Danda e Tati condenam apoio irrisório a Cabinda no OGE
24 de fevereiro de 2018O deputado independente apoiado pela bancada parlamentar da UNITA, Raul Tati, considera que o sentimento "autonomista em Cabinda está cada vez mais forte e resiliente". Para Raul Tati, a província que produz o petróleo de Angola continua a registar um conflito que classifica como um "passivo da descolonização" que está a arrastar Cabinda.
"Foram cometidos erros atrás de erros para abafar o problema", diz Raul Tati, afirmando que a região precisa de soluções com urgência, tendo em conta a pressão que os cabindenses tem estado a fazer.
O deputado - que é uma das vozes críticas do Governo do MPLA - publicou esta sexta-feira, 23 de fevereiro, o livro "Cabinda - Órfã da descolonização do Ultramar Português".
Em conversa com a DW África, o autor afirma que a obra traz cenários, mais do que soluções. "No ponto de vista da ciência, não traz já uma solução fabricada por mim. No entanto, através das minhas análises, apresento alguns cenários que podem ajudar aqueles que são os decisores políticos a encontrarem uma solução para Cabinda", sublinha.
Sem comentários
Recentemente, o ativista e ex-padre católico Jorge Casimiro Congo assumiu as funções de secretário provincial da Educação, Ciência e Tecnologia de Cabinda, depois de ser nomeado pelo governador Eugénio Laborinho. Uma decisão que gerou críticas em vários sectores da sociedade, que acusam o Padre Congo de estar a deixar de lado a sua luta pela independência de Cabinda.
Após o anúncio, no início de fevereiro, o jornalista e analista angolano Orlando Castro afirmou em entrevista à DW África que "as pessoas com mais capacidade intelectual e política de Cabinda estão a render-se às mordomias que o regime do MPLA lhes vai dando”.
Questionado sobre o assunto, Raul Tati - cuja esposa Maria Carlota Ngombe Victor Tati está agora a dirigir a secretaria provincial da Saúde no governo do MPLA - não comenta: "Prefiro não fazer críticas nem abençoar. Ela é quem deve falar por si”.
Raul Danda: Quando o Governo quiser, fará algo por Cabinda
Já o vice-presidente da UNITA, Raul Danda, que fez a apresentação do livro de Raul Tati,considera que a decisão "seguramente, não terá sido apenas do governador, que deverá ter recebido uma orientação do topo, do Governo do MPLA".
"As razões, não sei. E só o Governo do MPLA poderá responder”, sublinha.
Raul Danda reitera que além das questões "da absorção de algumas pessoas para o Governo ou a solução das prisões e dos tiros”, não viu "mais nada” da parte do Governo em relação a Cabinda. "Quando o Governo quiser fazer alguma coisa em Cabinda, para Cabinda, por Cabinda, há de fazer e nem precisa de publicitar. Desde 1975, julgo que as promessas já não colhem", diz Raul Danda.
O Orçamento Geral do Estado aprovado a 14 de fevereiro, na Assembleia Nacional, e a dotação orçamental para a Cabinda, que produz o maior suporte financeiro de Angola, foi, mais uma vez, irrisório, segundo os deputados Raul Danda e Raul Tati.
"O petróleo de Cabinda parece que nasce na Cidade Alta e morre na Cidade Alta. Uma zona como aquela, que produz, em qualquer parte do mundo, devia merecer uma atenção”, considera o vice-presidente da UNITA.
"É muita pena, porque o tratamento que o governo do MPLA dá a Cabinda é pior que o tratamento que os portugueses davam à Cabinda. E os portugueses é que eram os colonos”, ironiza.
Promessas desmentidas
Já o ex-padre católico, hoje deputado do maior partido da oposição em Angola, Raul Tati, afirma que Cabinda está em décimo sexto lugar na distribuição do orçamento para as províncias.
"Isto vem desmentir as promessas do presidente João Lourenço, em novembro, quando visitou Cabinda, quando realizou a reunião da Comissão Económica do Executivo”, acusa.
"O Presidente disse que ia fazer de Cabinda um caso particular, e o próprio novo governador disse que devia haver um aumento financeiro para Cabinda e Cabinda nunca precisou tanto desse dinheiro. Infelizmente, o Orçamento do Estado, que foi proposta do próprio Executivo, não deu a dotação financeira robusta necessária para a província. E isso contraria as promessas do Presidente”, conclui Raul Tati.