Detenções políticas em Angola
1 de setembro de 2012Segundo testemunhas, a maior parte das irregularidades aconteceu em mesas de voto onde os responsáveis haviam sido preparados e escolhidos pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE ), mas não foram credenciados, o que resultou na substituição dos mesmos por pessoas alegadamente desconhecidas.
Preso por protestar
No Bairro do Sambizanga, uma jovem de 22 anos que preferiu o anonimato, contou que foi selecionada para trabalhar nas assembleias de voto, que fez as devidas formações, mas que "no dia que fizeram as credenciais, os nossos nomes não saíram". Segundo ela, houve confusäo em frente à CNE, o que a motivou a ir para casa, uma vez que já tinham colocado outro pessoa para trabalhar em seu lugar.
Além disso, um jovem de 19 anos foi preso um dia antes do escrutínio por ter protestado contra o fato de, também ele, não ter sido credenciado como funcionário da CNE. Segundo os familiares, o jovem está incomunicável na prisäo da Direção Provincial de Investigação Criminal (DPIC).
Os familiares desconhecem em que condições o jovem se encontra e manifestaram preocupacäo ao repórter da DW. Pediram ainda o anonimato por medo de represálias por parte das autoridades angolanas.
Tortura
A DPIC de Luanda recusou à DW qualquer esclarecimento. Mas ao que tudo indica, são, pelo menos, treze detidos que permanecem na unidade prisional para averiguação policial.
À porta do local, Claudio Miguel, um jovem visivelmente preocupado contou à DW que a sua namorada está detida. "Com aquela confusão, ela está aqui desde quinta-feira e não sabemos de nada".
Além disso, foram detidos 11 membros do partido Casa-CE. Entre eles, Rafael Aguiar, o secretário executivo nacional da Juventude Patriótica de Angola. Ele é candidato a deputado à Assembleia Nacional.
Os membros do partido de Abel Chivukuvuku pretendiam protestar pacificamente contra irregularidades no processo eleitoral angolano quando aconteceu um tumulto, com agressões, cães policiais e disparos por parte da polícia.
Até o momento, Rafael Aguiar foi o único do grupo de pessoas levadas à unidade carcerária que foi libertado. "Só fui solto às duas horas da manhä, mas os meus colegas ainda estão lá. Temos relatos de que, de ontem para hoje, foram torturados outra vez", contou à DW.
Após ter deixado a prisão, conta, "a primeira coisa que eu fiz foi me reunir com os principais membros da Juventude Patriótica, o braço juvenil da Casa-CE. Em primeiro lugar, é preciso mantermo-nos destemidos, para que haja mudança".
Autor: António Cascais, de Luanda
Edição: Bettina Riffel/Cristina Krippahl