DJ descendente de família são-tomense faz sucesso em Lisboa.
1 de fevereiro de 2016Jornalistas estrangeiros qualificaram a nova sonoridade, tocada nas noites africanas da capital portuguesa, como “guetto sound of Lisbon”. Rapidamente, os sons do DJ Marfox ultrapassaram as fronteiras portuguesas e conquistaram o público em festivais e clubes europeus e norte-americanos.
Num dos prédios do bairro social da Quinta do Mocho, na periferia de Lisboa, mora a família do DJ Marfox (27), que hoje vive unicamente da música. É de forma inovadora que produz os seus EP’s (extended play, também chamado de miniálbum por muitos artistas), influenciados pelos ritmos africanos do kuduro, kizomba, funaná e tarraxinha.
Como tudo começou na juventude do DJ Marfox
"Eu tentava fazer mixagens com cassetes. Brincava. Eu tinha mais um deck e conseguia fazer uma gravação. Eu punha duas cassetes a tocar, uma por cima da outra, e gravava numa terceira cassete", explica DJ Marfox como começou como jovem a experimentar com a mistura de músicas oriundas de várias origens .
"Há um primo meu que vivia na Charneca, mas frequentava a Portela. Ele não exerce como profissão, mas é DJ", conta DJ Marfox. "Eu vi como ele colocou músicas nas épocas natalícias ou passagens de ano, e tentava perceber como as músicas colavam-se uma na outra, como elas ficavam irmãs. Era uma coisa que me deixava fascinado. A partir daí, foi querer conhecer mais e afirmar-me como DJ."
Toda a inspiração vem da fusão
Anos mais tarde, depois de todo um processo de aprendizagem, DJ Marfox – nome artístico adotado por Marlon Silva – aparece a misturar os ritmos de dança africanos com os sons urbanos dos estilos de música eletrónica do house e techno, sempre com a preocupação de criar uma música original.
"Tive o privilégio de nascer em Lisboa, no bairro Portela, onde pude ouvir um pouco de tudo. Eu tinha amigos indianos, havia portugueses, cabo-verdianos, guineenses", conta DJ Marfox. Foi influenciado por essa mistura de sonoridade, pelas músicas que ouvia na escola, nas rádios. "Isso fez com que, no nosso processo de criação, a gente conseguisse pôr coisas diferentes e criar um som totalmente diferente. Toda a inspiração vem dessa fusão." Cria assim a sua própria identidade, alimentada pela vivência cosmopolita e multicultural da Grande Lisboa.
O primeiro álbum desse novo som afro-português surge em 2006, com a compilação do projeto DJs do Guetto. "Eu sei quem sou" é o seu primeiro EP.
DJ Marfox diz que o kuduro, estilo angolano de música eletrónica, mostrou-lhe o caminho. A música eletrónica, sem vozes, que ele e amigos faziam no quarto, ganha pujança e projeção internacional. E mais tarde, acaba por ser nomeada pela revista norte-americana "Rolling Stone" como "dos ritmos portugueses mais influentes da atualidade".
Nova Iorque catapultou Marfox
Depois de conquistar a Europa, a atuação em Nova Iorque em 2014, eleva o músico para outro patamar, como reconhece o artista: "Tem a ver com o facto de Nova Iorque ser a capital de todas as capitais e se tu vais tocar ao MoMa (Museum of Modern Art): pegar mil pessoas, ter a imprensa e toda a gente focada no que tu acabas de passar - isso catapulta-te!" Para DJ Marfox o momento decisivo foi ter feedback do outro lado do Atlântico: "A partir desse momento as coisas tornam-se mais fáceis. Mas o trabalho é o mesmo e a dedicação continua a ser a mesma."
A agenda de 2016 inclui novo miniálbum
Graças à confiança e ao profissionalismo da produtora "Filho Único" e da editora “Príncipe Discos” (2011), mas também por força da teimosia de DJ Marfox, este estilo musical continua a conquistar palcos nos quatro cantos do mundo. Em 2015, entre outros lugares, esteve no Uganda e na Tanzânia, em África.
A já preenchida agenda de 2016 inclui Reino Unido, Holanda, Bélgica e Alemanha, a par do lançamento de um novo EP, intitulado "Chapa Quente" (Príncipe Discos).
É com modéstia que ele prefere não usar a palavra "sucesso", porque a sua carreira, passo a passo, "leve-leve", como se diz em São Tomé, ainda é um processo de conquista em fase de construção.