Comércio informal: Água, sabão e 'Omo' contra a Covid-19
30 de março de 2020Os casos positivos do novo coronavirus em Moçambique já são oito, pelo números oficiais, e Maputo está a ser até ao momento o epicentro da doença no país. O novo coronavírus trouxe a Moçambique o fim de alguns hábitos como os apertos de mãos, beijos e abraços. Mesmo os encontros entre famílias para festas e outros eventos tornaram-se mais raros.
Mas é sobretudo no comércio informal na capital Maputo onde os vendedores têm de saber lidar com as novas formas de higienização mais rigorosa, como recomendam as autoridades sanitárias.
O momento é de alerta. As medidas de contenção são imprescindíveis e exigem o compromisso de todos os cidadãos, particularmente dos vendedores e dos seus clientes, afirmam as autoridades.
Água e detergente às portas das lojas
Num "take away" de refeições no bairro 25 de Junho, na periferia de Maputo, o proprietário Vitor Soto encheu um balde com água e detergente e colocou-o na entrada do seu estabelecimento.
"Todos aqueles que entram lavam as mãos com sabão e também as minhas colaboradoras, aquelas duas meninas, frequentemente têm lavado as mãos", conta Soto à DW África. "Não [usamos] máscaras porque elas podem ser veículos para a transmissão do vírus. Temos que pulverizar as portas e as cadeiras três vezes por dia, porque abrimos até à noite."
É mais frequente o uso de luvas e máscaras
Antes da chegada do coronavírus, os comerciantes informais de Moçambique não evidenciavam tanto rigor com as medidas higiénicas. Mas para Nilza Tomás, vendedeira de refeições no bairro George Dimitrov, também conhecido por Benfica, muita coisa mudou na forma de estar por parte dos comerciantes informais.
"Temos luvas e até máscaras, mas às vezes tiramos porque a máscara não deve permanecer muito tempo connosco. Às vezes temos de tirar e voltar a colocar", afirma. "Trabalhamos com dinheiro e com pessoas, a comunicação física, por isso trabalhamos com luvas e máscaras."
O distanciamento entre as pessoas é outra das regras para prevenir o contágio pelo novo coronavírus. No estabelecimento de Uwal Jerónimo, um comerciante burundês, no bairro 25 de Junho, há uma fila do lado de fora e a regra é atender uma pessoa de cada vez.
"Não quero ver muita gente no interior da minha loja", diz Uwal Jerónimo. "Como pode ver, há muita gente que entra e sai, mas dentro da loja quero apenas uma pessoa. Tenho medo da doença, por isso tenho mesmo de atender um por um."
Regras do distanciamento nem sempre respeitadas
No mercado do Benfica encontramos a Dona Esperança Manuel a vender produtos hortícolas. Ao lado estão também vendedeiras de roupas e outros artigos.
Aqui não se tem respeitado o distanciamento, como na loja de Uwal, mas Esperança Manuel está consciente dos riscos: "Ponho água ali, ponho também sabão líquido e, se não tenho, ponho 'xiguema' [um detergente muito usado em Maputo]. Então, antes de a pessoa me entregar o dinheiro, lavo as mãos e a pessoa também lava. Só depois disso o cliente pode entregar o dinheiro. Mesmo depois de o cliente ter ido, lavo de novo as mãos."
Argentina Zunguene, outra vendedeira de hortícolas no bairro, afirma que reserva uma parte das suas receitas para investir na higiene e para se proteger da doença Covid-19, o que lhe estaria a criar prejuízos: "Terei que lavar as mãos com [o detergente] 'Omo', porque não tenho álcool, que é caro e não tenho dinheiro para tal. Então, só posso lavar as mãos com sabão ou com 'Omo'."