Etiópia: Berlim e Paris pedem justiça para vítimas de Tigray
13 de janeiro de 2023As ministras dos Negócios Estrangeiros da França e da Alemanha, Catherine Colonna e Annalena Baerbock, respetivamente, defenderam, em Adis Abeba, que não pode haver reconciliação sem justiça. As governantes visitaram a Etiópia para darem o seu apoio ao acordo de paz assinado no ano passado entre as forças rebeldes da região de Tigray e o Governo do país, e que pretende pôr fim a dois anos de guerra.
Colonna e Baerbock estiveram em Adis Abeba esta quinta e sexta-feira, pouco depois de os rebeldes de Tigray terem anunciado que começaram a entregar as suas armas pesadas, como previa o acordo assinado em novembro.
Numa conferência de imprensa conjunta, a ministra francesa saudou os progressos das últimas semanas: "As hostilidades cessaram, a ajuda conseguiu chegar às regiões que não a tinham recebido […] e começou o desarmamento [por parte dos rebeldes]", disse.
Na mesma altura, Annalena Baerbock apelou ao estabelecimento de um mecanismo de justiça para punir os abusos cometidos durante o conflito.
"Nós, alemães e franceses, sabemos por experiência própria que a reconciliação não acontece da noite para o dia. Sem uma perspetiva de justiça para as vítimas dos crimes, a reconciliação e a paz duradoura não são possíveis", disse.
O vice-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros da Etiópia, Demeke Mekonnen, disse nesta mesma conferência que Adis Abeba iria assegurar que os crimes não ficassem impunes.
Retirada de forças estrangeiras
Na quinta-feira (12.01), o Exército da Etiópia fez saber que as forças da região de Amhara, que apoiaram o Governo durante os dois anos de conflito, se retiraram de uma grande cidade de Tigray.
Para além do desarmamento das forças de Tigray, a retirada de forças estrangeiras do terreno [as forças de Amhara e da Eritreia – que apoiaram o Governo] é condição essencial para o cumprimento do acordo de paz.
Os soldados eritreus começaram a retirar-se de várias grandes cidades em Tigray, incluindo Shire, no final do mês passado. Mas, segundo relatos de residentes às agências noticiosas, ainda não deixaram as cidades por completo.
Os combates começaram em novembro de 2020, quando o primeiro-ministro Abiy Ahmed enviou o Exército para deter os dirigentes no Tigray que contestavam a sua autoridade há meses, acusando-os de terem atacado bases militares federais.
A guerra deslocou mais de dois milhões de etíopes e deixou centenas de milhares à beira da fome, segundo a ONU.