Ativista angolano Luaty Beirão termina greve de fome
27 de outubro de 2015"Estou inocente do que nos acusam e assumo o fim da minha greve de fome", afirma o ativista angolano Luaty Beirão numa carta assinada pelo próprio a que o portal Rede Angola teve acesso. A notícia foi, depois, confirmada por um advogado do ativista à agência de notícias Lusa.
"Sem resposta quanto ao meu pedido para aguardarmos o julgamento em liberdade, só posso esperar que os responsáveis do nosso País também parem a sua greve humanitária e de justiça. De todos os modos, a máscara já caiu. A vitória já aconteceu", escreve Luaty na carta aos "companheiros de prisão".
Luaty Beirão é um dos 17 jovens acusados de prepararem uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos. 15 jovens estão detidos desde junho - Luaty esteve 36 dias em greve de fome em protesto contra o excesso de prisão preventiva. O ativista, entretanto, internado na Clínica Girassol, pede para que ele e os colegas aguardem em liberdade o julgamento, com início marcado para 16 de novembro.
"Conseguimos muita atenção em volta da nossa causa. Muita dela recai agora sobre mim. Por isso pedi para me juntar a vocês em São Paulo e assim, podermos falar a uma só voz", escreveu Luaty.
É aí, no hospital-prisão de São Paulo, que estão, há mais de uma semana, os outros 14 ativistas detidos.
Solidariedade internacional
A detenção dos ativistas gerou uma onda de apoio internacional, a que se associaram artistas, músicos, escritores, jornalistas e políticos.
Tem havido vigílias e manifestações pacíficas de solidariedade não só em Angola, mas também em Lisboa, Berlim, Londres e Bruxelas. Foram ainda criados grupos de apoio nas redes sociais e circulam petições na internet, em português e inglês, em que se pede a libertação dos ativistas.
A jornalista portuguesa Vanessa Rato é autora de uma dessas petições, que nasceu como uma carta aberta ao ministro português dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, e ao embaixador português em Luanda, João da Câmara.
"A primeira pessoa que aparece na lista é o filósofo José Gil. Dentro da comunidade de intelectuais e artistas está também o escultor Rui Chaves e o realizador Pedro Costa", enumera a jornalista. "Juntaram-se dois líderes partidários da esquerda portuguesa, a Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, e o Rui Tavares, do Livre, além da deputada Inês de Medeiros, do Partido Socialista. Os atores Joaquim de Almeida e Maria de Medeiros também assinaram a petição. E os realizadores Gus Van Sant e Víctor Erice."
Chico Buarque assina petição
A petição já ultrapassou as 13 mil assinaturas; foi entregue ao Ministério dos Negócios Estrangeiros na semana passada, mas continua a circular. No domingo à noite (25.10), o cantor brasileiro Chico Buarque contactou a autora porque queria ver o seu nome na petição e adiantou o motivo:
"Em 1980, o Chico Buarque escreveu uma música muito conhecida chamada 'Morena de Angola'. Fê-lo após uma visita ao país, que estava em guerra, nessa altura. No último verso dessa música, ele diz que essa morena de Angola é uma sua camarada do MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, no poder]", conta a jornalista Vanessa Rato.
"Nós precisamos de liberdade"
Outro dos signatários da petição é o cantor angolano Waldemar Bastos, que, esta segunda-feira (26.10), confessou à DW África a sua tristeza e mágoa.
"É uma situação triste porque temos uma vida que corre risco, que é o Luaty Beirão. Por outro lado, os outros colegas que também estão presos, segundo relatos, às vezes sofrem maus-tratos de um nível desumano. Não estou satisfeito enquanto ser humano, enquanto artista. Nós precisamos, de facto, de liberdade. Sou artista e sou alvo há muitos anos de uma perseguição silenciosa."
A solidariedade estende-se a Cabo Verde. Personalidades locais escreveram uma carta aberta dirigida ao Presidente de Angola, que foi publicada no Facebook.
Da Grécia, o ex-ministro da Economia Yanis Varoufakis juntou-se à luta pela libertação dos ativistas angolanos numa visita recente à cidade portuguesa de Coimbra, posando para uma fotografia com um cartaz da Amnistia Internacional nas mãos: "Livre para protestar, livre para discordar."
A deputada federal brasileira Luiza Erundina apresentou, por sua iniciativa, uma moção de solidariedade e pediu ao presidente da sessão legislativa, que teve lugar em Brasília, que a encaminhasse a José Eduardo dos Santos.