer a decisão do Tribunal Internacional de Justiça.