Angola e Brasil terão cabo submarino de fibra ótica
17 de novembro de 2016"Criar uma rota com mais segurança da informação entre os países emergentes" é um dos objetivos do projeto que vai construir o primeiro cabo submarino a cruzar o hemisfério sul; diz em entrevista à DW África Artur Mendes, diretor da Angola Cables. A empresa é responsável pela construção do cabo e parte das maiores empresas de telecomunicações de Angola.
Sua construção ganhou impulso após as denúncias de espionagem pelos EUA a diversos Governos do mundo por meio da Agência Nacional de Segurança (NSA), disse o diretor da empresa angolana. Hoje, os cabos de fibra ótica provenientes do hemisfério sul precisam passar pelas rotas do Atlântico-norte.
O projeto entre Angola e Brasil terá velocidade de 40tbps e 6.165 kilómetros de extensão entre as cidades de Fortaleza (norte do Brasil) e Luanda (capital angolana). O custo estimado é de 149 milhões de euros.
Com ele, a internet deverá ficar mais rápida em África, além de melhorar o panorama das telecomunicações para países emergentes, diz o diretor da Angola Cables: "95% do tráfego de informação pelo mundo passa por cabos submarinos e não por satélites”, esclarece Mendes.
Espionagem
Os EUA e a Europa são as rotas mais utilizadas porque têm maior preponderância em internet. A construção de cabos submarinos alternativos, por isso, ganhou impulso após denúncias do ex-consultor da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA), Edward Snowden, sobre espionagem norte-americanana.
Em 2013, o ex-consultor da NSA revelou milhares de documentos sobre a vigilância em massa de dados privados dos cidadãos pela administração norte-americana.
À DW, o diretor da Angola Cables diz que a segurança ainda é uma preocupação dos Governos e afirma que já "havia vontade política para isso por parte dos governos brasileiro e angolano” ao conceberem o projeto do primeiro cabo submarino a cruzar o Oceanos Atlântico numa rota pelo hemisfério sul.
Cabos submarinos
Atualmente, existem cerca de 278 cabos submarinos em operação pelo mundo, de acordo com dados da empresa de consultoria em telecomunicação TeleGeography. Com os cabos de fibra ótica é possível enviar sinais e informações com alta capacidade e velocidade; explica Thomas Walther, especialista alemão da Universidade Técnica de Darmstadt, na Alemanha.
O especialista concorda que o primeiro cabo a cruzar o Oceano Atlântico por países do hemisfério sul diminuirá a possibilidade de espionagem, mas o risco não é excluído. "Se uma informação trafega por centros próximos de informação pode haver tentativa de se vigiar. Com um cabo entre Brasil e Angola isso ainda seria possível, mas muito mais complicado para a NSA”, diz.
Benefícios económicos
O diretor da Angola Cables, Artur Mendes, acredita que o cabo de fibra ótica trará benefícios económicos; pois, segundo ele, estudos mostram que aumento de cerca de 10 por cento em telecomunicações impacta postivamente em 1,3% o PIB de um país.
Por isso, Angola quer usar sua posição geográfica para levar internet mais rápida aos demais países africanos e com isso mudar o paradigma das telecomunicações no hemisfério sul, diz o diretor de Angola Cables.
A empresa Telecomunicações Brasileiras S.A. (Telebras), por sua vez, declarou que não faz parte desse projeto com Angola desde 2015. Um outro projeto da Angola Cables, o “Projeto Monet”, feito em parceria com as empresas Google, Algar Telecom (Brasil) e a Antel (do Uruguai) ligará São Paulo à Miami.