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Réu continua a negar pagamentos da Privinvest

18 de outubro de 2021

António Carlos do Rosário terá recebido mais de 9,4 milhões de euros da Privinvest, mas o ex-diretor da secreta moçambicana voltou a negar esta segunda-feira (18.10) provas apresentadas no julgamento das dívidas ocultas.

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Foto: Romeu da Silva/DW

O réu António Carlos do Rosário teria usado a Txopela Investiments para domiciliar valores indevidos pagos pelo Grupo Privinvest, através de uma empresa designada IRS, apontou esta segunda-feira o Ministério Público de Moçambique durante o julgamento das dívidas ocultas, em Maputo.

Do valor recebido, segundo a acusação, o antigo número dois da secreta moçambicana ordenou a transferência de mais de 900 mil euros a favor da empresa Deco Construções para a compra de frações autónomas num condomínio designado Paraíso de Férias, na marginal de Maputo.

"A ligação que se faz entre a IRS e o Grupo Privinvest não é real. Se há ligação, e pela coincidência de um dos ex-gestores da Privinvest, que porventura faleceu, ter estado ligado à IRS, em termos comerciais não existe nenhuma ligação entre a IRS e a Privinvest", disse o réu.

O ex-diretor da Inteligência Económica do Serviço de Infromações e Segurança do Estado (SISE) negou também ter comprado três imóveis inacabados na zona nobre de Maputo, no valor de mais de 450 mil euros transferidos pela Txopela para a Deco Construções.

Mosambik | António Carlos do Rosário
António Carlos do Rosário à chegada do julgamentoFoto: Romeu da Silva/DW

"Sim, não confirmo. Se a Txopela pagou algo, é da Txopela. É caricato e acho que isso devia ser refletido na ata que, em pleno século XXI, com todos os meios disponíveis de registo de transações financeiras, principalmente que envolvem o dólar. Então, isto já me deixa tranquilo, já me esclarece de que afinal há aqui participação da Paraíso de Férias ou da Deco para construir uma narrativa", argumentou.

Provas 

No entanto, o Ministério Público mostrou provas disso, mas o réu não confirmou e disse ainda que tudo isso faz parte de um teatro para forçar a ideia de que é proprietário da empresa Txopela.

"Se assim for, é mais fácil dizer que a Txopela é que fez. Além de que esta carta foi apresentada no dia 11 de junho de 2020, um ano e quatro meses depois de ter estado preso. Então, não é difícil perceber qual é o clima. Embora só eles é que podem explicar as motivações para dizer essas coisas. Mas eu estando preso um ano e quatro meses, são me imputados esses fatos. Não faz sentido", justificou.

A magistrada do Ministério Público, Ana Sheila, confrontou também o réu com declarações do presidente do Conselho de Administração (PCA) da Txopela, Bilal Sidat, que teria recebido ordens de António Carlos do Rosário para transferir cerca de três milhões de dólares para a imobiliária IMOMOZ.

"Bilal Sidat, na altura PCA da Txopela Investimets, confirmou que transferiu cerca de três milhões de dólares e disse que fez as transferências por ordem do réu António Carlos do Rosário", disse Ana Sheila.

O Ministério Público disse que o representante da IMOMOZ confirmou a receção de dinheiro, mas o António Carlos do Rosário respondeu: "Não me recordo de ter dado esta instrução, mas para reavivar a memória peço o documento para eu ver, pode ser que eu consiga ver em que contexto".

Veja imagens da audição de Ndambi Guebuza

Transferência

O Ministério Público prosseguiu com a pergunta sobre o propósito da transferência pela Txopela de 2,6 milhões de euros para a conta da empresa M. Moçambique Construções, do co-réu Fabião Mabunda, no interesse do casal Leão, também arguidos neste processo.

"Porque é que a Txopela, uma empresa criada pelo SISE no âmbito da criação da Zona Económica Exclusiva, transferiu valores para M.Moçambique Construções e os valores que foram transferidos foram aplicados no interesse do casal Leão, Ângela e Gregório Leão?"

António Carlos do Rosário primeiro explicou sobre a relação SISE e Txopela e, mais tarde, assumiu que fez algumas transferências. Mas depois, exigiu ver documentos para completar a resposta:

- Réu: "A Txopela não foi criada pelo SISE, essa é a primeira questão. Dois, a Txopela pertence a acionistas e a donos. Há valores que eu sei que autorizei por indicação dos acionistas da Txopela, por razões operativas, porque estávamos a precisar".

- MP: "O réu autorizou a quem?"

- Réu: "Ao Bilal porque era meu colaborador na Inteligência Económica. Por isso, quero ver papéis, porque eu lidava com pessoas para muitos assuntos".

O julgamento prossegue nesta terça-feira (19.10) e vai continuar com a audição pelo nono dia do réu António Carlos do Rosário. 

O juiz que está a julgar o caso, Efigénio Baptista, determinou hoje o apuramento das circunstâncias do extravio de 34 páginas da acusação, conforme denunciou o Ministério Público. Enquanto isso, o tribunal vai recorrer a cópias dos autos que podem estar na posse do cartório.

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