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ConflitosEtiópia

Dezenas de civis mortos em massacre na Etiópia

mc | Lusa
13 de novembro de 2020

Investigação da ONG revela provas de que dezenas de civis foram mortos em massacre em Tigray, na Etiópia, a 9 de novembro. Forças leais ao partido do poder na região estarão por detrás deste "assassinato em massa".

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Äthiopien I Situation in der Region Tigray
Foto: Eduardo Soteras/AFP/Getty Images

A Amnistia Internacional (AI) denunciou esta quinta-feira (12.10) que houve dezenas de mortos no "massacre" na região etíope de Tigray, onde está em curso uma operação militar.

"A Amnistia Internacional pode confirmar hoje que dezenas, provavelmente centenas, de pessoas foram esfaqueadas ou mortas com machados na cidade de Mai-Kadra (May Cadera) na parte sudoeste da região de Tigray, na Etiópia, na noite de 9 de novembro", afirmou a organização não-governamental (ONG)  em comunicado.

Este é o primeiro número reportado de mortes de civis desde o conflito entre o Governo do primeiro-ministro Abiy Ahmed e a Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF), o partido no poder na região separatista do norte, iniciado em 4 de novembro. 

Embora o número oficial de mortos em Mai-Kadra ainda não seja conhecido, a agência de meios de comunicação AMMA do Governo regional de Amhara avança ainda que houve cerca de 500 vítimas. 

Karte Äthiopien Region Tigray DE

Massacre de civis

Segundo o comunicado da ONG, a AI "examinou fotografias e vídeos horríveis, que mostram corpos espalhados pela cidade ou transportados em macas".

"Confirmamos o massacre de um grande número de civis", que parecem não ter estado de forma alguma "envolvidos na ofensiva militar em curso", disse Deprose Muchena, diretora da organização para a África Oriental e Austral.

A responsável adiantou que o massacre "foi uma tragédia terrível cuja verdadeira extensão só o tempo dirá, já que as comunicações em Tigray continuam desligadas".

Na nota, a AI adianta que também falou com testemunhas, que forneciam alimentos para as Forças de Defesa da Etiópia, que visitaram a cidade imediatamente após o ataque.  

Quem são os responsáveis?

A Amnistia Internacional admitiu, porém, que não conseguiu confirmar quem foram os responsáveis pelos homicídios, mas falou com testemunhas que garantiram que forças leais à TPLF estavam por detrás deste "assassinato em massa". 

O primeiro ministro Abiy Ahmed comunicou esta quinta-feira (12.11) que o Exército federal tinha "libertado" a zona do Tigray Ocidental, uma das seis zonas administrativas da região, para além da "capital" regional Mekele, a leste.

Nobel da Paz vai para primeiro-ministro etíope Ahmed Ali

"A área do Tigray ocidental foi libertada. O exército está a prestar ajuda humanitária nesta área", escreveu na rede social Facebook o primeiro-ministro da Etiópia e prémio Nobel da Paz em 2019.

Num relatório divulgado quarta-feira (11.11), o Gabinete de Assuntos Humanitários da ONU (Ocha) alertou, porém, que "os alimentos, medicamentos e outros materiais de emergência não têm forma de chegar à região" neste momento e disse estar "cada vez mais preocupado com a proteção dos civis apanhados no fogo cruzado" em Tigray.

A ONU estima que dentro de Tigray mais de 2 milhões de residentes estão dependentes da ajuda humanitária. Quase 11 mil etíopes atravessaram a fronteira para o Sudão para fugir aos combates, de acordo com a agência sudanesa de refugiados.

Presidente acusa TPLF de "crueldade"

Abiy Ahmed referiu ainda que o exército tinha tomado o controlo da cidade de Sheraro, na zona administrativa vizinha. Acusando as forças da TPLF de "crueldade", disse que foram ali encontrados "corpos de soldados executados, atados de mãos e pés".

Em Adis Abeba, 242 pessoas acusadas de "conspiração" em benefício da TPLF foram detidas e, nos últimos dias, "18 granadas e bombas, 174 armas de fogo e 4 mil munições" foram apreendidas, disse o chefe da polícia da capital federal, Getu Argaw, à televisão EBC esta quinta-feira.

No seguimento desta campanha militar liderada pelo Governo contra os separatistas do Tigray, o parlamento da Etiópia retirou esta quinta-feira a imunidade a 39 deputados da TPLF, que podem agora ser processados. Entre eles está o presidente do partido e da região de Tigray, Debretsion Gebremichael, de acordo com a agência espanhola de notícias EFE.

Os deputados são acusados de rebelião contra o Governo, atentados contra as Forças Armadas e outros delitos, de acordo com o canal de televisão Fana Broadcasting Corporate, próximo do Governo. A decisão surgiu no mesmo dia em que centenas de pessoas acederam ao pedido do Governo etíope para doar sangue às tropas.

Luta pelo poder

O primeiro-ministro lançou a operação militar a 4 de novembro após acusar as forças da TPLF de terem efetuado um ataque a duas bases militares etíopes, o que o partido nega.

Embora a extensão dos combates e o seu resultado ainda não sejam conhecidos, o exército etíope afirmou ter efetuado vários ataques aéreos a alvos militares, incluindo "depósitos de armas e combustível".

Abiy Ahmed garantiu querer restabelecer "instituições legítimas" em Tigray, cujos líderes têm desafiado o Governo federal há vários meses, para que seja organizada uma eleição considerada "ilegítima" por Addis Abeba.